Há alguns dias, o governador do Amazonas, Wilson Lima, cobrou publicamente a empresa Amazon, do bilionário Jeff Bezos, a respeito de quanto o estado brasileiro de mesmo nome deveria ganhar pelo uso do nome da gigante norte-americana.
O momento parecia uma cena do conhecido seriado “The Office”, que explorava diálogos constrangedores, mas foi levado a sério e motivou o governador a divulgar um vídeo oficial em suas redes sociais com a cobrança.
O vídeo viralizou nas redes ao longo da semana e, mesmo dom alguma chacota, deu visibilidade à ideia do governo local de trazer investimentos para o estado e para a floresta amazônica.
Indiretamente, Lima teve seu pedido “atendido” pelo bilionário. Nesta quinta-feira, 01 de dezembro, o Bezos Earth Fund, fundo de investimentos filantrópicos do próprio dono da Amazon, anunciou que aportará US$ 57 milhões em projetos ligados a temas como o futuro da alimentação, apoiando ações ousadas para a transformação dos sistemas alimentares.
Esse valor faz parte do compromisso do fundo de US$ 1 bilhão e terá algumas iniciativas voltadas para a Amazônia. O anúncio foi feito durante a COP 28, que acontece nesta semana em Dubai, nos Emirados Árabes.
O fundo doará US$ 16,3 milhões, algo em torno de R$ 80 milhões na cotação atual, para apoiar “planos inovadores” na região. Serão no estado do Pará, no entanto. O objetivo é alcançar o desmatamento ilegal zero nos próximos três anos, criando o que o Bezos Fund anuncia como “o maior sistema de rastreabilidade animal do mundo”.
O projeto engloba uma parceria organizações como a The Nature Conservancy, a Imaflora, Earth Innovation Institute e a Aliança da Terra. “Podemos rastrear carne, lacticínios e couro para eliminar o desflorestamento das cadeias de valor e trazer incentivos florestais positivos para criadores de gado e pecuaristas”, diz o comunicado.
A maior fatia do bolo dos US$ 57 milhões servirá para tornar a pecuária “mais sustentável”, e reduzir as emissões de metano em 30% em até 15 anos. Serão US$ 30 milhões investidos para atuar junto com o Acelerador de I+D de Metano Entérico do Global Methane Hub.
O dinheiro servirá para identificar e desenvolver rações com baixo teor de metano, uma criação de gado com baixo teor de metano e o uso de um sensor individual para medir as emissões de metano das vacas. O local do investimento é dito como “Sul Global” e deve, portanto, abranger o Brasil.
“O tempo é essencial se quisermos ter um impacto significativo na redução das emissões nesta década. Essa iniciativa pode promover pesquisas e ajudar a criar soluções de longo prazo para a redução do metano e garantir a segurança alimentar e económica das comunidades locais que participam”, disse Marcelo Mena, CEO do Global Methane Hub, no comunicado oficial.
Outros US$ 8,3 milhões foram anunciados para desenvolver conhecimentos sobre os ecossistemas do solo através da sismologia, para avaliar o potencial de sequestrar quantidades significativas de dióxido de carbono, numa parceria com o Programa Earth Rover.
Por fim, os US$ 2,6 milhões restantes servirão para “transformar sistemas alimentares”. “O fundo apoiará esforços para combater a perda e o desperdício de alimentos em parceria com a Food and Land Use Coalition (FOLU), estabelecendo uma aliança de países que trabalham para transformar os sistemas alimentares”, afirmou o documento.
Dentro do Bezos Earth Fund, esses investimentos irão para o chamado “Fundo Terra” e os outros US$ 850 milhões restantes serão alocados até 2030 para apoiar a “implementação ambiciosa da agenda global emergente sobre sistemas alimentares e clima”.
Mais R$ 90 milhões para créditos de carbono na Amazônia
Fora do fundo, a própria Amazon fechou um contrato com a startup Belterra para gerar créditos de carbono com a restauração da floresta Amazônica. O investimento inicial começa em R$ 90 milhões, mas pode ser maior ao longo dos anos.
Nos três primeiros anos do contrato com a Amazon, serão restaurados cerca de 3 mil hectares de floresta, que englobam a produção de agroflorestas de cacau. O início do plantio começa ainda este ano com 30 famílias donas de pequenas propriedades no Pará.
Os três mil hectares podem, na expectativa das empresas, gerar cerca de 750 mil toneladas de carbono em até 30 anos. Os créditos compensarão as emissões da própria empresa de Jeff Bezos.
Além do dinheiro para o projeto, a Amazon pode converter o montante em uma participação minoritária na startup.
Essa é mais uma iniciativa da Belterra com uma gigante. Antes da Amazon, a empresa já fechou contratos com a JBS, Vale, Cargill e mais recentemente a Natura, conforme antecipou ao AgFeed, há duas semanas, o sócio da empresa, Valmir Ortega.
Ele afirmou que a Belterra passa por um processo de "amadurecimento" do seu próprio modelo de negócio. E comentou que o grande desafio para escalar esses projetos firmados é a quantidade de mão de obra necessária para a prestação dos serviços.