Desde fevereiro, a Barchart, empresa americana que atua com dados e cotações de commodities, tem estreitado sua relação com o Brasil.
A companhia, que se proclama líder global no segmento, já possui presença no País há mais ou menos dez anos, fornecendo dados por meio de parceiros como a StoneX. Agora, a ideia é ter uma posição mais institucional no País, explicou ao AgFeed Fernando Berardo, que acabou de assumir como chefe de commodities para o Brasil e América Latina da empresa.
Nos EUA, a empresa já atende mais de 600 cooperativas. Além delas, acumula clientes multinacionais de peso como Cargill, ADM, JBS, e também grandes bancos e bolsas de valores globais.
O movimento rumo ao Brasil tem como objetivo “abrasileirar” os serviços da empresa, que englobam dados como cotações, preços e prêmios e também uma plataforma de compra e venda de commodities agrícolas.
Para fazer isso, a ideia é incluir mais dados, análises e notícias em português para os clientes nacionais.
A empresa ainda não tem um escritório no Brasil, mas a ideia, segundo Berardo, que depois de oito anos na StoneX foi recrutrado pela Barchart para ser o responsável pelo desenvolvimento do mercado brasileiro, a empresa deve abrir algumas vagas nos próximos meses.
“A equipe global está olhando para o Brasil no momento, inclusive o CEO Global, Mark Haraburda está envolvido no projeto”, afirmou.
A meta da empresa é atingir um faturamento anual, na área de commodities, de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões por meio da expansão no Brasil. Atualmente, a receita com a operação nacional está em torno de US$ 800 mil.
Berardo também revelou ao AgFeed que a Barchart está para lançar globalmente uma nova funcionalidade com inteligência artificial para os seus clientes.
A ideia é uma espécie de ChatBot que ajude os clientes a procurar dados. Na prática, se alguém quiser saber, por exemplo, o preço médio da soja durante o mês de março de 2011, ele fará essa pergunta no chat e receberá a resposta.
O dado já está na plataforma e, atualmente, se alguém quiser buscar essa informação, terá que baixar dados históricos em Excel e procurar o que deseja manualmente. Segundo Berardo, o programa está em testes e deve ser lançado no segundo semestre de 2024.
“Além de dados de preços e cotações, um cliente pode perguntar sobre clima, histórico e atual. É uma solução que será lançada simultaneamente no mundo todo”, comentou.
Nas palavras de Berardo, a Barchart é uma “empresa do mercado financeiro focada em commodities”. Além de um site com análises e notícias sobre as cotações, possui um terminal de acompanhamento em tempo real, onde se posiciona como um concorrente do Broadcast, CMA e Refinitiv, da Reuters.
Segundo Berardo, o diferencial está justamente nos analistas que produzem conteúdo, que são liderados por Alan Brugler, que atua no setor desde os anos 1990.
Ele estima que 70% das informações podem ser vistas pelos usuários de forma gratuita e o restante, em planos de assinatura.
“Fomos um dos primeiros distribuidores de dados da Bolsa de Chicago lá nos anos 1980 e 1990. Imprimíamos os gráficos com análises técnicas quatro vezes aos dias e levávamos para os brokers na Bolsa, que ficava ao lado da sede, tomarem decisões”, comenta.
No Brasil, além de notícias e análises em português, a ideia é trazer mais cotações locais, de regiões produtivas. Além disso, a plataforma deve inserir mais dados sobre prêmios praticados por aqui.
Segundo Berardo, qualquer produtor ou empresa pode se tornar cliente da Barchart, mas ele cita que o foco está nas cotações e conteúdos sobre grãos como soja, milho, algodão e café, e também no mercado de açúcar de etanol.
Assim como é nos EUA, a empresa busca ter uma atuação forte com as cooperativas por aqui. Segundo o diretor, a Barchart tem algumas funcionalidades específicas para esse tipo de público.
Além de permitir aos cooperados de uma instituição comprar e vender grãos no físico e fazer hedge, a plataforma possui um gerenciamento de risco a que eles têm acesso. Essa tecnologia já está disponível nos EUA e deve chegar em breve por aqui.
“Dentro do terminal, um usuário que possui assinatura, seja de qualquer ramo, pode operar no mercado futuro. No caso das cooperativas, o cooperado pode vender o físico, olhando as cotações pelo terminal, e a mesa da cooperativa já recebe a ordem e faz o hedge. Isso agrega valor e mais facilidades para esse produtor”, afirmou Fernando Berardo.
A empresa não vai deixar de distribuir seus conteúdos em outras plataformas, como já faz com a StoneX, mas quer também vender de forma direta para as empresas do agro. Além de dados da Bolsa de Chicago, a Barchart também acumula números da Conab, Cepea, USDA e órgãos oficiais como o IBGE.
“Sempre tem coisas novas para adicionar. Hoje, por exemplo, ainda não temos cotações de sorgo e, além disso, queremos ter mais praças de soja e milho. Acho que no curto ou médio prazo devemos ter”, afirmou.
Outra funcionalidade, que já existe nos EUA e deve chegar por aqui, são mapas interativos que acompanham a evolução da safra, tanto em produção quanto em preço.