Líder no mercado brasileiro de fertilizantes e uma das maiores produtoras globais de fosfatados e potássio, a Mosaic chega oficialmente ao segmento de biológicos por aqui, com o lançamento, esta semana, dos primeiros produtos nacionais da sua plataforma de bionutrição.

A gigante norte-americana, que tem forte operação no Brasil, China e Índia, escolheu a Show Safra MT, uma das maiores feiras de tecnologia agrícola de Mato Grosso, realizada em Lucas do Rio Verde (MT), para lançar a Mosaic Biosciences Brasil, um pilar da empresa dedicado ao que foi batizado de “bionutrição”, linha de produtos que englobam inoculantes, bioestimulantes e biofertilizantes.

“Estamos bastante entusiasmados, tenho dito para a equipe que vai ser o nosso lançamento da década, porque o nosso objetivo é ser um dos grandes protagonistas neste mercado de bionutrição, onde podemos combinar todos os potenciais do que já trabalhamos no solo, com as plantas e microbioma, trazendo uma pegada sustentável”, afirmou Eduardo Monteiro, Country Manager da Mosaic Fertilizantes, em entrevista ao AgFeed.

Nesta primeira etapa a empresa começa a comercializar quatro produtos, todos inoculantes direcionados aos cultivos de soja e milho. Um deles é a tradicional bactéria utilizada em mais de 90% das lavouras de soja brasileiras, a bradrhizobium, que chega com a marca MBio Brad.

Outro produto, com maior potencial de crescimento, é o MBio Hidro, que promete proteger a lavoura contra o estresse hídrico e térmico, essencial para períodos de chuva irregular e condições climáticas desfavoráveis, o que tem sido frequente nas últimas safras.

Os outros dois produtos também atuam para maximizar o aproveitamento de nitrogênio e fósforo nas plantas e no solo, uma necessidade e tendência crescentes no Brasil por dois motivos: agricultores reduziram o uso do tradicional NPK na época em que os preços explodiram, com a guerra na Ucrânia, além da proposta de práticas mais sustentáveis, que incluem o uso “racional” destes produtos nas lavouras.

“Isso é só o começo, é a ponta do iceberg, estamos desenvolvendo um pipeline muito robusto em inovação, conectando na verdade varias instituições de pesquisa e desenvolvimento, tanto do Brasil, quanto de fora” disse Alexandre Ricardo Alves, diretor da Mosaic Biosciences Brasil, que também participou da entrevista.

O executivo ressaltou que soluções que estão sendo desenvolvidas na matriz, que fica nos Estados Unidos, além de China e Índia, também serão integradas futuramente ao portfolio, que será abastecido ainda por parcerias da empresa aqui no Brasil.

O anúncio da criação da plataforma global Mosaic Biosciences foi feito em agosto do ano passado pela Mosaic Company, que controla a brasileira Mosaic Fertilizantes.

Um dos passos importantes nessa estratégia foi a compra da Plant Response, de soluções biológicas, em 2022, nos Estados Unidos, que acabou dando origem ao que é hoje a plataforma.

Os quatro primeiros produtos que estão sendo lançados no Brasil, porém, não foram originados na Plant Response. Os itens estão sendo produzidos e envasados (com o rótulo da Mosaic) por “três empresas parceiras regionais”, segundo Eduardo Monteiro, destacando que todas passaram por “rígidos controles e testes junto à Embrapa.

O lançamento de biológicos originalmente produzidos dentro da Mosaic deve depender dos processos regulatórios, para a obtenção dos registros. No ano passado Eduardo Monteiro chegou a dizer ao AgFeed que esperava um primeiro lançamento ainda em 2023, mas segundo ele, tratava-se do produto PerformaBio, que acabou sendo registrado no Brasil como fertilizante mineral.

“Nosso pipeline é para os próximos anos, em 2025 e 2026 teremos várias coisas novas e disruptivas”, adiantou o diretor da Mosaic Biosciences Brasil. Segundo ele, além dos 4 já lançados, ainda este ano deve chegar ao mercado um produto de aplicação foliar.

No Brasil a Mosaic também possui uma participação minoritária na Gênica, startup de controle biológico. Na visão de Monteiro, “é um parceiro estratégico importante para ser um grande provedor de produtos para nossa plataforma futura”.

Meta de US$ 100 milhões

O plano na Mosaic é baseado na premissa de que, sendo o maior player do mercado de fertilizantes, poderá combinar sua penetração e capilaridade para dar ritmo ao negócio de biológicos a partir do acesso que já tem junto a grandes canais de distribuição, cooperativas, tradings de grãos e grandes produtores rurais.

“Com nossa capacidade de entrada vamos levar este produto junto e esperamos também trabalhar com o agricultor para que ele possa tomar a decisão em conjunto, olhando não só fertilizante, mas também os bioinsumos, e trabalhando uma questão logística mais ordenada”, afirmou Monteiro.

A expectativa da Mosaic é vender ainda este ano um total de 170 mil litros dos produtos lançados na Show Safra, o que deve gerar uma receita de US 1 milhão ou cerca de R$ 5 milhões.

“Olhando a perspectiva futura, até 2030 , esperamos no Brasil atingir US $ 100 mihões com esse portifólio de produtos”, ressaltou o Country Manager.

A empresa não divulga o investimento envolvido no novo negócio. “Somente a nossa ambição de crescer 100 vezes”, disse o executivo, admitindo que o tamanho dos biológicos em relação a receita da companhia ainda não será tão relevante “mas tem ótimas perspectivas futuras, já que o mercado cresce 30% ao ano”.

Em 2023 a Mosaic Company registrou ebitda ajustado de US$ 2,8 bilhões, queda de 56% em relação ao ano anterior. Já a Mosaic Fertilizantes viu seu ebitda ajustado despencar de US$ 1 bilhão em 2022 para US$ 327 milhões no ano passado.

O foco da Mosaic não inclui o que se chama de “biocontrole”, produtos como biofungicidas e bioinseticidas, mais comuns nas empresas tradicionais de biológicos ou nas grandes multinacionais de defensivos agrícolas.

Alexandre Alves afirmou que, globalmente, o mercado de biológicos movimenta cerca de US$ 10 bilhões, sendo metade biocontrole e metade da área alvo da Mosaic, a bionutrição, onde entram também os inoculantes e condicionadores de solo.

No Brasil os executivos dizem que as estatísticas ainda são divergentes, sendo um mercado pulverizado, com pelo menos 78 empresas e novos produtos sendo registrados a cada dia.

“Apesar de não ter estatísticas firmes no mercado, com essa ambição delimitada para 2030, esperamos ser um dos líderes do mercado de bioinsumos no Brasil e no mundo também”, garantiu Eduardo Monteiro.

O diretor da Mosaic Biosciences Brasil acredita que haverá uma consolidação no mercado, com foco em empresas que forneçam qualidade, agreguem serviços, oferecendo o fertilizante a bionutrição “em um único pacote”.

Sobre a possibilidade de fazer aquisições de empresas menores para atingir a meta ambiciosa, Monteiro disse que “o planejamento inicial engloba crescimento orgânico, mas nada impede que, ao longo dessa jornada, a gente avalie oportunidades que venham a surgir”.

De qualquer forma, ressaltou que a princípio o pipeline segue contando com os parceiros locais e com a capilaridade internacional para oferecer novas soluções em biológicos.

Eduardo Monteiro também comentou o fato de, recentemente, algumas empresas de biológicos também registrarem resultados inferiores ao que vinham apresentando.

“Esse é um mercado que cresce a taxas de 30% a 40% ao ano. Acredito que, em biocontrole, as empresas ainda tinham a situação de excesso de estoque. Mas quando olhamos o nosso tamanho e o segmento que estamos entrando, nossa proposta de trazer valor agregado, falando em trazer um manejo com ganho de 10% em produtividade, tenho certeza que seremos bem sucedidos na nossa estratégia”.

Reduzindo a dependência

Os dois executivos da Mosaic reforçaram que a iniciativa também está relacionada aos esforços do Brasil de reduzir a importação de fertilizantes.

A possibilidade de vir a construir uma fábrica, por enquanto, não está prevista, mas o country manager diz que “é algo que teremos que avaliar, conforme formos vendo o crescimento e o desenvolvimento deste mercado”.

Para Alexandre Alves, “é a primeira vez na história da agricultura que podemos passar a exportar tecnologias, já que temos vários biomas, a maior biofauna do mundo, e podemos explorar microrganismos e plantas”.

A empresa diz ver um potencial de “ter uma produção local importante de bioinsumos”, em função da biodiversidade brasileira e chances de exportação.

“Estes quatro produtos aumentam a absorção e a eficiência do fertilizante, o que, no final do dia acaba contribuindo pra reduzir essa dependência dos importados”, avaliou Monteiro.

Vendas de fertilizantes estão atrasadas

Na avaliação de Eduardo Monteiro, que também é presidente da Anda, entidade que representa a indústria de adubos no Brasil, as entregas destes insumos devem crescer 2% em 2024. Apesar de crescer, será um avanço menos significativo se comparado ao resultado de 2023, quando foram entregues 45,8 milhões de toneladas de adubo, um aumento de 11,6% em relação ao ano anterior.

Neste começo de ano, na cultura da soja, segundo Monteiro, cerca de 40% dos fertilizantes já foram comprados, enquanto pela média histórica, o normal seria ter 60% comercializados.

“A explicação é a rentabilidade do produtor, o preço da soja caiu muito, embora tenha melhorado nas últimas semanas, mas o agricultor é movido pela relação de troca”, disse o executivo.

Ele explicou que, no caso do potássio, os preços globais caíram bastante e “houve uma corrida importante, com o agricultor aproveitando para fixar posições”, por isso neste nutriente o atraso não é significativo, pode ser considerado até à frente do esperado.

Já as compras do fósforo estão muito atrasadas, destacou o country manager da Mosaic. “Hoje no fosforo o Brasil tem um preço muito abaixo dos principais mercados internacionais quando se fala em Ásia e América do Norte, preços que giram em torno de US$ 70 ou US$ 100 (por tonelada). Existe uma perspectiva do produtor brasileiro de que este preço aqui no Brasil se corrija”, ressaltou.

Ele alerta que o ritmo lento das compras pode levar a problemas logísticos, em função de atraso na estrutura portuária e “sem contar com os estoques que tínhamos em anos anteriores”.

O crescimento esperado na demanda por fertilizantes em geral deve ser puxado por culturas como cana, café e citros, segundo Monteiro.

“Na soja, com a recuperação de preços das últimas semanas, já se observa uma melhora no ritmo de comercialização e achamos que conseguimos manter bons números importantes. Mas o gargalo logístico para o fósforo é importante, estamos alertando os nossos clientes, que adquiram de fornecedores confiáveis, aqueles que você sabe que vão entregar na hora certa e momento certo”, acrescentou.