Divulgado pela Conab no início do mês, o balanço da produção agrícola brasileira mostrou que culturas antes pouco prestigiadas começam a ganhar espaço no campo. Sorgo, girassol, mamona e gergelim, por exemplo, viram suas produções crescer 53,4%, 107%, 109% e 57%, respectivamente.
De todas, o sorgo é, sem dúvida, o que mais se destaca pelo volume: 4,78 milhões de toneladas, com uma expansão da área plantada de mais de 25%, com um olhar atento do produtor ao novo cenário da agricultura.
Uma análise recente do pesquisador Cícero Menezes, da Embrapa, enfatizou que as alterações climáticas dos últimos anos, com redução de chuvas especialmente no período da safrinha, estão entre os fatores que estimulam o cultivo do sorgo.
Mais resistente ao clima seco, o grão tem desempenhado papel importante como alternativa de cultivo entre as safras de soja e por ser um excelente substituto do milho na oferta de ração animal.
“O Brasil já é o quinto maior produtor de sorgo do mundo”, afirmou, em entrevista recente, Willian Sawa, diretor executivo da Latina Seeds e criador do movimento +Sorgo, que realiza pesquisas para melhorar a produtividade do grão.
Ele estima que a produção tende a dobrar até 2026, expectativa que se baseia na taxa de progressão tanto da área plantada quando do total de toneladas colhidas nos últimos anos.
A área plantada de sorgo, teve expansão de quase 20% entre as safras 2021/22 e 2020/21. Na última safra, o crescimento foi de 25% - de 1,2 milhão de hectares para 1,4 milhão de hectares, segundo a Conab. E a estimativa é chegar a 2 milhões de hectares até 2026, e ter produção perto de 5 milhões de toneladas na década de 2030.
“Esse é um dado que pode ainda estar subavaliado”, diz Sawa. Segundo ele, os dados do Conab computam a produção de sorgo em grãos. Mas ainda existem os cultivos de sorgão gigante e de sorgo para silagem, por exemplo, que não entram nas estatísticas.
Isso, segundo ele, pode elevar ainda mais o potencial do sorgo para se tornar uma cultura com grande peso no agronegócio nacional, inclusive para exportações.
No Brasil, o sorgo já serve de base para ração animal, especialmente na indústria de aves e de gado de corte e leite. Mas nos últimos anos ganhou outras finalidades. Além dos rebanhos de corte e leite, no Nordeste ele alimenta também rebanhos de cabras. Em Rondônia, por sua vez, é usado como ração para peixe na psicultura.
Mundialmente, o sorgo já é o quinto cereal em total de área plantada, atrás de trigo, arroz, milho e cevada. Estados Unidos e Nigéria são os principais produtores e a China, que cultiva e consome, recentemente liberou o nome do Brasil como potencial fornecedor – o que coloca ainda mais estímulo à produção nacional por se criar mercado para o grão.
Nos Estados Unidos, onde a produção e o consumo já são consolidados, o sorgo tem diversas utilizações. Além do uso como ração animal, 12% da safra é destinada à produção de biocombustível.
Por lá, o grão também está sendo testado na fabricação de ração para pets (cães e gatos), por ser rico em proteína e ter propriedades que ajudam a manter a saúde de animais com problemas de peso ou idosos.
Esse é um mercado em potencial também no Brasil. Estima-se que existam no país quase 150 milhões de animais de estimação, a terceira maior população de animais domésticos do mundo, atrás apenas dos EUA e da China, segundo a consultoria alemã GFK.
O uso para alimentação não se restringe aos animais. Por ser um grão sem versões transgênicas e totalmente glúten free, ele tem sido muito utilizado na fabricação de massas e bolos de países europeus como Itália e França.
Já utilizado para produção de etanol, o sorgo também tem sido alvo de pesquisas no Japão, onde estudos mostram potencial para produção de biogás a partir da sua biomassa, em complemento ao que já é feito com milho e cana, por exemplo.
No Brasil, segundo Sawa, além do etanol e da biomassa há um grande potencial para o uso do sorgão gigante para queima em caldeiras de usinas termelétricas, em substituição do carvão vegetal feito com madeira.
“É mais sustentável porque não precisamos tirar de lugar algum. É possível plantar sorgo com essa finalidade exclusiva”, afirma.
Custo menor de produção
Embrapa e consultorias que estudam o grão estimam que a produção do sorgo tem um custo entre 20% e 30% menor do que o milho.
No uso para produção de biodiesel, o nível de produtividade é praticamente igual, com diferenças no potencial nutritivo para uso em ração animal, especialmente nos gados de corte e leite.
Por ser mais rico em proteínas, recomenda-se que a dieta animal que utiliza sorgo seja complementada com milho, que é mais rico em amido – ou seja, carboidratos.
Portanto, ele não compete por espaço de cultivo com o milho, mas atua como uma alternativa para as janelas de produção de soja e do milho por ter ciclo de produção curto – de 110 dias, segundo Sawa.
Por suas características mais resilientes ao clima mais seco, o sorgo aparece também como uma das culturas que podem ser utilizadas para recuperação de áreas de pasto degradado, pois é facilmente integrado a um modelo rotativo de culturas, com capacidade de produção que pode chegar a 130 toneladas por hectare.
Atualmente, Mato Grosso do Sul é o estado que mais produz o cereal, seguido por Pará e Tocantins. Sozinho, representa 35% da produção nacional, com 1,3 milhão de toneladas.