Foram US$ 50 milhões captados em rodadas de investimento até a série D, atraindo grifes do capital como o ABC World Asia, um fundo de private equity focado em impacto afiliado ao Temasek (o fundo soberano de Cingapura) e a fundação Bill e Melinda Gates.

A grande vitrine para a Cropin, uma agtech indiana que combina dados climáticos e de solo com Inteligência Artificial para tentar “prever safras”, quem deu, no entanto, foi o Google.

Com recursos aportados na mais recente rodada, mas, sobretudo com sua tecnologia de IA, a Gemini, a gigante americana turbinou o desempenho das soluções e o crescimento da startup, que agora busca no Brasil a consolidação como uma multinacional com presença relevante nos principais mercados agrícolas do mundo.

Hoje vista como uma das principais apostas do Google na área de agrocultura digital, a companhia afirma já ter atuado com mais de 250 clientes em quase 100 países, somando 30 milhões de acres, ou algo em torno de 12 milhões de hectares, digitalizados em todo globo. Atualmente, a base de dados da empresa abrange 500 culturas e 10 mil variedades que alimentam o Cropin Cloud, plataforma que unifica softwares da agtech.

Globalmente, já atuou com clientes de alimentos como Unilever, Kraft Heinz, PepsiCo e Loacker, digitalizando algumas cadeias de suprimentos. Em empresas de insumo e tradings, atuou com Syngenta e outras empresas do segmento.

Por mais que a empresa já tenha uma presença global, a ideia é aumentar as equipes locais, incluindo no Brasil. Em entrevista ao AgFeed, o vice-presidente da Cropin para as Américas, Barrett Mooney, afirma que a companhia deve aumentar seus times regionais para ficar “mais perto” dos clientes.

Desde 2022 a empresa possui presença com um funcionário no País. Ícaro Póvoa, executivo com cerca de 10 anos de Syngenta e que atua hoje como “Solution Specialist para as Américas” na agtech, foi o primeiro contratado por aqui, trabalhando diretamente de Uberlândia (MG).

Na Syngenta, depois de algumas experiências envolvendo o portfólio de sementes de milho para o Brasil e Argentina, passou a atuar na operação digital da empresa. Foi aí que ele conheceu a Cropin, que prestava serviços para a multinacional.

Póvoa se remete a Mooney e à diretoria das Américas, sediada nos EUA. “Para começarmos a ter mais tração no Brasil e em outros países do continente vamos precisar dessas equipes, isso vai melhorar até o atendimento dos nossos clientes norte-americanos”, conta Mooney.

Barret Mooney é um PHD em engenharia agrícola e biológica que passou seus últimos 15 anos atuando em empresas focadas em agricultura sustentável e no aumento da produtividade.

Em 2012, fundou e foi CEO por alguns anos da startup HydroBio, que utiliza imagens de satélite e dados meteorológicos para otimizar a irrigação. A companhia foi vendida para Climate Corporation, uma subsidiária da Monsanto (que hoje pertence à Bayer).

De 2018 em diante, atuou na AgEagle Aerial Systems, empresa de coleta de imagens via drones que possui capital aberto na Bolsa de Nova Iorque. Por lá, foi CEO e presidente do conselho de administração.

Mooney se juntou à Cropin em 2019, também integrando o conselho, e desde o começo deste ano atua como vice-presidente para as Américas. “Nosso CEO, Krishna Kumar, estava se movimentando para estruturar projetos governamentais na Índia e passou a precisar de mais estrutura comercial ao redor do mundo. Foi aí que me juntei como conselheiro”, diz.

Hoje, o executivo é responsável pela comercialização e vendas nas Américas do Norte e do Sul e tem uma rotina que se divide entre Denver, no estado do Colorado, e viagens pela sua área de atuação, com uma agenda diária que, segundo diz, “começa cedo”, por conta dos fusos horários diferentes dos clientes nos doversos países.

No Brasil, além de Ícaro Póvoa, a empresa recém-contratou um especialista em customer success. “Esse pode ser o início de uma equipe muito maior que precisará ser instalada no Brasil e que também atenderia outros países do continente”, afirmou.

O maior mercado da companhia é na Índia, com 4,3 milhões de hectares digitalizados. Segundo Mooney, o Brasil é o segundo ou terceiro maior país em termos de área, mesmo com a equipe ainda reduzida, o que comprova o potencial de crescimento do mercado. Sem o número concreto, ele afirma que na América Latina inteira são quase 2 milhões de hectares.

A atuação na região e no Brasil acontece principalmente atendendo a empresas multinacionais que possuem grandes operações no País.

Na região, a maior parte dos clientes atua com culturas de larga escala, como milho, soja, cana-de-açúcar e café. Além disso, diz o executivo, a Cropin também já digitalizou culturas de hortifruti, como frutas vermelhas, bananas, batatas, tomate, cebola e alho-poró.

A Cropin passou a atuar no continente sulamericano há quatro anos, quando firmou uma parceria com a equatoriana WaryFoods, que atua com conservas de frutas e vegetais e fabricando alimentos especiais.

“WaryFoods e a Cropin juntas introduzirão a rastreabilidade na agricultura latino-americana e melhorarão a transparência na qualidade dos alimentos no mercado de forma sustentável”, disse um comunicado da Cropin de setembro de 2020.

Hoje a empresa possui outras parcerias no continente e, ara ampliar a atuação no Brasil, busca novos nomes. Segundo Mooney, isso permitiria à empresa espalhar sua aolução pela diversidade de culturas que existem por aqui.

A ideia é combinar os serviços da Cropin com soluções tecnológicas de outros players, como por exemplo, softwares de aplicação personalizada.

“Precisamos que tudo isso funcione em conjunto com o que fazemos no lado da modelagem e no lado do crescimento. Estamos preparados para fazer um trabalho por meio de parcerias localizadas, que nos ajudarão a espalhar a Cropin pela diversidade de estilos culturais da agricultura no Brasil”, afirma.

O brasileiro Ícaro Póvoa ressalta que a tecnologia da Cropin é agnóstica, ou seja, pode digitalizar qualquer tipo de lavoura. Para atingir todas as culturas, ele afirma que a empresa encoraja os produtores a fornecerem dados históricos deles mesmos, para que, combinados com os números que a empresa já tem acesso de outros bancos de dados, possam ter a melhor predição possível.

“A produtividade das variedades das safras plantadas no Cerrado é muito diferente das do Sul. Existem necessidades diferentes em termos de nutrientes. Quando entramos nesse lado técnico, também enfatizamos essa adaptabilidade ou configurabilidade”, afirma Póvoa.

Mooney acredita em um bom caminho para crescer no Brasil. “Além de o País ser um grande produtor de culturas essenciais, contribuindo para o abastecimento global de alimentos, há uma necessidade de criar transparência e visibilidade total dos sistemas alimentares da região”, diz.

Além de olhar para o Brasil, Mooney cita um forte processo de expansão para o México.

De mãos dadas com o Google

Realizada no ano passado, a mais recente rodada de investimentos da Cropin, de Series D, levantou US$ 13,7 milhões, com o objetivo justamente de captar recursos para financiar a expansão da solução para novos países.

O Google foi um dos investidores. Mas o que chamou mais atenção foi que, além de recursos, a companhia americana entrou na jogada com sua tecnologia de IA, a Gemini, hoje utilizada para turbinar o desempenho dos softwraes da Cropin.

Na prática, a agtech indiana converte um ambiente agrícola em um mapa proprietário baseado em grades. Na sequência, fornece inteligência preditiva precisa com base em dados históricos.

A tecnologia da Cropin utiliza essa IA generativa para processar mais de 40 anos de dados climáticos locais e globais para decodificar cada cultura, país por país, e tentar prever como alguma lavoura pode se comportar na safra.

O modelo de negócio da empresa é B2B, mas, para além de empresas do agro, a agtech também atua junto de agências governamentais e instituições financeiras. Além de tentar prever safras futuras, a companhia atua com sensoriamento remoto para combater desperdícios e ajudar na rastreabilidade de cadeias.

Nas últimas duas rodadas de financiamento, a empresa abriu alguns escritórios pelo mundo. Em 2021, inaugurou uma sede em Amsterdã, na Holanda. Na época, a empresa mirava, além da presença no país, também ganhar mercado na África.

“A Holanda é o ponto central para empresas agrícolas, bancos e instituições financeiras que querem impulsionar metas digitais, de sustentabilidade e de inclusão financeira. A agricultura na África também é apoiada por essas organizações sediadas na Europa”, disse o CEO e fundador da empresa, Krishna Kumar, na época.