Com apenas seis anos de vida e quatro de operação comercial, um indicador da agtech Cromai chama a atenção: a empresa, especializada no desenvolvimento de algoritmos para análise de imagens de lavouras com o uso de inteligência artificial, conta hoje com 172 funcionários. “Há um ano, eram 50”, conta Henrique Del Papa, sócio e diretor de novos negócios da empresa.
Para uma startup, trata-se de uma multidão – e, de certa forma, de um indicativo de que os negócios estão prosperando. Nascida no polo de tecnologia de Piracicaba, buscando atender uma demanda da gigante Raízen por entender melhor a qualidade de seus canaviais, a Cromai ganhou musculatura nos últimos anos, depois de superar os desafios de toda empresa jovem.
Depois de uma passagem pelo Pulse, ambiente de inovação mantido pela Raízen em Piracicaba, a Cromai rodou canaviais de várias empresas, testando e aperfeiçoando seus modelos. Hoje, segundo Del Papa – que é também produtor rural e investidor na empresa –, seu produto está em oito dos dez principais grupos sucroenergéticos, Raízen à frente.
“Eles queriam saber como estavam os canaviais e a Cromai desenvolveu um algoritmo com inteligência artificial para processar as imagens captadas e poder tomar as decisões com mais precisão”, contou o executivo, sobre o início da empresa, em conversa com o AgFeed durante o Agro Innovation Week, que acontece em Ribeirão Preto até o dia 22 de outubro.
A primeira versão não trouxe os resultados esperados, mas houve aprendizados. E a persistência acabou levando a novos caminhos e a investidores, que apostaram na capacidade técnica das equipes.
A empresa já recebeu duas rodadas de investimentos. A primeira foi de US$ 1 milhão, em 2021, e no ano passado, entraram mais US$ 3 milhões.
O diretor da Cromai revela que haverá uma extensão desta rodada Série A de 2022, que deve ser divulgada em breve. “Não posso te dizer o valor que vamos captar, mas com certeza será maior que os US$ 3 milhões da última”.
Essa confiança tem como base principal o forte crescimento que a empresa tem experimentado. “O faturamento está crescendo seis vezes no ano, é muito acima do mercado, com os produtos tendo uma aceitação cada vez maior”, diz Del Papa.
Com os novos recursos, Del Papa, que entrou como sócio da empresa em uma das rodadas de aceleração, quer viabilizar principalmente a internacionalização da Cromai.
“Queremos abrir uma rodada Série B em 2024 ou 2025, para atingir o objetivo de entrar no mercado dos Estados Unidos”.
A Cromai está de olho principalmente no mercado americano de grãos, segmento em que a empresa começou a atuar mais recentemente, no começo deste ano.
“Nós treinamos em 2022 a atuação para detectar daninhas em culturas de soja, e colocamos no mercado no começo deste ano. Já temos contratos com os grupos Bom Futuro e Amaggi, que são o segundo e terceiro maiores grupos de soja no Brasil”.
No mercado de cana, onde a empresa começou, o ritmo de crescimento deve continuar forte, segundo Del Papa.
Neste momento, a Cromai atua em um total de 45 usinas e, segundo o executivo, o número deve chegar a 60 até o final do ano.
Segundo o executivo, o grande diferencial da Cromai é a velocidade de processamento das imagens captadas via satélite ou drones, viabilizada pela Inteligência Artificial.
“No método manual, você consegue atender 100 hectares, 200 hectares. Com o algoritmo da Cromai, é possível processar 1 milhão de hectares”, conta Del Papa.
Com a velocidade e a precisão das informações via IA, a Cromai afirma que é possível ter uma economia superior a 70% em defensivos pelos produtores.
Outro produto, este voltado especificamente para cana, levanta a proporção de impureza vegetal presente em um carregamento de cana de açúcar para uma usina.
“Conseguimos dizer para a unidade quanto está entrando de palha na usina, em relação à cana. Aí conseguimos levar uma usina, que consegue realizar 14 a 19 amostras em 24 horas, o nosso sensor consegue 380 amostras”.
Segundo Del Papa, o controle maior do volume de palha que entra na usina tem diversos impactos na produção. “Fizemos um estudo que mostra impactos em economia de combustíveis no frete, eficiência na moagem e até na coloração do açúcar”, conta.