Investidores e o alto comando da Bayer têm tido uma relação turbulenta nos últimos anos. Por conta de pressões de um grupo de grandes acionistas, com voz ativa no Conselho de Administração, a empresa substituiu o antigo CEO, Werner Baumann, pelo atual, Bill Anderson, há pouco menos de nove meses.

E deu a ele a missão de recuperá-la de prejuízos financeiros e de reputação, em grande parte causados pela aquisição da companhia americana Monsanto, em 2017.

Anderson incorporou a missão, mas está longe de querer agradar aos investidores. Nesta segunda-feira, 19 de fevereiro, ele anunciou que, para contribuir na busca pelo equilíbrio das contas do conglomerado alemão, vai cortar em 95% o valor dos dividendos a serem pagos aos acionistas.

Com o movimento, o tamanho da fatia do bolo que será retirado dos investidores será de cerca de 2,2 bilhões de euros (o equivalente a R$ 12 bilhões). E Anderson deixou claro que manterá o facão afiado nos próximos dois anos e que planeja “pagar o mínimo legalmente exigido” em 2024 e 2025.

A mudança é drástica. O compromisso da gestão anterior da Bayer previa o pagamento de 30% dos seus lucros principais, o que, segundo analistas, deveria ficar em torno de 6 euros por ação por ano entre 2023 e 2025. O comunicado feito agora indica que os dividendos ficarão em torno de 0,11 euro por ação.

A economia, no entanto, apenas ajudará a amortizar as pesadas dívidas acumuladas pela companhia nos últimos anos. Em setembro passado, a Bayer anunciou que elas somam quase 39 bilhões de euros (mais de R$ 214 bilhões).

Somente com indenizações relacionadas a litígios em torno de efeitos do pesticida RoundUp, a empresa deve desembolsar nos próximos anos cerca de US$ 16 milhões (em torno de R$ 80 bilhões).

E ainda há milhares de ações correndo na justiça americana, em que o produto, desenvolvido pela Monsanto, é apontado como agente causador de câncer. A empresa sempre negou a relação entre a doença e o glifosato, ingrediente ativo do defensivo.

Bill Anderson tem sido duro em outras frentes também. Em novembro passado, ao anunciar o primeiro balanço trimestral de sua gestão, foi explícito ao expressar sua frustração com o resultado obtido.

"Não estamos felizes com o desempenho deste ano”, declarou no comunicado da empresa. “Quase 50 bilhões de euros em receita, mas fluxo de caixa zero simplesmente não é aceitável".

Anunciou que faria, nos próximos meses, severos cortes de pessoal e disse que prepara uma ampla reorganização "para focar apenas no que é essencial e nos livrarmos de todo o resto".

Até o final deste ano, informou em comunicado naquela ocasião, a Bayer “removerá várias camadas de gestão e coordenação”. E disse que proporia um novo sistema de remuneração do Conselho de Administração, que estará, segundo ele, mais alinhado com a evolução de longo prazo do preço das ações da companhia.

Ele prometeu detalhar as medidas no Capital Markets Day, em março, juntamente com a publicação do Relatório Anual e do guidance de 2024. Com os investidores agora também frustrados, o encontro promete ser agitado.