Depois que a Morro Verde teve seu controle acionário adquirido pela Ore Investments, gestora de private equity focada em mineração, o futuro da empresa, que é uma das líderes em produção de fertilizantes fosfatados no Brasil, foi colocado em jogo.
É um futuro que vai muito além da ampliação dos fertilizantes “minerais”, já que o primeiro passo da empresa foi anunciar o projeto de aumentar a capacidade de produção de fosfato das atuais 400 mil toneladas, para 1,5 milhão de toneladas nos próximos anos. A prioridade da Morro Verde, agora, é a diversificação de portfólio.
Em entrevista ao AgFeed, Felipe Holzhacker Alves, fundador da empresa e atual presidente do conselho de administração, revelou que o plano é investir R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos. O objetivo é, além de vender novos produtos, deixar o portfólio "ainda mais verde" e atender os produtores em todas as etapas da cadeia.
Um dos projetos incluídos nesse pipeline é o de produção de amônia verde em uma planta localizada na cidade de Hernandarias, no Paraguai. Segundo Alves, a ideia é produzir 45 mil toneladas anuais do produto nos próximos anos, um volume que seria usado na produção de nitrogenados. “Já analisamos a possibilidade de aumentar essa produção para 200 mil toneladas no futuro”, acrescenta.
O executivo afirma que tem objetivos "de curtíssimo prazo, e o primeiro é diversificar a capacidade produtiva para aumentar a gama de produtos que já fazemos, além de atender culturas que não atendemos ainda”.
Ele cita que, até agora, a Morro Verde tem uma atuação forte na cultura da cana-de-açúcar e na compostagem. Com a expansão do portfólio, Alves vê a empresa pronta para atender produtores de soja, café e do setor de silvicultura.
Essa expansão começa em 2024. A empresa vai lançar seu primeiro produto biológico já nos primeiros meses do ano. Segundo Alves, será um biofertilizante mineral aditivado com microrganismos que estimulam a planta e o solo e melhoram o desempenho da adubação e da produção em si.
“Esse biofertilizante se insere em um movimento que acontece na agricultura regenerativa, que tem tudo a ver com a vida biológica do solo. Um solo saudável é mais resiliente”, afirmou.
O chairman explica que os fertilizantes da Morro Verde têm uma pegada de carbono 95% menor que os outros fosfatados do mercado. A meta da empresa era se tornar carbono neutro até 2025, mas ele admite a possibilidade de adiantar em um ano essa meta, e cumpri-la já em 2024.
A ideia com essa meta é gerar para os clientes da Morro Verde uma espécie de cashback de crédito de carbono. “Estimamos que para a usina de cana, a depender do manejo, entre 20% e 50% que ele gasta com nossos produtos poderia virar um retorno através de CBIOs”, comentou.
Além do biológico, a Morro Verde também aposta em fertilizantes mistos, que juntem, por exemplo, fósforo e enxofre, ou fósforo e potássio. A ideia é aproveitar sua posição atual nos organominerais para conquistar esses novos mercados.
“Operamos num negócio 100% verticalizado, já que temos mina e indústria. Como temos essa capilaridade nos fosfatados e no calcário, plugar esses produtos verdes no portfólio é simples. Ofereceremos mais uma solução para ser um one stop shop, queremos ser referência nos macronutrientes”, disse.
Uma semana em Dubai
Felipe Holzhacker Alves falou com o AgFeed alguns dias após ter voltado de Dubai, onde participou da COP 28. Por lá, a grande discussão do evento estava ligada à segurança alimentar e a transição energética.
Representando sua área de atuação, participou de conversas que colocavam os fertilizantes em foco. “A COP marca um momento emblemático onde a agricultura regenerativa finca uma bandeira no desenvolvimento da agricultura mundial e deixa de ser um assunto de nicho. O Brasil tem que ser líder desse movimento”, afirma.
Questionado se participou de rodadas de negócio, ele não entrou em detalhes, mas disse que após a transação com a Ore, a empresa não busca “de forma alguma” nenhuma transação ou M&A no momento.
O que a Morro Verde está de fato fazendo, segundo ele, é conversando com grandes empresas da cadeia agropecuária para criar uma rede de parceiros a fim de oferecer soluções completas e sustentáveis para o produtor rural, independente do seu tamanho.
“Se uma Nestlé ou uma Cargill quiser que toda sua produção de soja seja sustentável, queremos que pensem na Morro Verde como um parceiro de outsourcing de nutrição vegetal. Vamos criar essa rede, e ainda não definimos se será uma associação, instituto ou um clube”, disse.
A história que une Denver, Minas Gerais e Paraguai
Felipe é paulista, e se formou em engenharia de minas nos Estados Unidos, na Colorado School of Mines. Saiu do Brasil para cursar faculdade lá fora por jogar basquete, onde conciliou a engenharia e o esporte.
Após um mestrado, foi trabalhar primeiro no escritório de Denver, nos EUA, do banco sul-africano Rand Merchant Bank. Ele atuava com foco nos investimentos em mineração, na América Latina e na África. Após cinco anos no banco, voltou ao Brasil em 2009, onde viu uma oportunidade de negócio.
Felipe Alves criou a Frontera Minerals, que tinha como objetivo “desenvolver ativos minerais no país”. “Desenvolver não envolveu só dinheiro, e sim um arcabouço de gestão e governança. O capital tem que vir com isso”, ressaltou.
A ideia de se aproximar do agro veio, segundo ele, pela dinâmica brasileira do setor. Mas não só isso. Ele se casou com uma pecuarista paraguaia.
Juntos, os dois decidiram investir no mercado de fertilizantes, “o campo comum entre a mineração e o agro”. Após trinta oportunidades mapeadas, descobriram o ativo da mina da Morro Verde em 2013, localizada em Pratápolis, em Minas Gerais.
A mina fica numa posição estratégica, no centro da maior região produtora de café do mundo, o cerrado mineiro, e próximo da produção de cana de Ribeirão Preto. Após anos trabalhando para obter as licenças, em 2016 a empresa passou a atuar de forma oficial.
Já nos primeiros dias da Morro Verde, o empresário diz que viu uma dinâmica retrógrada na produção de fertilizantes no agro mundial. Ao mesmo tempo que a agricultura mudou muito nos últimos 50 anos, a forma de se produzir esses adubos ainda era do período da primeira guerra mundial, no caso dos fosfatados, com a obtenção de nitrogênio pela síntese de Haber-Bosch.
“Desde que começamos a produzir, enxergamos a questão do ESG e do baixo carbono como nortes, já nascemos com esse DNA. Na época, pegamos 1% do mercado e éramos taxados como loucos, e diziam que só iríamos atuar com nichos de mercados de orgânicos”, comentou.
Desde então, com as discussões globais sobre sustentabilidade e o papel da agricultura, a empresa vem florescendo e aumentando a rentabilidade. Segundo Alves, a empresa cresce de 30% a 35% ao ano, desde a fundação. No ano passado, o faturamento foi de R$ 150 milhões.
A Morro Verde começou com a produção de fósforo, e em 2020, adicionou o calcário ao portfólio. Em 2022, passou a atuar com o silicato de magnésio e uma rocha potássica no portfólio.
Na época em que anunciou a compra do controle da Morro Verde, a Ore Investments alegou ter identificado que a empresa tinha reservas comprovadas de 50 milhões de toneladas de fosfato, com um teor médio de 10% de concentração, o que seria o dobro do patamar nacional. Em função disso, e da vida útil da mina ser de cerca de 60 anos, a gestora considerou a Morro Verde "o melhor entre os ativos capazes de produzir fosfato no Brasil”.