Um grupo de investidores chineses da Ningxia Eppen, líder mundial da indústria de aminoácidos, chega hoje a Goiás. Eles têm encontros marcados com o governo e empresários do estado, na quarta etapa de um movimentado roteiro pelo interior do Brasil.

A presença da comitiva tem causado alvoroço por onde passa. A agitação está por conta do que os chineses têm a oferecer: a construção de uma fábrica, que utilizaria milho colhido aqui para produzir seus aminoácidos – insumo usado na nutrição humana e animal --, além de outros subprodutos como óleo e DDG, cada vez mais utilizado como ração animal.

São Paulo, Mato Grosso e Paraná estiveram na rota do grupo e se mobilizam, cada um à sua maneira, para convencer os chineses que são o destino certo para o investimento. Mato Grosso e Paraná, os dois estados líderes na produção nacional de milho, acreditam estar em vantagem na disputa.

O AgFeed conversou com o empresário Paulo Bortolini, diretor do grupo Calpar, do Paraná, que recebeu os chineses na última semana, na região do município de Castro, um importante enclave produtivo e logístico do estado, onde estão sediadas cooperativas como Frisia e Castrolanda.

Bortolini faz parte da diretoria da Abramilho, Associação Brasileira dos Produtores de Milho, e recebeu a missão para ser um dos representantes do setor privado na recepção à comitiva.

"Eles estão passando também por São Paulo, Mato Grosso e Goiás, mas acreditamos que o Paraná é um excelente candidato, porque oferece vários diferenciais, como por exemplo, ter duas safras de milho, no verão e no inverno”, destacou o empresário.

Segundo Bortolini, além da disputa interna, há concorrência estrangeira pela fábrica e ainda não há um prazo para que seja anunciado o local onde serão aplicados os R$ 3 bilhões. “Eles não informaram quando devem tomar a decisão e estão inclusive avaliando a possibilidade de instalar a fábrica em outro país”, disse Bortolini.

Quem estaria na disputa com o Brasil seria a Rússia, segundo o empresário. A Ningxia Eppen Biotech tem duas fábricas na China e possui operações na Holanda e Singapura. No Brasil, apenas exporta seus produtos acabados.

Para os paranaenses, também podem contar outras vantagens como a proximidade com o porto de Paranaguá, o que faz com o que o milho de estados vizinhos também passe por lá.

"Mesmo que o preço do milho não seja o mais baixo no Paraná, aqui temos também a vantagem do frete retorno, são mais de 2 milhões de toneladas de calcário que voltam para as fazendas", lembrou o empresário.

Bortolini disse que os chineses "perguntaram muito”, não apenas sobre a produção de milho, mas também sobre questões como energia elétrica, gás natural, transporte, preço das terras e impostos.

O AgFeed procurou o secretário de agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, que também destacou diferenciais que o estado possui para receber investimentos como esse.

"A China é o principal parceiro comercial do Paraná, estado que tem no agro a sua força geradora de riquezas e oportunidades. Nossa indústria tem competência, se moderniza, agrega valor à nossa produção em inúmeras cadeias", afirmou.

Ortigara reforçou que o Paraná também "é um grande produtor de amidos (milho e mandioca), que pelas modificações físicas ou químicas, permitem a obtenção de derivados, como os aminoácidos.

O secretário lembrou que fizeram missão para o país asiático e que o Paraná tem recebido delegações chinesas para ampliar o comércio bilateral. "Até o final deste ano teremos nova missão chinesa para habilitação de plantas frigoríficas de frango, suínos e bovinos".

Mato Grosso em campanha

No Centro Oeste, a comitiva chinesa já passou por Cuiábá, Nova Mutum e Cáceres, no estado de Mato Grosso, maior produtor de milho do País. Nos encontros, realizados no fim da semana passada, o grupo também deixou claro que o principal interesse era o uso do cereal como base para uma fábrica de aminoácidos.

O vice-governador de Mato Grosso, Otaviano Pivetta, cuja família está entre as grandes produtoras de grãos do estado, foi um dos responsáveis por receber os chineses. Ao AgFeed, ele destacou que o milho produzido no estado “é o mais barato do mundo".

Pivetta ressaltou ainda que Mato Grosso "já ganhou três vezes o reconhecimento de estado com melhor gestão fiscal do País, produz 50 milhões de toneladas de milho, portanto qualquer empresa que utilize o grão como matéria-prima vai olhar para Mato Grosso”.

O vice-governador acredita que a logística também seja um diferencial. “Estamos construindo 5,5 mil km de rodovias e a primeira ferrovia estadual do Brasil está sendo construída pela Rumo entre Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, entre tantos outros pontos positivos”, acrescentou.

Fontes ligadas ao setor em Mato Grosso estimam que a perspectiva do projeto chinês é produzir 350 mil toneladas de aminoácidos por ano, além de 200 mil toneladas de subprodutos, o que poderia gerar mil empregos no estado.

A comitiva chinesa participou de reuniões com o governo, com empresas privadas, e com diversas entidades como a Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Federação de Agricultura (Famato) e Aprosoja, que representa produtores de soja e milho.

A visita foi registrada pela secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado, que, em notícia publicada em seu site, chegou a estimar a possibilidade de que Mato Grosso receba o investimento. “Os empresários comentam que Mato Grosso tem 80% das chances de sediar a próxima indústria da empresa”, afirmava no texto, que trazia também um declaração atribuída ao gerente do Departamento de Tecnologia da Ningxia Eppen, Bai Pengya.

“Mato Grosso é um bom lugar. Como pudemos perceber, aqui há muitos recursos. Acredito que no futuro aqui terá muito potencial, se estivermos produzindo aqui, poderemos exportar para a China e importar de lá”.

A Ningxia Eppen Biotech foi fundada em 1999. O site da empresa divide seus produtos em três categorias: nutrição animal, aditivos alimentares e condimentos, e nutrição vegetal e fertilizantes.

Na divisão de nutrição animal, os principais produtos são aditivos alimentares como lisina, treonina, triptofano e valina. A empresa exporta para 50 países e se diz líder global na indústria de aminoácidos.

Nesta terça-feira (24 de outubro), apesar de ser feriado em Goiás, os chineses vão se reunir com o vice-governador Daniel Vilela e representantes do governo e entidades. A ideia também é obter informações sobre perspectivas de produção de milho, mercado e legislação. O governador Ronaldo Caiado tem uma visita à China prevista para o início de novembro.

O AgFeed procurou a secretaria de agricultura do estado de São Paulo para checar a eventual visita do grupo chinês ao estado, que prometeu “buscar a informação", mas não trouxe informação adicional até a publicação desta reportagem.