Vida de startup é sempre desafiadora, mesmo para aquelas mais festejadas pelo mercado, como a californiana Monarch Tractor.

A empresa, que tem entre seus fundadores Carlo Mondavi, neto do lendário Robert Mondavi, pioneiro da vinicultura no Napa Valey, ganhou fama e distinção por produzir o primeiro modelo de trator elétrico e autônomo do mundo.

A Monarch chegou a celebrar uma parceria nessa área com a gigante do setor de máquinas agrícolas CNH – a CNH Ventures é uma das primeiras investidoras da startup, assim como a Trimble, empresa de tecnologia cuja divisão agro foi comprada recentemente pela AGCO.

Mas, mesmo apontada como uma das mais promissoras empresas do segmento, uma espécie de “Tesla dos tratores”, precisava de recursos para manter-se em crescimento, escalar a produção e garantir um bom serviço de pós-venda aos clientes. E isso não estava fácil em épocas de timidez no mundo do venture capital.

Nesta segunda-feira, 22 de julho, entretanto, o CEO da Monarch, Praveen Penmetsa, pode respirar aliviado. A empresa anunciou ter concluído uma rodada Series C em que conseguiu captar US$ 133 milhões de um grupo de investidores liderado por pela Astanor, empresa que faz investimentos de impacto em agtechs e foodtechs, e a HH-CTBC Partnership LP, um fundo afiliado da Foxconn, uma das maiores fabricantes de eletrônicos do mundo e que produz também, de forma terceirizada, os tratores da marca.

Com a nova rodada, saudada pela empresa, em comunicado, como “a maior já realizada por uma empresa do setor de robótica agrícola”, a Monarch soma um total de US$ 22 milhões captados e um valor de mercado estimado em mais de US$ 500 milhões.

Mais do que isso, passa a ter caixa para expandir a produção, inclusive com planos de internacionalização das vendas, hoje em grande parte concentradas nos Estados Unidos.

Atualmente, segundo disse Penmetsa ao site TechCrunch, a empresa tem cerca de 400 tratores entregues. Mas vinha, de acordo com a publicação, enfrentando desafios para manter a operação nos mesmos níveis de anos anteriores.

Assim como suas “concorrentes” no mercado convencional de máquinas, como John Deere, AGCO e a própria CNH, a Monarch teve de fazer demissões – que, segundo Penmetsa, atingiu "menos de" 15% da força de um total entre 250 a 300 trabalhadores da empresa.

As mudanças na startup envolveram sobretudo as áreas de pós-venda e serviços, que, de acordo com o CEO, não estariam acompanhando o ritmo de novas máquinas vendidas mais longe de sua sede e do mercado inicial de vinhedos e fazendas de frutas na Califórnia, chegando inclusive a aeroportos.

"Não tínhamos cobertura suficiente nessas áreas nos primeiros dias", admitiu ele. E a situação ficou mais delicada em função da demora em fechar a nova captação, que se arrastou por mais tempo que o desejado, tornando o segundo semestre de 2023, nas suas palavras, "um momento bastante desafiador para a Monarch".

Desde o início do ano, Penmetsa vem reconstruindo as equipes de serviço e suporte, com o foco em recolocar a Monarch no trilho do crescimento.

"Esta arrecadação de fundos nos permitirá dar confiança aos nossos revendedores de que estamos aqui a longo prazo para apoiar nossos produtos e que eles também devem se juntar ao movimento para levar esses tratores aos agricultores", disse o CEO.

Um MK-V, trator elétrico autônomo da marca, custa em torno de US$ 90 mil. Em entrevista ao AgFeed no ano passado, Carlo Mondavi afirmou que, ao substituir uma máquina a diesel pelo modelo da Monarch, um produtor teria retorno do investimento em dois anos, graças à economia com combustível.

Segundo Mondavi, o primeiro foco da empresa era realmente o mercado americano, mas nos últimos meses houve um avanço nas vendas na Europa e na Nova Zelândia, sempre com foco em culturas de especialidades, como vinhedos, pomares e legumes, “onde há a maior carga de mão de obra e onde temos os maiores desafios”.

Ele também não descartou, na entrevista, a ideia de trazer as máquinas para o Brasil, em um futuro próximo, e disse que já mantinha até contatos com pessoas no País.

“Não somos uma empresa que está meio que sentada e querendo introduzir lentamente nos mercados. Nós realmente somos uma empresa movida a impacto. Então, para nós, impacto significa substituir o maior número possível de tratores a diesel por elétricos e remover a pegada de carbono no mundo todo”, declarou.

Quem sabe agora, com a nova energia da rodada de captação, o Brasil entre no mapa.