Até 2026, a gigante química alemã Basf deve ser uma nova empresa, arquitetada para dar mais autonomia para as áreas agrícola e de materiais para baterias, que devem ser transformadas em companhias independentes.

A estratégia foi anunciada pelo CFO da Basf, Dirk Elvermann, em uma apresentação para investidores internacionais na quinta-feira, 7 de dezembro. O objetivo, segundo a Basf, é “desbloquear o potencial de ganhos mudando a forma como opera".

O movimento remete a outro anúncio, feito há um mês, pela também germânica Bayer, cujo CEO, Bill Anderson, prometeu “redesenhar” a companhia e disse que chegou a analisar uma proposta de separação das três divisões, entre elas a Crop Science, de produtos agrícolas.

Nos dois casos, a conjuntura de escalada de juros na Europa, somada à entrada de players asiáticos no mercado de químicos, com efeitos diretos nos resultados das empresas, são parte importante na pressão sobre seus executivos em torno de mudanças.

Dirk Elvermann disse que a BASF irá adotar uma “abordagem mais diferenciada” para orientar negócios individuais dentro da BASF, dando a certos segmentos que estão menos integrados na sua cadeia de valor central “mais espaço para satisfazer necessidades específicas da indústria”.

Apesar disso, vender essas unidades não está no radar, pelo menos por enquanto – aqui também, o discurso coincide com o da concorrente Bayer.

A nova abordagem citada pelo executivo passa por adaptar os modelos e processos de negócios, incluindo sistemas de TI e estruturas de governança, para as duas unidades citadas.

Aos fatores macroeconômicos soma-se o movimento da indústria química de reduzir estoques e concentrar esforços na redução de custos e melhoria de eficiência.

O próximo passo na jornada da Basf é o que o CEO Martin Brudermüller chamou, em um encontro com investidores, de “direção diferenciada”. Segundo ele, isso permitirá que mesmo que essas áreas funcionem de forma autônoma contem com a escala e integração da Basf.

“No geral, isso aumentará a resiliência da cadeia de abastecimento e reduzirá os estoques para liberar dinheiro”, afirmou. “Ao adaptar melhor os processos aos modelos de negócios subjacentes, reduziremos a complexidade e aumentaremos a nossa agilidade e velocidade”.

Essas mudanças permitem, segundo a empresa, que os segmentos operem com mais flexibilidade. Por outro lado, a Basf espera que a mudança de gestão permita aos executivos um foco maior em cada negócio.

O anúncio encontrou resistência imediata do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Mineração, Químicos e em Energia da Alemanha (IGBCE), que está preocupado com o futuro dos trabalhadores das futuras unidades autônomas.

Ao jornal americano The Wall Street Journal, o sindicato argumentou que a mudança da Basf criaria entidades legalmente separadas para cada unidade. Mesmo que não haja previsão de demissão de pessoal, as vantagens não estão claras para o grupo.

Mudança de rota acontece também em outra gigante

No caso da Bayer, o “redesenho” está ligado também às questões ambientais. Desde que assumiu o posto mais alto da instituição, no começo deste ano, Bill Anderson passou a sofrer pressões de investidores ativistas.

Um dos principais focos desses ativistas era a divisão Crop Science, que, desde a incorporação da americana Monsanto, em 2017, passou a se responsabilizar por passivos de indenizações relacionadas a efeitos do uso do defensivo glifosato.

No início de novembro passado, ao anunciar seu primeiro balanço como CEO, Bill Anderson divulgou uma carta aos acionistas pontuando que fará mudanças e cortes para reorganizar os negócios da empresa.

No texto, ele não escondeu sua frustração com os resultados apresentados. "Não estamos felizes com o desempenho deste ano", declarou. "Quase 50 bilhões de euros em receita, mas o fluxo de caixa zero simplesmente não é aceitável".

A divisão Crop Science, liderada pelo brasileiro Rodrigo Santos, foi apontada como uma das responsáveis pela redução de 31,3% no Ebitda (ganhos antes de impostos e depreciações), que ficou em 1,68 bilhão.

Ele anunciou que as opções para o novo desenho gerencial estão sendo estudadas e seus detalhes serão anunciados no Capital Markets Day, em março de 2024, juntamente com a publicação do Relatório Anual e do guidance de 2024.