O Rio Grande do Sul responde por 70% do arroz produzido no Brasil. Portanto, o estado é o produtor mais relevante do cereal que é uma das bases da alimentação dos brasileiros, e qualquer aumento de preço afeta diretamente as pessoas com menores rendas.
Por isso, o governo começou a se movimentar para tentar evitar uma queda na oferta de arroz. Mas para a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), sem minimizar a preocupação com as perdas provocadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, o maior vetor de alta dos preços para os consumidores deve ser o frete.
“Uma viagem entre Santa Maria e Porto Alegre, que geralmente demora cerca de três horas, tem levado 11 horas. Isso dificulta o transporte das cargas e encarece bastante o frete. E ainda não temos uma perspectiva de normalização”, afirma Andressa Silva, diretora executiva da Abiarroz, em entrevista ao AgFeed.
Neste sentido, a indústria acredita que o poder público tem papel importante. “O governo precisa atuar para atenuar os gargalos logísticos e ajudar os produtores do estado a escoar suas cargas”.
O consultor Carlos Cogo, por meio de relatório da Cogo Inteligência em Agronegócio, defende a promoção de leilões de frete para escoamento do arroz com subsídios para regiões desabastecidas.
“Grande parte do acesso às propriedades rurais está afetada. Isso transmite ao varejo a falsa ideia de escassez, gerando demanda acima do normal. E o consumidor procura se estocar com medo de faltar produto”, afirma o consultor.
A estimativa para a produção de arroz no Rio Grande do Sul, na safra 2023/2024, é de 7,5 milhões de toneladas. Segundo as últimas informações, cerca de 80% desse total já havia sido colhida antes das chuvas.
“Sobram aí 1,5 milhão de toneladas a serem colhidos. Não acredito que a perda total será essa, mas já temos informações de silos que tinham arroz armazenados que ficaram embaixo da água”, conta Silva.
Segundo cálculos da Abiarroz, esse total que falta para ser colhido no Rio Grande do Sul corresponde a algo próximo de dois meses do consumo nacional anual de arroz. “No entanto, acreditamos que o volume efetivamente atingido fique mais perto de um mês de consumo”, conta a diretora da entidade.
Antes das enchentes a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) era de uma produção total de 10,5 milhões de toneladas de arroz no país.
Importação e desoneração
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou nesta terça-feira, 7 de maio, um programa de importação de arroz já industrializado pela Conab, para tentar evitar aumento de preços e desabastecimento.
Segundo o ministro Carlos Fávaro, a Medida Provisória editada pelo governo permite a importação de até 1 milhão de toneladas de arroz dos países do Mercosul e, eventualmente, da Bolívia. A Conab está autorizada a fazer um primeiro leilão de 200 mil toneladas e a compra de outros lotes será avaliada de acordo com a necessidade.
Andressa Silva afirma que a indústria não foi consultada sobre a medida e que as empresas já estão se movimentando para importar arroz.
“Nós temos também a opção do Mercosul e da Tailândia, que é uma alternativa mais demorada, mas que vale pelo preço que conseguimos”, afirma Silva.
Carlos Cogo lembra que o Brasil já é um importador de arroz do Mercosul, com um volume que varia entre 1 milhão e 1,4 milhão de toneladas por ano. O País também exporta 1,5 milhão de toneladas por ano.
“As exportações devem cair com força este ano, já que o mercado interno tende a ter preços mais atrativos que o externo. Mesmo que as exportações recuem, o que é natural em anos de quebras de safras, o abastecimento estará muito ajustado em 2024”, projeta Cogo.
Mas, além da compra de arroz pela Conab, tanto a Abiarroz quanto Cogo apontam a desoneração da importação do arroz em casca, antes de ser processado, como uma medida que pode inclusive ter resultados mais efetivos para minimizar os impactos no preço do produto aos consumidores.
“Hoje, sobre a importação de arroz em casca, incide uma taxa de quase 10%. A nossa sugestão é zerar essa taxa, e também o ICMS nas operações interestaduais”, afirma Silva.
A diretora da Abiarroz defende essas medidas como urgentes, mas que outras, como a importação, deveriam ser tomadas depois de um balanço mais preciso das perdas reais no Rio Grande do Sul.
“Corremos o risco de exagerar nessas importações, prejudicar o mercado e desestimular os produtores a plantar arroz na safra 2024/2025”, completa Silva.