Hortolândia (SP) - Um brownie de chocolate com sorvete (ambos feitos sem leite) encerrou o cardápio preparado pelo chef Lucio Manosso para jornalistas que visitaram o centro de inovação da ADM em Hortolândia (SP).
O destaque ficou para um ingrediente peculiar nas sobremesas: um bacon. Além da estranheza da escolha do produto por si só, um fato chamou a atenção: o bacon era plant-based.
Sabor, textura e aroma remetem ao produto feito de porco, mas a origem vem de proteínas vegetais como a soja. Além disso, a combinação estranha de doce e salgado agradou aos presentes.
O ingrediente é apenas uma gota no mar da operação colossal da Archer Daniels Midland (ADM). Com o serviço de trading, a empresa é colocada entre as quatro maiores do segmento, no chamado ABCD. A operação é tão grande no Brasil que só no Porto de Santos chega a transacionar quase 2 milhões de toneladas por trimestre.
Embora não abra os dados de faturamento específicos do país ou do continente de forma oficial, o presidente da América Latina da ADM, Domingo Lastra, estima que 20% da arrecadação total da empresa venha da região, onde o Brasil é o principal player.
O gigantismo ofusca outras unidades de negócio da empresa, que também crescem em ritmo acelerado.
Lastra conversou com o AgFeed durante um tour pelo Customer Creation & Innovation Center (CCIC) da empresa para a América Latina, em Hortolândia.
A planta de 1,2 mil metros quadrados, que recebeu um investimento de US$ 4,7 milhões, integra o braço de nutrição da empresa.
Há um ano e meio, uma equipe que atualmente conta com 28 pessoas desenvolve soluções para empresas da indústria alimentícia. Comandados por Andrea Lunardini, líder técnica da área de nutrição humana da ADM na América Latina, a equipe multidisciplinar conta com PHDs especializados em aspectos como textura, aromas, fragrância e sabor.
Eles utilizam os grãos - base do negócio da empresa - para ajudar outras companhias no desenvolvimento e na criação de novos produtos e linhas.
A ADM não abre o faturamento do centro nem a quantidade de projetos feitos, mas Lunardini disse que o win rate, ou seja, a quantidade de conversas que viram projetos, chega aos 75%.
“Os clientes ficam encantados não só com nosso espaço físico, mas também com toda expertise e tecnologia disponíveis para atender as principais tendências do mercado. O processo de desenvolvimento de novas soluções é realizado com o cliente, para o público-alvo dele, e isso faz toda a diferença”, afirma.
No laboratório que o AgFeed conheceu, diversas salas com equipamentos variados podem atender qualquer marca que se encontra no mercado, desde bebidas até carnes e embutidos. O segmento pet também entra na jogada.
Se uma empresa de salsichas quer tornar o produto mais “firme”, por exemplo, a proteína de soja no mix dos retalhos de carne pode ajudar. Se uma empresa de energéticos quer desenvolver uma nova linha para focar num público específico, essa equipe da ADM pode ajudar.
A pesquisa e desenvolvimento é uma parte do segmento de nutrição da ADM, que, segundo Lastra, tem uma meta de atingir US$ 1 bilhão de faturamento até 2025.
“Movimentamos um volume grande de trading, mas a ADM acaba controlando toda a cadeia de valor. Desde 2014 começamos a ter um apelo forte na nutrição, que também serve para tornar os resultados gerais da empresa menos cíclicos com a sazonalidade dos grãos. Hoje temos um resultado previsível e horizontal”, diz.
Luciano Souza, diretor de grãos da ADM, pontua que o serviço de nutrição “permitiu à ADM aumentar a gama de produtos que oferece para a fazenda e aumentar também o leque de serviços”.
Dentro do segmento de nutrição, Lastra afirma que a divisão de bebidas cresce dois dígitos “há muitos anos”. “Ano passado crescemos quase 20%, e em áreas já maduras. Nosso foco é crescer na América Latina e na Ásia. Nos EUA e Europa, já somos mais fortes”, disse.
No plant-based, a matriz americana anunciou recentemente que iria “rever” um investimento anunciado de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) em uma unidade de produção de proteínas na cidade de Decatur, sede da ADM.
A revisão de planos tem o objetivo de "melhor corresponder ao ambiente de menor demanda de crescimento esperado", disse o CEO, Juan Luciano, em uma conferência em que anunciou os resultados trimestrais da empresa.
A correção de rota nos EUA não encontra par na América Latina, onde a empresa garante que continua investindo.
Na PlantPlus, joint venture com a Marfrig, Lunardini disse que, em menos de um ano de projeto, a empresa já é líder em minimercados, varejo e food service do segmento no Brasil. A idealização de ingredientes é feita no CCIC.
Essa instalação de Hortolândia, que atende a América Latina, conta com mais quatro pares ao redor do mundo. Por aqui, a ideia é expandir ainda mais o tamanho da equipe e dos serviços.
Lastra disse que a instalação está em sua segunda etapa, que deve expandir a área de sabores, criar mais laboratórios e um segundo piso até metade de 2024.
Andrea Lunardini acrescentou que existem laboratórios na América Latina para atuarem como se fossem “satélites” desse principal. “Temos um laboratório em expansão no Panamá e outro no México. Além disso, estamos criando um centro menor que esse para atender alimentos e bebidas e estamos construindo uma nova instalação satélite em Lima, no Peru”, disse a diretora.