É comum ouvir que pais não criam seus filhos para si mesmos, mas para ganhar o mundo. Essa teoria pode ser aplicada perfeitamente no mundo corporativo, quando um grande grupo cria uma startup que soluciona um problema, e acaba trilhando um caminho independente.
Esta já é a história da Motz. Criada em 2020 pela gigante Votorantim Cimentos para facilitar o transporte de seus produtos por meio de um sistema de busca de motoristas autônomos de caminhão, a empresa já tem uma carteira de clientes além da sua controladora, e quer cada vez mais colocar os pés para fora de casa.
“Hoje, cerca de 20% do nosso volume transportado é para clientes externos. Entre 2022 e 2023, nós crescemos 10 vezes fora da Votorantim Cimentos”, afirma André Pimenta, CEO da Motz, em entrevista ao AgFeed.
Deste volume transportado para clientes externos, cerca de três quartos são originados pelo agronegócio, principalmente grãos como milho e soja. O total transportado no ano passado pela Motz foi de 19 milhões de toneladas. Isso significa que, somente para produtores e empresas agrícolas, foram quase 3 milhões de toneladas.
“Nós começamos atuando no Mato Grosso, mas agora temos unidades de expedição em vários estados e regiões importantes para o agronegócio, como Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, Matopiba (região que agrega os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”. No total, a Motz tem cerca de 140 pontos de expedição no País.
Os outros números da Motz também impressionam, principalmente por se tratar ainda de uma startup. No ano passado, as receitas cresceram 13% e somaram R$ 1,1 bilhão. O volume de 19 milhões de toneladas representa um avanço anual de 25%.
A empresa dobrou o número de motoristas cadastrados de um ano para o outro, chegando a 55 mil caminhoneiros autônomos.
“A demanda da plataforma gira em torno de 10 mil motoristas por mês. A nossa base vai se revezando, já que eles não trabalham só para nós e ficam boa parte do tempo indisponíveis, retornando posteriormente” explica Pimenta.
Foram quase 700 mil viagens realizadas em 2023 e, para dar conta do crescimento, o CEO afirma que a Motz vai crescer sua base de funcionários, que hoje está próxima de 150 pessoas.
Planos ambiciosos
Para 2024, a meta da Motz é atingir crescimento de 30% na receita líquida e de 35% na base de motoristas.
Mas olhando para um horizonte mais longo, os planos da companhia são mais ambiciosos, principalmente no que diz respeito à diminuir a dependência da Votorantim nas receitas.
“Em cinco anos, o plano é ter 50% do volume realizado para clientes externos e 50% para a Votorantim Cimentos. É um desafio, porque não vamos parar de crescer com a Votorantim. Teremos que acelerar mais nos outros clientes”, diz Pimenta.
Ele acredita que o agronegócio é o caminho mais natural para conseguir atingir esse objetivo, sem descuidar de outros segmentos, como a indústria.
“Os grãos são um tipo de carga mais ‘simples’ de se transportar, no sentido de não precisar de uma estrutura tão específica. Acontece muito de um motorista ir para o interior levando uma carga da Votorantim e voltar com produtos agrícolas”, conta Pimenta.
“Nós somos um grão de areia no agronegócio e estamos colocando muita força no setor, porque tem um grande potencial a ser explorado pela Motz nos próximos anos”, completa o executivo.
A Motz começou no agronegócio atendendo pequenos produtores, mas, utilizando inclusive o nome Votorantim, a startup começou a negociar com grandes comercializadoras de grãos, o que rapidamente viabilizou um aumento no volume.
Outro caminho para continuar crescendo é atrair motoristas. Para isso, a Motz também utiliza toda a estrutura oferecida pelo Grupo Votorantim para oferecer alguns benefícios.
“Nós temos programas de descontos de combustíveis, financiamento de caminhão pela BV, que é o banco do grupo, e até mesmo plano de saúde, no qual o motorista tem uma estrutura de atendimento de telemedicina e pode incluir a família”.
Até o ano passado, a Motz tinha um orçamento de investimentos que girava em torno dos R$ 12 milhões. “Agora, esse valor vai aumentar. Não podemos revelar, mas vamos investir mais nos próximos anos”, revela o CEO.
Financeiramente, a Motz já consegue fazer caixa e financiar seus investimentos sem precisar de aporte da Votorantim.
“No primeiro ano, a Votorantim colocou dinheiro para iniciar os negócios, mas a partir do segundo ano, já conseguimos andar sozinhos. Agora, não há necessidade nem conversas sobre entrada de capital ou de outros investidores”.