Em movimento quase silencioso, com esforço limitado de marketing, a estratégia de “varejamos” da Frigol vem avançando "pelas beiradas” e já marca presença em 50 lojas pelo Brasil, com previsão de crescer 30% este ano.
O projeto, chamado de "Açougue Completo Frigol", é baseado na atuação direta da empresa junto a supermercadistas, foi criado em 2017, mas desde o ano passado vem acelerando a presença nos pontos de venda.
Apesar da marca representar números consideráveis, entre 12% e 15% das vendas internas de carne, esse marketing quase low profile, é parte também de uma política estratégica do Frigol, o quarto grupo frigorífico brasileiro e que pode se tornar o terceiro em volume de carne in natura depois que o Minerva comprou 11 plantas no País do Marfrig.
Pedro Bordon, diretor comercial e de marketing da Frigol, disse ao AgFeed que, apesar de ser desenvolvido sem muito alarde, o programa reforça a dedicação da companhia em ser firmar cada vez mais no mercado doméstico.
“Não teríamos problemas de oferta para ampliarmos o programa acima das nossas metas, mas precisamos preservar a entrega de qualidade desses pontos de venda”, diz Bordon.
A explicação está no conceito do Açougue Completo. As empresas de varejo parceiras recebem a identificação visual do Frigol nos seus açougues, levando o consumidor a saber que a carne vendida ali é somente – e exclusiva – da marca.
Para isso, as equipes da companhia fazem treinamento periódico e regular dos funcionários dessas lojas, desde aspectos sanitários até como fazer o melhor preparo dos cortes e desossa, além de auxiliar na diminuição dos desperdícios.
Apesar de considerar que essas vendas exclusivas e fidelizadas sejam “carne de maior valor agregado”, o Frigol entrega o que o ponto de venda precisar e desejar dentro das características de cada público consumidor. Os produtos são desde carne premium, porcionada e embalada, até cortes para os ganchos dos balcões frigoríficos.
O executivo não revela quanto tem sido investido nessas operações, mas fica claro que o Frigol precisa manter o controle dessa corrente para “entregarmos a qualidade”. O que não se exclui, admite, a possibilidade de alguma ocorrência furar o esquema, como a venda de carne de outras origens sob a marca Açougue Completo Frigol.
Bordon já foi Minerva e JBS no passado. Pode-se dizer que nasceu para esse negócio de carne, na tradicional empresa familiar, Bordon, marca sinônimo de exportações até os anos de 1980.
Questionado sobre possíveis parcerias com grandes redes, ele evitou dar detalhes. Mas deixou no ar que para se assegurar da manutenção do sistema a menor capilaridade das frentes de trabalho – ou seu crescimento “calculado”, projetado para avançar novamente 30% em 2024, é mais viável.
Hoje, das marcas mais conhecidas parceiras do Frigol, a maior é o Enxuto, com cerca de 30 pontos, mesmo assim o Açougue Completo só está presente em algumas das lojas.
O foco, mesmo, é a média e pequena rede, ou unidades únicas, somente no estado de São Paulo, onde está a base principal do grupo, que podem ser atendidas por frota própria, já que a empresa fica em Lençóis Paulista.
Bordon revelou ao AgFeed que está finalizando um acordo de cooperação para duas unidades de uma rede paulista do interior que tem 29 lojas, mas não deve divulgar o nome até que o acordo seja firmado, provavelmente em 2024.
O destaque que Bordon faz é o incremento do faturamento dos clientes, com o ticket médio chegando até 30% a mais a partir da incorporação da marca Frigol.
Para a companhia, que também opera duas plantas no Pará e obteve uma receita líquida 53% menor no segundo trimestre de 2023 (R$ 24 milhões) o Açougue Completo é uma das estratégias para seguir avançando no churrasco do brasileiro. É uma forma de compensar as dificuldades que as empresas do setor enfrentaram este ano, especialmente com a suspensão das exportações para a China no primeiro trimestre.
O volume de 12% a 15% do faturamento do mercado interno inclui não apenas os pontos exclusivos, mas também um total de 1 mil estabelecimentos que distribuem a carne com a marca mas não fazem parte do progama técnico. O valor arrecadado no mercado interno do Brasil como um todo representa entre 47% e 48% da receita bruta total da empresa. No acumulado do ano até setembro, o volume chegou a quase 5 mil toneladas de carne.
O diretor da Frigol afirma não conseguir fazer uma conta exata do que isso representou em quantidade de bois, porque os animais abatidos são de diferentes padrões a depender dos cortes, bem como não são exclusivos para a rede de pontos de venda.
O AgFeed conversou com Yago Travagini, consultor da Agrifatto, para fazer uma estimativa com base em 4 mil toneladas, que era o número contabilizado oficialmente até julho.
Se fosse só boi de alto padrão e terminação de peso mais elevada, com mais ou menos 300 kg de carcaça cada, daria entre 13mil e 13,5 mil animais. Porém, como Pedro Bordon disse que todas as linhas da Frigol chegam a esses açougues, inclusive considerando a desossada e industrializada, o número poderia mais que dobrar.