Joaquim Levy tem uma história tão relevante quanto diversificada. Fez carreira no sistema financeiro, onde continua atuando no Banco Safra. Foi ministro da Fazenda e, depois de sair do cargo, começou uma trajetória internacional, como diretor do Banco Mundial.
Agora, o engenheiro naval de formação tem uma atuação relevante para levar os instrumentos e agentes financeiros globais até projetos de preservação do meio-ambiente e combate às mudanças climáticas. E para ele, o potencial da Amazônia vai além de ser o pulmão do mundo.
Durante o Natural-based Solutions Investment Summit, evento realizado em São Paulo pela Capital for Climate, Levy falou sobre como a agricultura brasileira pode contribuir para o meio-ambiente com bons resultados econômicos.
“Nós temos um potencial muito grande na produção de biocombustíveis, inclusive com culturas que podem ser desenvolvidas na Amazônia, como a palma e a macaúba”, afirmou o ex-ministro em pronunciamento durante o evento.
Levy tem propriedade para falar sobre instrumentos financeiros voltados para a preservação do meio-ambiente.
Ele é vice-presidente e responsável pelo Grupo Consultivo Brasil da Glasgow Finance Alliance for Net Zero, que é uma coalizão global de instituições financeiras que se comprometem com a transição para uma economia de emissão zero de carbono na atmosfera.
O grupo foi formado em 2021 por Mark Carney, embaixador especial da Organização das Nações Unidas (ONU) em Finanças voltadas para Ações Climáticas, em parceria com a presidência da COP 26, realizada naquele ano em Glasgow, no Reino Unido.
A aliança tem mais de 675 instituições financeiras em mais de 50 países como membros e que reúnem mais de US$ 100 trilhões em capital.
Levy ressalta que a palma e a macaúba, por exemplo, vêm de plantas nativas do Brasil e a sua exploração comercial pode andar junto com a preservação da mata nativa e da biodiversidade da Amazônia.
“Temos uma grande oportunidade para o Brasil trazida pela necessidade urgente de descarbonizar as cadeias de produção. A indústria de biocombustíveis pode trazer um desenvolvimento econômico para os estados da Amazônia preservando as áreas nativas”.
Um estudo encomendado pela WWF-Brasil e realizado pela consultoria Atrium Forest em 2022 concluiu que a macaúba é oito vezes mais produtiva que a soja na produção de biodiesel.
O levantamento revela que a macaúba pode produzir 6 mil litros de óleo por hectare, contra 500 litros da soja, com a vantagem de não alterar as características do solo e não reduzir o rendimento das pastagens.
No caso da palma, a área plantada no Brasil passa dos 220 mil hectares, com forte concentração no estado do Pará. Atualmente, mais de 95% da produção é destinada para a indústria alimentícia.
Outro assunto abordado por Levy foi o crédito de carbono, e a necessidade da aprovação da regulação desse mercado no Brasil.
“É necessário que se estude bem essa questão para que a legislação atenda o produtor rural. Muitas vezes, buscar o crédito de carbono não tem um retorno tão bom quanto a própria produção”, afirma o ex-ministro.
Investidores e startups
Em conversa com o AgFeed, Tony Lent, cofundador da Capital for Climate, afirma que o resultado do NBS Investment Summit teve um resultado acima do esperado.
“Nós estávamos com uma expectativa de receber cerca de 230 pessoas hoje (quarta-feira, dia 22), e temos mais de 300 participantes aqui. Aproximadamente 110 são investidores, e mais de 30 são de fora do Brasil”.
Em entrevista dada ao AgFeed em abril, Lent e Marina Cançado, CEO da Converge Capital Conference, revelaram a expectativa de que o evento desta quarta gere US$ 5 bilhões em investimentos voltados a soluções baseadas na natureza, visando uma melhor sinergia entre produção e preservação ambiental, até a COP 30, que acontece no próximo ano em Belém, no Pará.
Durante o evento, Marina Cançado reforçou essa meta, e falou sobre como o Brasil tem liderado os avanços tecnológicos no agronegócio em escala global.
“Estamos em um momento de transição dentro do agronegócio, inclusive com muitos jovens que já têm essa mentalidade de urgência em relação às mudanças climáticas, e que estão muito abertos a esse tipo de solução”, afirma.
Para ela, as enchentes no Rio Grande do Sul estabeleceram um marco para essa urgência, principalmente para os brasileiros. “É a primeira grande catástrofe climática que vivemos por aqui e estamos sentindo que empresários e investidores estão mais cientes que temos pouco tempo para mudar o rumo das coisas”.