Os incêndios florestais são considerados, por muitos especialistas, como os grandes vilões do aquecimento global. Isso porque além de jogarem muita fumaça para a atmosfera do planeta, ainda destroem ecossistemas que absorviam muito carbono.
Há quem associe, pelo menos em parte, esses incêndios ao agronegócio, principalmente na abertura de novas áreas em florestas, especialmente na Amazônia. Mas os produtores rurais cada vez mais vêm reforçando a mensagem à sociedade de que, a maior prejudicada por incêndios é, justamente, a agropecuária.
A startup umgrauemeio, que desenvolveu um sistema de Inteligência Artificial para preservar e combater incêndios em florestas, tem sua carteira de clientes 100% constituída por empresas do agronegócio.
“Essas empresas acabam perdendo muito com os incêndios, que podem atingir suas áreas. Nós temos clientes que falam em redução de até 90% nas perdas com esse tipo de evento”, conta Rogério Cavalcante, CEO da umgrauemeio, em entrevista ao AgFeed.
Oferecendo esses serviços, a startup cresceu 70% em 2023, e projeta outro salto no faturamento em 2024. “Estamos projetando um avanço entre 40% e 50% para este ano”, diz Cavalcante.
O executivo afirma que o objetivo de sua empresa é primeiro “ganhar o jogo em casa”, não só em faturamento, mas cobrindo a maior área florestal possível dentro do Brasil. De acordo com Cavalcante, a umgrauemeio tem uma área de 17,5 milhões de hectares monitorados.
Desse total, são quase 8 milhões de hectares de áreas nativas e 7,5 milhões de hectares de lavouras, além de pouco mais de 2 milhões de hectares de florestas.
Mas é claro que a empresa, que faz parte do hub Snach, da Sociedade Nacional da Agricultura, no Rio de Janeiro, já está olhando para o mercado externo, enquanto aposta no crescimento local.
“Internacionalizar é muito sedutor. Nós queremos primeiro ampliar nossa atuação aqui no Brasil. Mas esse aporte de capital que acabamos de receber é importante, e nós estamos mirando o mercado externo a partir de 2025. Porém, não descarto uma antecipação desse plano”, afirma Cavalcante.
O aporte citado pelo executivo foi anunciado no final de março, no valor de R$ 18,7 milhões. A rodada foi liderada pela Baraúna Investimentos, que entrou com R$ 9 milhões, e pela Indicator Capital, gestora de Venture Capital, com R$ 7 milhões.
Fabio Iunis de Paula, cofundador da Indicator Capital, conta que teve o primeiro contato com a umgrauemeio cerca de um ano antes da realização do aporte.
“Era uma empresa que ainda precisava de uma maturidade financeira maior para ser investida. Depois desse tempo, conversamos com a Baraúna, e entendemos que era o momento correto”, conta de Paula.
O fundador da gestora afirma que esta é a segunda agritech que recebe investimentos dos fundos da Indicator. A primeira foi a Rumina, empresa que fornece soluções de gestão para pecuaristas.
A Indicator tem dois fundos. O primeiro investiu em 15 startups, das quais quatro foram vendidas para empresas de capital aberto. Exemplos são a Social Miner, vendida para a Locaweb, e a TEVEC, vendida para a Infracommerce.
As duas agtechs estão no segundo fundo, e a umgrauemeio é a 11ª investida pelo Fundo 2 da Indicator. Lançado em maio de 2021, esse fundo já captou no mercado R$ 333 milhões.
Segundo de Paula, a ideia é fazer, com este fundo, entre 20 e 25 investimentos, já que a gestora ainda tem recursos para alocar em startups.
“Nós temos um caminho de atuação nas empresas. O primeiro passo é estabelecer padrões de governança corporativa. Aí ajudamos na conexão com clientes, depois eventuais clientes no exterior, e aí pode haver uma expansão internacional”, conta o fundador da gestora.
No caso da umgrauemeio, o interesse na internacionalização já tem uma base. A empresa venceu o desafio de startups promovido pelo Brazil Climate Summit em 2023, realizado em Nova York, e foi convidada para apresentar sua solução durante a COP 28, em Dubai.
“Nós colocamos câmeras de monitoramento em torres de telecomunicações. Se uma área que precisa de monitoramento não tiver uma torre, nós a implementamos. E esse sistema tem capacidade de chegar a um raio de até 20 quilômetros, que corresponde a 120 mil hectares, girando 360 graus”, conta Cavalcante.
Ele afirma que o sistema de IA da ugrauemeio consegue informar o índice de risco de incêndio para os próximos três dias em uma área.
“Nenhum incêndio começa grande. Só que com um sistema tradicional de câmeras e satélites, a detecção de um foco demora entre três e seis horas. Nós conseguimos detectar em minutos, e já acionar os recursos para combate”, diz o CEO.
Ele afirma que além de economizar com a prevenção ou combate rápido de um foco de incêndios, as empresas acabam tendo menores custos para manutenção de uma equipe de brigada. “Geralmente as empresas colocam vigias em torres”.
Cavalcante afirma que as empresas acabam utilizando o sistema da ugrauemeio para monitorar áreas de preservação de mata nativa.