Campinas (SP) - Há alguns anos, a indiana UPL, uma das maiores empresas do mundo em fertilizantes e defensivos, anunciou que pretende, até 2027, fazer sua receita ser dividida em 50% de produtos químicos tradicionais e 50% em produtos considerados “sustentáveis”, como biodefensivos por exemplo.
Enquanto a operação global, que somou mais de US$ 6 bilhões em 2022, ainda vê esses produtos considerados melhores para a natureza ganhando espaço no mercado, no Brasil, o mix é um pouco diferente.
Segundo Giuliano Scalabrin, diretor de negócios para a operação brasileira da Natural Plant Protection (NPP), unidade de negócios do grupo focada na linha sustentável, o mix de receita atual da UPL no Brasil já é composto por 60% por biológicos, de origem natural e soluções diferenciadas, que incluem químicos considerados premium.
A foto do momento ilustra um movimento característico do Brasil, que acaba consumindo com mais intensidade esse tipo de produto do que outros países. Segundo estimativas da CropLife Brasil, entidade que representa companhias do setor de proteção de cultivos, o mercado de biocontrole e produtos biológicos cresce, anualmente, próximo a 50% no Brasil, movimentando quase US$ 1 bilhão por ano.
De acordo com Scalabrin, a UPL mantém hoje, no portfólio local, 13 produtos em sua linha sustentável. Até o começo do ano passado, eram todos focados na nutrição e bioestimulação de plantas. A partir de 2023, contou, a NPP trouxe do portfólio global da UPL produtos para biocontrole.
Um deles, já está no mercado há mais de 50 anos, é o Kasumin, produto natural utilizado para lidar com bactérias em plantas como tomate e trigo.
“Queremos colocar cada vez mais produtos como esse no mercado. Buscamos o equilíbrio do manejo, com os biológicos vindo para complementar e ser associados aos tradicionais”, afirmou Scalabrin em conversa com jornalistas na sede da UPL em Campinas (SP).
A ideia é trazer mais três produtos em 2024 para complementar o portfólio. “Estamos trabalhando para trazer produtos que aumentem a eficiência do nitrogênio, um dos maiores pontos de atenção para o equilíbrio de carbono”, adiantou o diretor.
A NPP foi lançada globalmente em 2021. Scalabrin comanda a unidade local desde abril do ano passado. Antes, trabalhou 11 anos em outras áreas da própria UPL.
“Não queremos atuar com sintéticos. Viemos para esse mercado pensando que precisamos cada vez mais atuar na saúde vegetal e trabalhar na produção de alimentos com sustentabilidade. Temos que reforçar que sustentabilidade não é só ambiental, mas também econômica e das famílias de produtores”, disse.
Scalabrini conta que a maior aderência por esse tipo de produto está ainda nas grandes culturas, como soja e milho, e que os agricultores de grande porte são os que têm adotado o maior volume de produtos naturais.
Segundo o diretor, isso se explica tanto por que eles contam com mais técnicos na equipe quanto por que sabem da importância de promover a sustentabilidade nas fazendas. “Nós, como empresa, queremos promover o portfólio da NPP no mercado todo”, diz.
Ele afirma que na última edição do Show Rural Coopavel, realizado em Cascavel (PR) no começo de fevereiro, conversou até com agricultores de produtos orgânicos interessados em controlar algumas pragas. “Indiquei alguns biológicos”, conta. A ideia é atuar também nesse mercado.
Para conquistar esse pequeno produtor, a NPP e a UPL devem se utilizar de suas parcerias com algumas cooperativas nacionais, bem como os distribuidores que atuam em todo Brasil.
A UPL não divulga dados de mercado ou faturamento por país, mas Scalabrin afirmou que no mercado de bioestimulantes nacional, a NPP tem uma “participação de mercado interessante” e que a ideia é trazer mais soluções para a nutrição das plantas. “Estamos investindo nisso e devemos anunciar algo em breve”, adiantou.
“Vemos que esse mercado de melhor uso dos nutrientes do solo através de microorganismos vai crescer muito. Já trabalhamos tanto na questão de solubilização de fósforo quanto no melhor uso do nitrogênio”, afirma.
O portfólio só não cresce mais rápido por aqui porque, segundo ele, a UPL testa e valida os produtos antes de levar para o consumidor. Esses testes são feitos com parceiros na OpenAg Farm.