Soja, feijão, gergelim e plantas de cobertura estão ocupando 9 mil hectares que até setembro a BrasilAgro ainda planejava plantar milho. O motivo? Faltou preço, rentabilidade e também chuva, em algumas áreas.
"Aquele milho que produziria menos de 100 sacas por hectare decidimos não plantar", disse o CEO da companhia, André Guillaumon, ao AgFeed, ao final do BrasilAgro Day, realizado hoje em São Paulo.
Se considerada uma produtividade média de 7 toneladas por hectare, a empresa deixará de colher na safra 2023/2024, cerca de 50 mil toneladas de milho.
O executivo explicou que a relação entre o preço do milho e o custo de produção já não vinha favorável. Com o atraso na janela do plantio da soja, que impacta na segunda safra de milho, a viabilidade financeira piorou, o que levou a empresa a buscar outras alternativas.
Dos 9 mil hectares, 3 mil são lavouras de milho verão que foram substituídas pela soja, cultura que vem mantendo rentabilidades maiores. O restante, 6 mil hectares, se refere ao plantio de milho segunda safra que não será feito e sim substituído por outras lavouras.
"Esta área de segunda safra ficará 30% com feijão, 15% com gergelim e o restante vamos plantar cultivos de cobertura", afirmou Wender Vinhadelli, ao AgFeed.
A expectativa para a soja é otimista, apesar dos problemas climáticos que afetam a safra brasileira, já que o plantio foi feito com rapidez, mas o resultado ainda depende do comportamento do clima nos próximos meses. A empresa diz que houve um replantio de 3 mil hectares de soja, um índice considerado dentro da média histórica.
A BrasilAgro informou que já tem 45% da soja vendida com preços previstos no orçamento inicial, sempre utilizando ferramentas de hedge. No algodão, mais de 60% da produção já foi comercializada. No milho, a empresa havia vendido quase 40% mas está recomprando algumas posições, segundo o CEO, porque acreditam que há tendência de alta para os preços em 2024.
Em relação ao "apetite comprador de terras” que chegou a mencionar ao longo deste ano em conversa com o AgFeed, Guillaumon disse que o objetivo da empresa é "girar 10% do portfolio ao ano, ou seja, comprar e vender este percentual”.
"Nós tivemos dois anos de alta nas commodities por isso é natural que estávamos mais carregados na mão vendedora, já quando os preços se ajustam, voltamos para o equilíbrio e se os preços estão ruins, nós oxigenamos mais o portfólio, que sabe se o cenário continuar como está não voltamos para a mão compradora", afirmou o CEO.
A área total de cultivo da BrasilAgro deve subir dos atuais 179 mil hectares estimados para a safra 2023/2024, para 200 mil hectares, segundo André Guillaumon, sem revelar o prazo exato. Um dos motivos é a expansão nos cultivos de segunda safra em áreas que, por enquanto, pela conversão recente, só estão sendo utilizadas para a safra de verão.
Debêntures para financiar irrigação
A BrasilAgro anunciou a captação de R$ 165 milhões via emissão de debêntures com objetivo de financiar a expansão da área irrigada na Bahia.
O projeto prevê ampliar dos atuais 970 hectares para 4 mil hectares em quatro anos a área de agricultura irrigada da fazenda Arrojadinho, no município de Jaborandi, na Bahia.
O CFO da BrasilAgro, Gustavo Lopez, disse ao AgFeed que a operação foi fechada com o Rabobank e que a opção pelas debêntures está relacionada a estratégia de financiar investimentos de longo prazo com financiamentos de longo prazo, que ofereçam taxas atrativas.
"Quando a empresa começar a pagar o financiamento, já vai estará com 100% da área transformada, operando e trabalhando", ressaltou.
Ele lembrou que os projetos de conversão das áreas da companhia em lavouras iniciados há 2 anos foram financiados principalmente pela emissão de CRAs. O uso destes certificados poderá ser usado novamente em 2024, segundo o CFO.
Desta vez, segundo ele, CRAs levavam a níveis acima de CDI + 6% de taxa. Já as debêntures foram emitidas com juros de CDI + 1,35% a.a. Elas possuem prazo de vigência de sete anos contados da data da emissão, que foi no dia 16 de novembro.
O custo baixo está relacionado ao uso das chamadas debêntures incentivadas, viabilizadas pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, que autorizou a BrasilAgro a captar no mercado um valor de até R$ 182,1 milhões.
Ao mesmo tempo, os executivos destacam que a expectativa é de alto retorno com a agricultura irrigada. No caso da soja, calcula-se que a rentabilidade fique R$ 500 por hectare maior se comparada ao cultivo de sequeiro.