Com a forte repercussão sobre as suspeitas envolvendo o leilão de arroz promovido pela Conab, o governo se apressou para minimizar estragos e, com interferência do presidente Lula, segundo ministros, decidiu anular o certame realizado na semana passada.
O AgFeed mostrou que, logo após o leilão, parlamentares denunciaram possíveis irregularidades. Entre elas, o fato de a lista de vencedores incluir empresas como um mini mercado de queijos, do Amapá, e uma produtora de sorvetes, do interior de São Paulo.
Além disso, houve a denúncia de que corretores e empresas relacionadas ao leilão tinham ligação com o atual secretário de Política Agrícola do Ministgério da Agricultura, Neri Geller.
O deputado federal Luciano Zucco começou a coletar assinaturas durante o fim de semana para que fosse criada a CPI do Arroz e os fatos fossem investigados.
Desde ontem, ministros e integrantes do governo Lula discutiam o assunto. No começo da tardxe da terça-feira, 11 de junho, em Brasília, o presidente da Conab, Edegar Pretto, anunciou a decisão de anular o leilão.
“Quando se revelou os participantes do leilão, começaram os questionamentos sobre a capacidade técnica e financeira das empresas para honrar seus compromissos, já que envolve um valor expressivo de dinheiro público. Por isso decidimos anular esse leilão e revisitar os mecanismos que são estabelecidos para estes leilões”, disse o presidente da Conab, aos jornalistas, acompanhando dos ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Pimenta.
O grupo anunciou que não desistiu da ideia de promover o leilão para importar arroz. A ideia é definir um novo modelo em conjunto com a CGU – Controladoria Geral da União, AGU – Advocacia Geral da União e com a Receita Federal.
Edegar Pretto alega que a medida olha “para o elo mais fraco, que são os consumidores”. E diz que a oferta e demanda de arroz ficou ainda mais apertada com as enchentes no Rio Grande do Sul, que responde por 70% da produção nacional, e teve problemas logísticos para levar o produto a outros estados.
“Vamos fazer um novo leilão, quem sabe em outro modelo, para que possa ter garantias e contratar empresas com capacidade técnica e financeira”, afirmou. Ele enfatizou no entanto “que nenhum centavo de dinheiro publico foi gasto”.
Neri Geller pede demissão
O ministro da Agricultura Carlos Fávaro informou que o secretário de Política Agrícola Neri Geller “colocou o cargo a disposição, hoje pela manhã”. Em seguida, disse que “aceitou o pedido de demissão”.
Ele ponderou, no entanto, que o período em que o filho de Geller foi sócio de Robson Luiz de Almeida França, dono de uma das corretoras vencedoras do leilão, não coincide com a época em que este assumiu como secretário do governo. Disse ainda que a empresa em que Marcelo Geller foi sócio não participou do leilão e que “não há fato que desabone”. Porém, Geller teria admitido que a situação “gerou transtorno”.
Favaro também defendeu a necessidade de importar arroz, alegando uma quebra de 500 mil toneladas na safra que já está justa. “É determinação do presidente de que isso não reflita na mesa dos mais humildes”.
Sobre as suspeitas, o ministro declarou “temos hoje a clareza de que precisa ser aperfeiçoado o edital e a forma desse leilão. Vamos conseguir um edital mais moderno, mais eficiente, mais transparente pra atender essa demanda”.