Campinas (SP) - Ao longo dos últimos dois dias, lideranças de cerca de 400 cooperativas agrícolas brasileiras estiveram reunidas em Campinas para debater as principais questões que impactam o setor. Temas como reforma tributária, Plano Safra e gestão estiveram em pauta na décima edição do Encontro Nacional das Cooperativas Agropecuárias, realizado anualmente pelo Grupo Conecta.
Somadas as receitas das cooperativas presentes, segundo os organizadores, a conta chega aos R$ 400 bilhões, um indicativo da força do segmento para o agro nacional. As maiores delas estão na Região Sul, que hoje concentra também alguns dos maiores desafios vividos pelo setor.
A Cotrijal, do Rio Grande do Sul, e a Coopavel, do Paraná, representam bem esta força e a o momento especialmente complexo. Ambas enfrentam desafios neste momento, de naturezas diferentes, de acordo com as situações climáticas e econômicas de seus estados e os efeitos em seus negócios. As duas, da mesma forma, mantêm planos para crescer e estratégias para minimizar os impactos dos desafios.
A gaúcha Cotrijal chama mais atenção nesse sentido. Sediada no município de Não-Me-Toque, a cooperativa foi uma, entre tantas, que tiveram cooperados afetados pelas fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o final de abril. Segundo os dados mais recentes da Defesa Civil gaúcha, os prejuízos somados pela agropecuária no Estado superam os R$ 4,4 bilhões.
“Nós passamos por uma situação de calamidade, e as chuvas voltaram a trazer problemas para o estado nos últimos dias. Nosso departamento técnico está visitando os produtores e levantando todos os problemas para ajudar na busca de soluções”, contou, ao AgFeed, Alexandre Nowicki, coordenador técnico da Cotrijal.
Nowicki afirma que uma das principais atuações da Cotrijal neste momento é atuar junto ao poder público para buscar ajuda financeira para os produtores do Rio Grande do Sul, especialmente para as dívidas.
“Nós viemos de dois anos de seca extrema no estado e, agora, esse excesso de chuvas. Nossa ideia é que o governo, especialmente o federal, reestruture essas dívidas com um prazo de oito ou até 10 anos para que os produtores tenham espaço para se reerguer”.
A expectativa de Nowicki é de que o governo aproveite a divulgação do Plano Safra 2024/2025, marcada para a próxima semana, para trazer algum programa especial para o Rio Grande do Sul.
Durante o Encontro, ele pode ouvir do superintendente de Agro da Caixa Econômica Federal, Paulo Sergio, que o governo trabalha para trazer um Plano Safra com melhores condições do que aquelas do período 2023/2024.
“O mercado trabalha com um volume maior e tem uma expectativa de taxa de juros menor. É algo que o governo federal está trabalhando e vai divulgar nos próximos dias”, afirma Paulo Sergio.
No caso específico da Cotrijal, a cooperativa que tem mais de 12 mil associados, e dos 53 municípios em que a organização tem estrutura no Rio Grande do Sul, três foram mais atingidos – Cruz Alta, Colorado e Encruzilhada do Sul.
Ainda assim, segundo Nowicki, os planos da cooperativa incluem chegar a R$ 8,8 bilhões em receitas no ano de 2025. No ano passado, a Cotrijal passou dos R$ 5 bilhões de faturamento.
Paraná com menos trigo
No Paraná, o grande desafio está na cultura de trigo. O presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, afirma que houve uma diminuição de 20% na área plantada do cereal no estado para a safra 2023/2024.
A expectativa de condições climáticas desfavoráveis ao desenvolvimento do cereal desestimulou os produtores associados da cooperativa a investirem no cultivo.
O relatório do ano de 2023 da cooperativa, sediada no município de Cascavel, mostra que a moagem de trigo da Coopavel caiu 14% em relação a 2022, para menos de 140 mil toneladas.
No entanto, Grolli afirma que a diversificação de negócios evita que a cooperativa tenha fortes impactos quando uma atividade tem um momento mais complicado.
“Nós temos como estratégia não deixar que qualquer um dos negócios tenha mais de 25% de participação no nosso faturamento anual”, conta o presidente da Coopavel.
Para este ano, Grolli projeta repetir o faturamento de 2023, com R$ 5,2 bilhões. No ano passado, a Coopavel realizou R$ 264 milhões em investimentos e teve lucro de R$ 66 milhões, ante R$ 103 milhões em 2022.
Em entrevista ao AgFeed em novembro de 2023, Grolli projetava R$ 240 milhões em investimentos para 2024, valor que está mantido pela cooperativa.
Grolli afirma que o estado vai finalizar a safra 2023/2024 com uma boa safra de grãos, mas o grande trunfo para continuar apresentando bons resultados está nas carnes de frango e de suínos.
“O Paraná está entre os maiores exportadores de frango e suínos do país. Isso resulta em valor agregado. Quando se exporta soja, por exemplo, o valor gira em torno dos US$ 450 a tonelada. Na carne de frango, estamos falando em US$ 2.200 por tonelada. Em suínos, US$ 2.800 por tonelada”, explica o presidente da Coopavel.
Neste sentido, o executivo afirma que a alta do dólar pode ajudar os produtores. “Havia um consenso de que o dólar não ficaria muito acima dos R$ 5,00 neste ano e já está acima de R$ 5,40”.
Ele não acredita, no entanto, que possa haver um desequilíbrio de oferta para o mercado interno, com os produtores aproveitando a oportunidade para exportar mais. “O setor vive desse equilíbrio, entre ganhar bem com as exportações, mas também atender a demanda interna”.