O CEO da startup Verde, agfintech com foco em destinar crédito para pequenos e médios produtores rurais, tem uma meta para os próximos meses. Lucas Martins revelou ao AgFeed que seu objetivo de curto prazo é dobrar o patrimônio do Fiagro emitido pela empresa, dos atuais R$ 25 milhões para R$ 50 milhões, já no próximo trimestre.

“Estamos captando para trazer mais players ao Fiagro”, afirmou o CEO. O Fiagro é do tipo FIDC, ou seja, atua adquirindo títulos de crédito. E é o principal instrumento de funding para a empresa para crescer em um mercado com enorme potencial.

Segundo Martins, analistas e players do agro estimam que a demanda anual por crédito rural no País beire o R$ 1 trilhão. Enquanto o Plano Safra atende um terço dessa demanda, o restante é atendido no setor privado, seja por operações de barter em tradings, revendas ou no crédito privado pelo mercado de capitais.

É nesse emaranhado de dois terços do mercado, que startups como a Verde têm surgido para encurtar a distância entre os produtores e o dinheiro. A fintech já concedeu mais de R$ 70 milhões a pequenos e médios produtores de soja, milho, café e também pecuaristas.

Nas palavras do CEO, a empresa “dá crédito rápido para pequenos e médios produtores através de uma rede de assessores agro”, num modelo que lembra a rede de agentes autônomos da XP.

Esse assessor, que é o cliente direto da fintech, é um profissional independente, que oferece aos produtores, linhas de crédito de diversas instituições financeiras, incluindo a Verde. Hoje, são cerca de 100 assessores credenciados à agfintech espalhados pelo País.

O CEO estima que esses 100 assessores possuem uma carteira média própria de R$ 100 milhões cada, numa média de 100 produtores por assessor. Martins explica que a Verde faz o papel de gestora dessa rede, orquestrando a cadeia do crédito.

Os R$ 70 milhões concedidos via Verde tiveram origem em cerca de 300 produtores atendidos via esses assessores desde 2021. Apesar disso, já passaram pela plataforma cerca de mil propostas.

A startup seleciona e credencia esse assessor, que já oferece produtos bancários com suas taxas de juros próprias. A ideia é que o crédito da Verde complemente o que esse pequeno ou médio produtor consiga captar com os bancos.

“Os bancos só financiam produtores bons e de bom risco. A questão é que antes, os produtores tinham 100% de suas demandas atendidas por essas instituições, e hoje isso baixou para uns 70%. Sobra esses 30% que nós atendemos, completando o cheque do banco”, explica.

No fim das contas, esse produtor usa a Verde para substituir essas "linhas mais caras" de financiamento, como cheque especial e crédito pessoal, por exemplo.

A empresa nasceu intermediando crédito de terceiros, mas a experiência não foi a ideal, explica Martins. “Quando você não é o dono do dinheiro, você fica vendido nos contratos. Queríamos ser donos da experiência”.

Depois do primeiro ano de operação, a empresa começou a ter seu funding próprio via CPRs, e só no ano passado, criou seu Fiagro.

Segundo Martins, esse Fiagro possibilitou que a estratégia de crédito fosse verticalizada dentro do negócio: “Fazemos todo processo de análise do crédito, desembolso pelo fundo, monitoramento e cobrança com tecnologia 100% própria”, conta.

Além do financiamento via Fiagro, a empresa captou US$ 2,7 milhões, algo em torno de R$ 14 milhões, em uma rodada seed, há alguns meses, que contou com a participação de fundos de venture capital como Y Combinator, Iporanga Ventures e o endowment de universidades.

A Y Combinator é uma das maiores aceleradoras do mundo e a Verde foi a primeira fintech voltada ao agro a receber financiamento da instituição. Participaram ainda mais 22 investidores, como Fernando Ortenblad, cofundador da Webmotors.

O CEO Lucas Martins é um ex-pecuarista que atuou durante quatro anos no Goldman Sachs e que já foi sócio da Stone. Martins contou que foi produtor rural por seis anos após o falecimento de seu pai.

Na experiência, viveu na pele a jornada de um fazendeiro em busca do crédito tradicional, e viu que o processo poderia ser otimizado.

Ele ainda tem como sócios fundadores Jorge Silveira, CTO da startup que acumula passagens por empresas como Decolar.com e Ambev, e Anísio Carossini, que fez toda sua carreira no Banco do Brasil como superintendente de varejo da instituição para o Mato Grosso e no interior de São Paulo. “O Anísio conhece o ‘chão de fábrica’ do agro”, brinca Martins.

Silveira é engenheiro de software por formação e conta que, para além do background em tecnologia, é neto de cafeicultores e sempre esteve em contato com o mundo rural.

O CEO conta que criou a empresa pois notou que os meios de obtenção de crédito do produtor o deixam numa relação menos vantajosa frente os grandes bancos e as indústrias e revendas. “Criamos a empresa com a cabeça de ser uma empresa tech que coloca o produtor rural no centro, trazendo mais força para ele”.

Para além de facilitar a tomada de crédito por parte dos produtores, Martins mantém uma aposta na plataforma digital criada pela Verde. Segundo ele, uma grande dificuldade para qualquer produto que é oferecido dentro do agro é o canal de distribuição. “Tenho rede de assessores e essa tecnologia para oferecer, vejo esse como nosso diferencial”, diz o CEO.

Esse canal pode virar um segundo produto, e Martins afirma que a empresa cogita abrir a plataforma para terceiros, sejam bancos, financeiras ou outros fundos, numa oportunidade de consolidar esse segundo produto, ele acredita.

Um próximo passo é trazer para essa plataforma outros produtos financeiros. Segundo o CEO, o caminho natural está no mercado de seguros.