Um dos maiores desafios para as empresas do agro está no planejamento que envolve custo do frete, uma variável que nem sempre oscila dentro de uma lógica definida.
Ajudar a solucionar este problema foi o ponto de partida para a startup goFlux, plataforma digital criada em 2018, que conecta empresas do agronegócio com as transportadoras. Mas os sócios da logtech querem ir lá.
Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o CEO da goFlux, Rodrigo Gonçalves disse que a empresa na verdade hoje é uma “logfintech”, ou seja, não oferece apenas soluções de logística mas também quer ampliar seu braço financeiro.
Neste sentido, a empresa acaba de lançar um FIDC (Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios) próprio no valor de R$ 30 milhões, em parceria com Opea e Brave Asset.
O objetivo do FIDC é fazer a antecipação de recebíveis para as transportadoras que já operam na plataforma.
“Criamos esse produto para capital de giro para as transportadoras em 2022 e fomos testando, mas sem um instrumento próprio, e já fizemos R$ 220 milhões”, contou o CEO, sobre o crédito já concedido às empresas de transporte.
A goFlux diz ter viabilizado R$ 7,6 bilhões em transações de frete em 2023. Para este ano, a expectativa é movimentar R$ 12 bilhões e, com isso, conceder R$ 1 bilhão em crédito para antecipação de recebíveis por meio do FIDC, que será ampliado aos poucos, devendo chegar a pelo menos R$ 80 milhões.
“Há muitas fintechs oferecendo crédito para o produtor rural, mas essa é a primeira solução mais digitalizada para empresa de transporte, que é um negócio fundamental para a cadeia como um todo”, afirmou Gonçalves.
Ele explicou que as transportadoras, quando recebem uma carga para operar, imediatamente precisam desembolsar para pagar diárias de caminhoneiros, combustível, pedágio, entre outras despesas. Porém, a maioria delas que presta serviço para grandes indústrias, por exemplo, chega a levar 120 dias para receber pelo transporte realizado. “Isso tem impacto na sustentabilidade financeira das transportadoras”.
O executivo lembra que muitas vinham acessando linhas de capitais de giro em bancos, mas os juros altos acabam encarecendo o custo para o escoamento da produção.
No caso da goFlux, os juros estão “abaixo de 2%”, segundo ele, lembrando que as empresas deste segmento acabam tendo 5% de margem e fica impossível arcar com juros de 3%, como o que vem sendo oferecido no mercado.
Outro diferencial da startup seria a melhor condição de avaliar o risco de crédito das empresas que tomam os empréstimos. Atualmente, a goFlux tem mais de três mil transportadoras cadastradas.
“Nós fizemos toda uma análise de crédito de uma maneira que os bancos não fazem, porque a empresa foi contratada utilizando o serviço da plataforma. Eu conheço a transação, sei quem vai pagar, sei quais capacidades operacionais que tem”, explica Gonçalves.
Ele diz que em todas as operações da plataforma aplica-se Inteligência Artificial (IA), o que possibiliza a taxa de juros mais baixa e permite que o dinheiro chegue a ser liberado no mesmo dia.
Desde 2018, segundo a empresa, já foram feitas 25 mil operações e “até o momento não houve inadimplência”.
Por meio da plataforma é possível fazer a cotação, negociação, contratação e gestão do serviço prestado por terceiros. O foco da startup é no mercado B2B, conectando embarcadores a transportadoras.
Um serviço que vem atraindo os clientes é a “predição de fretes rodoviários”. Segundo o CEO, no atual momento de preços baixos da soja, por exemplo, produtores estão adiando as vendas, o que vai criar um gargalo ainda maior na logística.
“Começamos a ver, por meio dos algoritmos, que o efeito de segurar a soja pode ser pior para o produtor, porque vai ter uma janela menor para o escoamento. Por mais que tenha quebra, ainda vamos ter pelo menos 140 milhões de toneladas de soja. Ainda é muito volume, haverá muito mais demanda por transporte num espaço mais curto, o que pressiona os fretes pra cima. Se o frete ficar mais caro, a trading vai pagar menos, o que pode matar o produtor esse ano”, avaliou Gonçalves.
“Passaporte John Deere”
A goFlux não divulga o faturamento atual, mas diz que a receita cresceu 90% em 2023 na comparação com o ano anterior. Em 2024 espera dobrar ou até duplicar o resultado financeiro.
Para isso, deve seguir investindo em outros produtos de crédito, como linhas para renovação de frota, por exemplo. E também seguir em um dos projetos originais da empresa, que é permitir uma espécie de “hedge de frete”, em que os diferentes lados da negociação poderiam travar valores com antecedência.
No caminho do crescimento estão ainda uma captação de recursos no mercado para ampliar investimentos e uma “vitória” recente, que pode levar seus produtos ao mercado dos Estados Unidos.
A startup foi a única da América Latina selecionada pela gigante mundial de máquinas agrícolas John Deere em um programa de aceleração global da empresa.
Além da brasileira, foram escolhidas mais cinco startups no chamado “Startup Collaborator Program”, que existe desde 2019. O executivo se diz empolgado com o modelo da John Deere de oferecer serviços extras aos seus clientes, como os que são foco da goFlux, não necessariamente uma tecnologia embarcada em uma máquina.
Rodrigo Gonçalves disse ao AgFeed que este programa “será um passo importante no projeto de expansão internacional da goFlux”. O objetivo é desenvolver, junto com a John Deere, soluções para o mercado-alvo da empresa, que são os produtores rurais “das Américas”.
O programa “não envolve equity”, segundo ele, embora nos últimos anos algumas das participantes já tenham sido adquiridas ou mesmo recebido investimentos por parte da John Deere.
O time da logtech vai passar uma semana em Iowa no mês de abril para uma imersão com a montadora americana de máquinas. “Há grande possibilidade de aumentar a geração de negócios não só no Brasil, mas principalmente nos Estados Unidos”, disse o CEO da goFlux, admitindo que já está ansioso para este primeiro contato com a multinacional lá fora.