O futuro CEO do AgroGalaxy, Axel Labourt, disse hoje, em entrevista ao AgFeed, que a decisão de vender parte do negócio de sementes do grupo tem como objetivo acelerar o crescimento da empresa nesse segmento, que oferece margens bem mais atraentes que as obtidas com as vendas de outros insumos em sua rede de lojas.
Falando ao lado do CFO, Eron Martins, ele ressaltou que o movimento de conceder um mandato para que o Banco Santander busque um parceiro estratégico para a área de sementes, confirmado por fato relevante na sexta-feira, 23 de fevereiro, faz parte de um processo de buscar ganhar maior rentabilidade para a empresa e não tem relação com o ajuste feito nos últimos meses, que resultou em um severo corte de despesas, com o fechamento de 19 lojas, o enxugamento de quadros e a eliminação de mais de 80 postos nas suas equipes.
“O que estava planejado, em termos de desenho organizacional e forma de atuação no campo, está feito, a gente já concluiu”, afirmou. “O que estamos falando agora é outra coisa. A estratégia é acelerar o crescimento do portfólio de sementes e especialidades, onde a gente consegue trazer maior valor agregado para o AgroGalaxy”.
De acordo com Labourt, a empresa estudará “opções de associatividade que podem ir desde manter as coisas como elas estão hoje até uma venda de uma porcentagem maior da sementeira”.
“A gente, a princípio, não está a fim de vender a sementeira em sua totalidade”, reforçou. “Acreditamos que o melhor modelo é encontrar um parceiro de negócios que complemente nosso conhecimento de canal e a experiência que temos de saber o que o produtor busca”.
O negócio de sementes é responsável hoje por cerca de 17% das receitas do grupo, superando R$ 1 bilhão em faturamento em doze meses. Nesse período, a empresa comercializou cerca de 2,5 milhões de sacas, sendo 1,5 milhão de produção própria e o restante adquirido de terceiros para revenda.
As sementes de soja, por exemplo, correspondem a cerca de 10% das vendas totais, mas representam mais de 20% da margem bruta do AgroGalaxy. Quase a totalidade das receitas restantes nessa área são obtidas com a venda de sementes de milho.
“Cada vez que vendemos sementes própria, ao invés da produzida por terceiros, conseguimos fazer uso mais eficiente de capital de giro e extrair de 3 a 4 pontos percentuais a mais de margem bruta que as vendas de produtos de terceiros".
Segundo ele, o mercado de sementes continua em consolidação e deve se tornar ainda mais competitivo. “Caso a gente não siga investindo no negócio, existe o risco de nossa participação ficar diluída em termos de presença de mercado”.
Novas guerras
O CFO Eron Martins também fez questão de desvincular a decisão de uma eventual necessidade de trazer mais capital para a companhia. Recentemente, o controlador Aqua Capital, que tem 52% das ações do grupo, anunciou um aporte de R$ 150 milhões no AgroGalaxy, como parte de um processo de capitalização.
“Essa busca de um eventual sócio para o negócio de sementes não é para melhorar o caixa da empresa”, disse Martins. “O trabalho de enxugamento terminou no dia 6 de fevereiro e aqui, internamente, o comparamos como a preparação para uma guerra ou para mais guerras. E a gente já está enxuto o suficiente para enfrentar guerras”.
Segundo o executivo, “o movimento com a sementeira é para ganhar a guerra. Como a sementeira performou super bem em 2023 e ela tem grande capacidade de crescimento, vamos trazer alguém para fazê-la crescer mais rápido”.
Na visão de Martins, mais que o interesse financeiro, a busca de um sócio no segmento pode agregar expertise, conhecimento tecnológico e ganhos adicionais ao negócio como um todo.
“O que uma sociedade pode gerar de riqueza para o AgroGalaxy é muito mais do que vender 20%, 30% ou 60% da empresa, mas a capacidade de poder entregar ao mercado sementes de qualidade com margem diferenciada”.
O CFO não revelou qual a meta financeira da companhia na busca de um parceiro. O impacto no mercado, acredita, pode ser relevante.
“Hoje estamos entre os cinco primeiros nesse segmento e dá para subir duas ou três posições nessa escala com os investimentos que um eventual parceiro venha a fazer com a gente”, disse.
Independentemente do sucesso nessa busca, porém, Axel Labourt informou que a empresa já reservou em seu orçamento recursos para investimentos pontuais na empresa de sementes do grupo.
“Vamos continuar crescendo. Acreditamos que podemos dobrar nossa participação com sementes próprias dentro do canal nos próximos anos. A pergunta que fazemos é: será que conseguimos ir mais rápido?”
Há duas semanas, por exemplo, a AgroGalaxy lançou dois novos híbridos para milho com a marca Boa Nova, utilizada pela empresa para venda nos seus próprios canais – nas vendas através de canais de terceiros, a marca usada é a Sementes Campeã – desenvolvida em conjunto com um fornecedor.
A empresa acredita que a presença menor no mercado de milho do que no de soja oferece maiores oportunidades de crescimento.
“Estamos revisitando todos os fornecedores e entendendo quais são as possibilidades para aumentar essa participação”, disse Labourt. “Tudo o que seja no viés de tentar acelerar nosso crescimento a gente vai tentar fazer”.