Arroz é um dos assuntos mais falados no Brasil neste mês de maio. A tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, que produz 70% do cereal do País, traz preocupações sobre possível desabastecimento e alta nos preços para o consumidor final.
Neste cenário, o cereal é destaque também no resultado das empresas que atuam no segmento. A Adecoagro, empresa multinacional que atua no Brasil, na Argentina e no Uruguai, e que tem como maior atividade a produção de etanol e açúcar, reportou ganhos com o arroz no primeiro trimestre de 2024.
A companhia não está exposta às enchentes no Rio Grande do Sul, já que produz arroz na Argentina e no Uruguai. O CEO Mariano Bosch afirma que ainda não é possível medir exatamente o impacto das perdas no estado para o mercado global.
“A oferta global já está em trajetória recente de queda, e as perdas no Rio Grande do Sul vão impactar ainda mais essa balança no mercado”, afirma o executivo.
No primeiro trimestre, o arroz respondeu por 23% do faturamento bruto da Adecoagro e por 34% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado. A cultura ficou atrás somente da área de Açúcar, Etanol e Energia, que teve 42% e 54% de participação, respectivamente.
O Ebitda ajustado da produção de arroz da Adecoagro foi o que mais cresceu entre todas as áreas, avançando praticamente 2,5 vezes em um ano, de US$ 13,4 milhões para US$ 32,8 milhões.
Isso em um cenário de vendas praticamente estáveis, passando de US$ 55,3 milhões no primeiro trimestre de 23 para US$ 58 milhões neste ano. Em volume, as vendas caíram quase pela metade, de 94 mil toneladas para 52 mil toneladas.
O grande segredo para o resultado está no preço. Em um ano, houve um aumento de 83,5%, de US$ 520 por tonelada para US$ 953 por tonelada.
Além das condições de mercado, Bosch destaca que a estratégia da Adecoagro no arroz envolve o atendimento a clientes específicos, algo que acaba melhorando as margens para a companhia.
Em relação ao mercado, a Índia continua com exportações restritas, e a oferta limitada tanto nos mercados domésticos em que a companhia atua, quanto para exportações, devem continuar impulsionando os preços nos próximos trimestres.
Os analistas do BTG Pactual apontam exatamente esse cenário para traçar um ambiente positivo para os negócios de arroz da Adecoagro, se aproveitando da relação apertada entre oferta e demanda.
No final de 2022, a Adecoagro comprou áreas de arroz da Viterra, unidade de commodities agrícolas da Glencore, na Argentina e no Uruguai. Segundo Bosch, haverá uma expansão da área de arroz.
Mais etanol
Na principal linha de negócio da Adecoagro, a empresa vai começar a alterar o seu mix de produção no segundo semestre. “Vamos ter mais etanol, com a planta de Mato Grosso do Sul produzindo o máximo possível do produto”, disse Renato Pereira, vice-presidente de Negócios de Açúcar, Etanol e Energia.
No primeiro trimestre, a cana esmagada pela Adecoagro produziu 51% de etanol e 49% de açúcar. O cenário para este último produto mudou em relação ao ano passado, com os preços caindo nas últimas semanas. A empresa travou o preço de 57% da sua produção.
O CFO da Adecoagro, Emilio Gnecco, conta que a dinâmica para o etanol está mais promissora. “Em abril, os preços do etanol subiram 30% em relação ao menor patamar deste ano”, conta.
No açúcar, a expectativa é de produção recorde na safra 24/25, acima de 42 milhões de toneladas, segundo a Conab. “Esse volume deixa a oferta acima da demanda, mas os estoques globais ainda estão baixos, o que deve dar certa sustentação para os preços”, diz Pereira.
Já no caso do etanol, a perspectiva é de que a demanda ganhe força, sem que a oferta cresça no mesmo ritmo.
Os analistas do BTG Pactual projetam um 2024 forte para a Adecoagro. “Os volumes de cana estão em expansão, o que ajuda a diluir custos em um ambiente de preços do açúcar que ainda parecem bons e o etanol já está em recuperação”, diz o banco.
Mesmo com toda essa perspectiva, a ação da Adecoagro negociada em Nova York recua 5% nesta sexta-feira. Segundo analistas do mercado americano, o papel está muito abaixo do preço justo.