“Estamos fazendo o que as empresas que procuram ter resultado estão fazendo”. Otávio Lage Filho, diretor-presidente da Jalles Machado, define com essa frase o momento do grupo sucroenergético goiano.
Em outras palavras, está investindo para ter a casa em ordem de olho nas oportunidades que o setor vislumbra para os próximos anos, com a chamada transição energética da economia dos combustíveis fósseis para fontes alternativas.
A oportunidade do momento são os bons preços do açúcar no mercado internacional. Por conta disso, uma das prioridades atuais da companhia é investir para tornar suas unidades mais “açucareiras”, aumentando a capacidade de produção do adoçante em relação ao etanol. Mas sem perder de vista um futuro breve.
“O segmento não é só focado na produção de açúcar e etanol”, comentou, em entrevista ao AgFeed durante a Conferência Internacional de Açúcar e Etanol, realizada no começo da semana em São Paulo.
“Temos produção de energia elétrica, biometano, podemos aproveitar o gás carbônico da fermentação e até a levedura. Temos uma fé grande que o álcool ainda vai contribuir muito para matriz energética”, disse Lage Filho.
A empresa, que abriu seu capital em 2021, se vê pronta para essa nova fase do setor, e ainda enxerga oportunidades tanto na SAF, o combustível de aviação, e na possibilidade de fornecer etanol para movimentar navios cargueiros.
Isso significa manter o caixa em dia para financiar a modernização da empresa e avanços de produtividade no canavial. No início do mês, por exemplo, a empresa anunciou que seu conselho de administração aprovou um aumento de capital de até R$ 60 milhões. Posteriormente, comunicou posteriormente que emitirá pelo menos R$ 300 milhões em debêntures.
Os recursos obtidos pelas debêntures serão utilizados na manutenção, renovação e melhorias no canavial que é destinado para produzir etanol. A ideia é que o investimento seja aproveitado nas unidades industriais Jalles Machado e Otávio Lage nas safras de 2024 até 2030.
O objetivo é aumentar a capacidade de produção dessas unidades em 1 milhão de toneladas. Da Otávio Lage, a ordem é sair mais açúcar, para que a empresa possa, segundo Lage Filho, “ter um perfil mais açucareiro, tendo em vista a atual conjuntura de preço”.
Segundo dados do CEPEA/USP, o preço do quilo do açúcar ronda os R$ 160 atualmente. Para se ter uma ideia, um ano atrás a cotação estava em R$ 127.
A Unidade Santa Vitória, é a que deve receber maiores quantias, deixando de produzir apenas álcool e energia. “Estamos acrescentando agora uma fábrica de açúcar, com um investimento entre 160 milhões e 170 milhões de reais e isso vai deixar mais meio a meio a nossa produção de açúcar e etanol”, afirma.
Essa unidade foi comprada no ano passado e é uma espécie de marco na trajetória do grupo goiano. Com o negócio, fechado por mais de R$ 700 milhões, a companhia cumpriu uma promessa feita aos investidores em seu processo de IPO e, de uma vez só, ampliou sua capacidade produtiva em 46%
Quando apresentou seus resultados do quarto trimestre do ano safra 2022/23, a empresa foi questionada sobre um conservadorismo na estratégia financeira e usou a aquisição como forma de provar o contrário.
"Temos um investimento pesado para fazer na fábrica de Santa Vitória e optamos por ser mais conservadores na política de hedge para evitar eventuais perdas", explicou, o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Jalles, Rodrigo Penna de Siqueira, durante teleconferência com analistas na ocasião.
A companhia prevê que 75% desses investimentos serão aportados durante a safra atual.
A oportunidade que criou a empresa
Desde o dia um, a Jalles Machado é uma empresa que vê nas oportunidades do mercado um ramo de atuação. Em 1980, quando os trabalhadores da cidade de Goianésia não encontravam mais oportunidades na pecuária, o então prefeito Jalles Fontoura e o empresário Otávio Lage começaram a estruturar a implantação de uma destilaria de álcool na região.
O movimento, além de ajudar a população local, atendia aos interesses do Governo Federal. Em meio à crise do petróleo, o poder público instituiu o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que visava investir na produção e incentivar o consumo do combustível de cana.
Naquele momento, os fazendeiros da região de Goianésia poderiam produzir a cana e fornecer a matéria-prima para a indústria, que seria implantada em parceria com a Empresa Brasileira de Álcool S/A (Brasálcool), uma companhia de São Paulo que já tinha expertise no negócio e a Petrobras como sócia.
Com a liderança de Otávio Lage e a participação dos fazendeiros, foi instituída em 16 de julho de 1980, a Cooperativa dos Produtores de Cana de Goianésia Ltda (Cooperálcool) e a destilaria Goianésia Álcool S/A.
Na empresa, em 1983 foram produzidos 13,796 milhões de litros de álcool a partir de 192 mil toneladas de cana. Nos anos 1990 foi quando o nome mudou para Jalles Machado.
Otávio Lage Filho, o atual presidente, é filho do fundador, e vê, nos próximos anos, algo parecido com o que seu pai viu em 1980. “Podemos fazer com que o processo de descarbonização do planeta ocorra de forma rápida e representativa”, diz.
Do IPO, em 2021, para cá, as ações da companhia acumulam alta de 2,18%. Os papéis foram lançados com cotação de R$ 8,73 e hoje são negociados a R$ 8,55. A máxima histórica ocorreu em março de 2022, quando bateu os R$ 10,91. A mínima foi em março deste ano, quando atingiu R$ 6,68.
O valor de mercado da Jalles está em R$ 2,6 bilhões. De janeiro pra cá, a ação acumula alta de mais de 20%.