Dar explicações para analistas e investidores é algo corriqueiro na vida de um alto executivo em qualquer grande empresa. Nas corporações do agronegócio, o momento complicado tem exigido ainda mais explicações.
A Lavoro, considerada a maior empresa de distribuição de insumos do Brasil, com ações listadas no mercado norte-americano, passou por este processo, nesta segunda-feira, dia 3. E principalmente por ter apresentado uma piora nas projeções para o ano-safra 2023/24, menos de 30 dias antes do final do período.
Em faturamento total, a companhia revisou o intervalo entre US$ 2 bilhões e US$ 2,3 bilhões para a safra para um total entre US$ 1,8 bilhão e US$ 1,95 bilhão. Em reais, as receitas devem ficar entre R$ 8,9 bilhões e R$ 9,7 bilhões.
No caso do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado, as projeções pioraram ainda mais, saindo de um intervalo entre US$ 80 milhões e US$ 110 milhões para um valor entre US$ 46 milhões e US$ 55 milhões, ou R$ 230 milhões e R$ 280 milhões.
Segundo o CFO da Lavoro, Julian Garrido, a companhia tem dificuldades para detectar a dinâmica dos produtores em um cenário de colheita mais tardia e adiamento de venda de grãos para tentar preços melhores.
“Com isso, estamos com dificuldades de receber dos produtores, muitas vezes adiando vencimentos. Também trabalhamos para entregar os insumos no tempo correto, nessa dinâmica diferente do setor”, afirma Garrido.
Ele afirma que muitas das receitas que poderiam ser contabilizadas no último trimestre da safra 23/24 devem ser realizadas somente no começo da safra 24/25.
O CEO da Lavoro, Ruy Cunha, afirma que os desafios devem continuar grandes na próxima safra. “A rentabilidade do agronegócio deve melhorar, mas com os preços das commodities ainda baixos, produtores devem adiar as compras de insumos”.
Cunha ressalta que o cenário para 24/25 deve ser difícil para toda o segmento de distribuição. “As primeiras projeções são de queda aproximada de 10% no faturamento, com aumento de dois dígitos baixos no volume. Mas ainda é muito cedo para traçar um cenário mais concreto”.
Prejuízo e queda nas margens
No terceiro trimestre da safra 23/24, a Lavoro registrou prejuízo ajustado de R$ 310 milhões, ante perdas pouco superiores a R$ 40 milhões no mesmo trimestre da safra anterior.
O impacto negativo foi causado principalmente pela distribuição no Brasil e na América Latina.
Dos mais de R$ 2,5 bilhões em receitas apuradas pela Lavoro no terceiro trimestre de 23/24, a distribuição responde por mais de R$ 2,4 bilhões, com o Brasil gerando R$ 2,2 bilhões. Em termos de crescimento, o faturamento nas duas regiões ficou praticamente estável.
O Ebitda ajustado total da companhia caiu 86% em um ano, com o resultado da distribuição no Brasil recuando 92%, para menos de R$ 7 milhões. A margem Ebitda total da companhia caiu de 5,1% para 0,7%.
Entre os destaques positivos, a Lavoro informou ter aumentado em 24% as receitas com os insumos de produção própria, mas o segmento é relativamente pequeno na comparação com a atividade de distribuição.
Foram quase R$ 110 milhões em faturamento, e mais de R$ 45 milhões em lucro bruto, avanço anual de 9%. O Ebitda do segmento mais que triplicou, para mais de R$ 9 milhões.
Os biológicos tiveram o melhor desempenho, com crescimento de 53% nas vendas em relação ao terceiro trimestre de 22/23. A Lavoro cita ainda a recém-adquirida Cromo Química, que já contribuiu com 5% do faturamento total do segmento no período.
A companhia afirma que os números no Brasil foram fortemente impactados pela seca provocada pelo fenômeno climático El Niño.
Na Região Sul, que teve um bom volume de chuvas durante o final de 2023 e começo de 2024, as receitas com insumos, que respondem por mais de 80% da receita de varejo, cresceram 9%. Já na região classificada como Norte pela Lavoro, que inclui o Mato Grosso, o faturamento com insumos caiu 17% em um ano.
Juntamente com as receitas, as margens também despencaram na atividade de distribuição no Brasil, de 4% em 22/23 para 0,3% em 23/24.
Na Colômbia, outro país onde a companhia atua na América do Sul, as receitas cresceram 5% no terceiro trimestre de 23/24. No entanto, com as margens caindo de 5,7% para 1,8%, o Ebitda ajustado caiu de R$ 14 milhões para pouco mais de R$ 4,5 milhões.