Registrada pela Coopercitrus, a marca Campo Digital ainda é pouco conhecida no mercado de varejo agropecuário no Brasil. Foi lançada como uma loja conceito, em 2021, em Cristalina (GO), está estampada em uma unidade na cidade de Bebedouro (SP) - sede da cooperativa –, e, desde julho passado, em Boa Esperança, no Sul de Minas Gerais.

A partir de novembro, será vista também na fachada de uma loja em Primavera do Leste, no efervescente coração do agronegócio matogrossense. Será com ela que a Coopercitrus, maior cooperativa brasileira em número de associados (deve bater em breve a marca de 40 mil) marca definitivamente no principal estado produtor agrícola do País.

O movimento foi confirmado nesta quarta-feira ao AgFeed pelo presidente executivo da Coopercitrus, Fernando Degobbi. A chegada no Mato Grosso era tida como iminente e faz parte de um investimento de R$ 70 milhões, anunciado no ano passado, para expansão da atuação da cooperativa – que faturou R$ 9,4 bilhões em 2022 e possui 160 unidades espalhadas por 65 municípios de São Paulo,Minas Gerais e Goiás – pelo Centro-Oeste.

A estratégia escolhida foi utilizar a marca que reflete uma das características pelas quais a Coopercitrus têm se destacado nos últimos anos: o “gosto” por tecnologia. “Nós teremos lá 18 das 40 empresas parceiras que compõem o Campo Digital, nosso ecossistema digital”, afirma Degobbi. “Também venderemos insumos e outros itens, mas será uma loja mais voltada para a tecnologia”, afirma.

As unidades da marca Campo Digital vão funcionar como um showroom de inovações voltadas para o campo e refletirão os investimentos que a cooperativa tem feito, desde 2015, no desenvolvimento de um negócio baseado na agricultura digital.

Desde então, uma área específica foi criada para avaliar soluções trazidas por startups ou empresas já consolidadas na área e, a partir delas, criar serviços com ofertas específicas para levar tecnologias para dentro da porteira dos associados.

Hoje, o ecossistema – que conta com um aplicativo através do qual o associado se relaciona com todas as áreas da cooperativa, inclusive o comércio eletrônico de insumos – conecta todas as mais de 50 mil propriedades rurais cadastradas e georreferenciadas.

Dentro do ecossistema digital, a Coopercitrus oferece serviços e produtos para conservação do solo, agricultura de precisão, telemetria de máquinas, irrigação e até mesmo drones de pulverização.

“Somos a única revenda oficial da DJI (fabricante chinesa de drones) no Brasil. A diferença em relação aos distribuidores é que temos oficina, garantia, podemos oferecer todos os serviços”, conta Degobbi.

O presidente conta que as lojas físicas da Campo Digital oferecem tanto a venda de equipamentos para os produtores e empresas com maior escala e que podem implementar projetos por conta própria, quanto a prestação de serviços de implementação, para agricultores de menor porte, que representam cerca de 80% do total de cooperados.

“Hoje, atendemos 8 mil cooperados com a Campo Digital. Temos crescido em ritmo rápido, com 1,5 mil a 2 mil adicionados por ano”, conta Degobbi.

Sobre a aplicação destas tecnologias, o presidente da Coopercitrus dá o exemplo dos ganhos com a agricultura de precisão.

“Temos casos de produtores que conseguem aumentar de 10% a 15% na colocação de plantas em uma área, diminuição de 20% a 25% no número de manobras de máquinas, economizando combustível e tempo de vida útil da máquina”.

Fachada da loja conceito da Campo Digital em Cristalina (GO)

Para atender aos produtores em projetos tecnológicos, a Coopercitrus conta com cerca de 240 especialistas. “Na loja de Primavera do Leste, já temos seis colaboradores trabalhando mesmo antes da abertura”, diz o presidente.

Além da nova loja, a Coopercitrus conseguiu recentemente o registro de sua fintech, denominada Finpop. “A ideia é ter parceria com bancos e plataformas para oferecer alternativas de crédito para os cooperados, com alternativas mais baratas”, afirma Degobbi.

Insumos impactam no resultado

Além da plataforma de agricultura digital, que é um ramo de negócio mais recente, a Coopercitrus tem suas unidades mais tradicionais, especialmente a distribuição de insumos e de máquinas agrícolas.

Em máquinas, a cooperativa é revenda autorizada de marcas relevantes, como Massey Ferguson, Valtra e New Holland, e segundo Degobbi, tem apresentado bom desempenho. Este ano, a Coopercitrus anunciou a aquisição de uma rede de concessionárias Massey em Goiás, ampliando sua aposta no segmento.

“Quando olhamos para a Campo Digital e para a revenda de máquinas, estamos crescendo entre 30% e 35% neste ano”, afirma Degobbi.

Já nos insumos, o cenário é bem diferente. O presidente conta que, em toneladas vendidas, a Coopercitrus apresenta um crescimento de 28% nos fertilizantes. Em defensivos, o desempenho em volume é igual ao de 2022.

“O que acontece é que os preços baixaram muito, juntamente com as margens, que são afetadas pelo grande volume de estoques em geral no mercado”, explica Degobbi.

O executivo acredita que houve uma corrida por crescimento rápido neste mercado nos últimos dois anos, impulsionada especialmente por fundos de investimentos que queriam elevar os resultados para depois obter lucro na venda da distribuidora de insumos.

“Com o bom desempenho das outras unidades, vamos fechar 2023 com lucro. Mas se fôssemos uma empresa só de distribuição de insumos, teríamos prejuízo”, conta Degobbi.

O executivo conta que já há uma retomada no mercado de insumos, mas os preços estão em níveis pré-pandemia.

Outro dos diferenciais da cooperativa, além da vocação tecnológica, é a diversificação de culturas atendidas – o que também explica os novos focos de expansão geográfica.

A Coopercitrus tem esse nome por conta da sua origem, em Bebedouro, no interior de São Paulo. “Aqui, tínhamos cerca de 90% da produção voltada para laranja, e nós não podemos apagar a nossa história”, afirma o presidente da cooperativa.

Hoje, cerca de 25% dos produtores têm a cana de açúcar como atividade principal, somando cerca de 11 mil. “Temos 7 mil pecuaristas, de corte ou de leite, 4,8 mil produtores de café, 4,2 mil de grãos, 3,5 mil de cítricos, e 2,5 mil de hortaliças e frutas”, conta Degobbi.

Para confirmar a diversificação, a Coopercitrus abriu duas unidades em Minas Gerais neste ano, focada mais em produtores de café de pequeno e médio portes, entre elas a loja Campo Digital de Boas Esperança.

“Nós preferimos adotar essa estratégia de crescimento mais orgânico, e assim não precisamos cancelar a abertura de uma nova loja por conta da conjuntura do mercado. Abrimos no máximo três novas unidades no ano”, conta Degobbi.

Assim, elas servem apenas como uma base para uma expansão mais ampla no campo digital.