A legislação brasileira sobre cooperativismo nem existia quando, em 1911, um grupo de agricultores se reuniu para comercializar seus produtos, seguindo um modelo alemão, no interior do Rio Grande do Sul.
Era o começo da Cooperativa Agrícola Mista General Osório, hoje conhecida apenas como Cotribá, com sede em Ibirubá, a cerca de 300km de Porto Alegre. A lei de cooperativas no Brasil surgiu somente 30 anos depois, no governo Getúlio Vargas.
Até hoje os associados da Cotribá tentam, sempre que possível, "sair na frente” em busca de soluções para as demandas no campo e para seguir crescendo.
Esta semana foi a vez de apostar no mercado de FIDCS, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, mais um mecanismo que o agro vem buscando para financiar seu crescimento.
O registro feito na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 21 de setembro mostra o valor de R$ 160 milhões para a oferta - uma das primeiras do gênero feita por uma cooperativa brasileira -, mas a gerente financeira da Cotribá, Ana Marlise Schreiner, disse ao AgFeed, que o objetivo é captar R$ 200 milhões.
"É uma forma de financiar os produtores associados, para que comprem seus insumos para a safra, com custo mais baixo”, explicou Ana.
A expectativa é beneficiar 860 produtores rurais com os recursos do FIDC. A taxa de juros é pré-fixada em 1,57% ao mês.
"Quando usamos a emissão de CRA para este financiamento, normalmente é taxa CDI mais um spread, e o agricultor não gosta disso, prefere já saber antes quanto vai pagar de juros, por isso o FIDC tem esta vantagem”, explicou a gerente.
Trabalhando há 32 anos na Cotribá, Ana Schreiner diz que sempre gostou de “ser a pioneira”. Foi ela que incentivou a cooperativa para fazer a primeira emissão de CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) no setor em que atua, em 2020, no valor de R$ 53 milhões.
A executiva diz que desde então a Cotribá já emitiu R$ 500 milhões em CRAs – alguns são da própria cooperativa e outros são para os associados. Neste modelo destinado ao produtor, o lastro é a CPR. Já o financiamento para a cooperativa é atrelado a contratos com tradings.
Schreiner diz que antigamente o financiamento ao produtor era feito com recursos da própria cooperativa, mas com o crescimento acelerado, optou por usar as novas ferramentas do mercado de capitais para reduzir o custo financeiro, ter menor risco e ampliar a oferta de recursos.
Outra vantagem do FIDC, segundo ela, é que não é necessário estar com toda a documentação pronta de todos os produtores para abrir a captação, diferentemente do que ocorre no CRA.
Com isso, a executiva estima que 50% do financiamento oferecido pela Cotribá aos produtores rurais já esteja atrelado aos mecanismos do mercado de capitais.
Plano de expansão
Atualmente a Cotribá tem 10 mil associados e vem expandindo a presença em diferentes regiões do Rio Grande do Sul, além de diversificar os segmentos em que atua.
Em entrevista ao AgFeed, o presidente da Cotribá, Celso Krug, disse que nos últimos cinco anos, o faturamento subiu de R$ 1,5 bilhão para R$ 4 bilhões.
Esta foi a receita do ano passado, que deve se repetir em 2023, já que desta vez houve um forte impacto dos preços mais baixos das commodities e da quebra na safra de soja gaúcha, que enfrentou um longo período de seca.
"Mas nos próximos três anos queremos chegar a R$ 7 bilhões", ressalta o dirigente.
Um dos pilares é a expansão na venda de produtos como soja e milho, que hoje representam cerca de 60% da receita.
"Estamos crescendo na metade Sul e na fronteira gaúcha, já que muitos produtores estão deixando o arroz e a pecuária para produzir grãos", conta Krug.
A Cotribá também tem forte atuação nas atividades de pecuária leiteira, de corte, suínos e aves.
Em fevereiro de 2024 vai inaugurar uma nova fábrica de ração, que vai aumentar das atuais 100 mil toneladas para 300 mil toneladas a capacidade de produção.
"Também pretendemos ter uma segunda linha para ração no segmento pet, que está crescendo muito", revelou.
O investimento para construir a nova fábrica foi de R$ 170 milhões e a maior parte dos recursos veio de crédito do BRDE, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, que oferece juros subsidiados e prazo de 10 anos para pagar.
Sobre a possibilidade de expandir para outros estados, Krug diz que, por enquanto, não vê esta necessidade, já que há muitas oportunidades ainda em solo gaúcho.
"Queremos crescer também em produtividade, oferecendo ração de melhor qualidade e melhoramento genético", acrescentou.
Recentemente as cooperativas gaúchas solicitaram apoio ao governo para alongar o pagamento das dívidas de produtores rurais associados que foram afetados pela seca.
O presidente diz que a Cotribá também foi afetada por este cenário e que é importante dar maior fôlego aos produtores que tiveram perdas de 50% em algumas regiões. Mesmo assim, garante que o cenário não deve interferir nos planos de crescimento.