Procura-se diretor financeiro, com experiência em processos de captação e investimento, bom relacionamento com mercado de capitais e tendo, como competências, capacidade de resiliência e dinamismo.
Exige-se sólida formação acadêmica e disponibilidade de mudança para o Interior do Brasil. Remuneração fixa pode chegar próxima de R$ 100 mil, mais variáveis de até 10 salários e incentivos de longo prazo, como participação acionária.
Se houvesse anúncio classificado para a contratação de executivos C-Level, esse seria o texto a ser publicado por distribuidoras de insumos agrícolas de porte médio a grande no Brasil.
A descrição reflete o atual estágio de demandas e remuneração de executivos para as principais posições nessas empresas, segundo levantamento realizado pelo Fesa Group, um dos mais tradicionais recrutadores de profissionais para o comando de empresas do agronegócio.
A partir de entrevistas feitas com executivos de 14 distribuidoras com receita entre R$ 3 bilhões e R$ 9 bilhões, durante o mês de junho passado, a pesquisa apontou que, a despeito de uma retração do setor este ano, elas continuarão demandando profissionais para seus primeiros escalões. E, sobretudo, manterão os salários em um nível elevado.
“Depois de anos de crescimento rápido e de um processo de consolidação, liderado por grandes empresas e com a entrada de fundos de investimento e empresas de capital estrangeiro no negócio, começa a haver uma acomodação”, afirma Anderson Schemberg, diretor e sócio da Fesa, responsável pelas regiões de Minas Gerais, Centro-Oeste e Norte do Brasil.
“Mas uma acomodação já em um patamar alto, com supersalários fixos e talvez apenas com políticas de variáveis um pouco menos agressivas”, completa.
Segundo Schemberg, nos últimos meses a maior demanda no setor foi por executivos da área financeira, para cargos de CFO. Nessa função, de acordo com o levantamento, os salários oferecidos podem variar entre R$ 70 mil e R$ 96,2 mil.
Outra área bastante demandada tem sido a comercial, com remunerações um pouco maiores. Nela, a faixa salarial fica em um intervalo entre de R$ 70,5 mil e R$ 105mil.
Para executivos da área de operações (COOs), a média da remuneração está em R$ 80 mil, praticamente o dobro do que acontece para executivos de recursos humanos, com ofertas entre R$ 40 mil a R$ 49 mil mensais.
“Acreditamos que as bases devem permanecer dentro da faixa identificada, havendo oscilações maiores nos incentivos de curto prazo, com tendência de queda nos múltiplos de salário”, avalia Schemberg.
A escolha por analisar especificamente as oportunidades na cadeia de distribuição vem justamente de uma maior movimentação neste segmento, que, como lembra o executivo, sofreu grandes transformações nos últimos anos.
De acordo com o sócio da Fesa, as empresas de distribuição careciam de parâmetros para definir os níveis de remuneração dos seus principais executivos e acabaram sendo bastante agressivas para garantir a atração de profissionais disputados no mercado.
Talento disputado
Realizada em junho, a pesquisa já encontrou o segmento passando por um processo de reestruturação, diminuindo ritmo de expansão e mais preocupada com a redução de custos e com preocupação grande de manter despesas financeiras sob controle.
Mesmo assim, analisa Schemberg, não houve retração nas remunerações oferecidas, inclusive pelo fato de empresas de outras áreas do agro – inclusive bancos e financeiras – também estarem demandando profissionais qualificados.
Schemberg acredita, assim, que essa tendência de acomodação de remuneração em um patamar elevado se repita em outros segmentos, com demandas por profissionais se mantendo forte desde empresas de produção agrícola até as indústrias de sementes e insumos ou mesmo o setor financeiro associado ao agronegócio.
“Toda a cadeia está bem aquecida, ainda. Com anos sucessivos de crescimento, o mercado de trabalho do agronegócio foi influenciado de maneira positiva, com altas de remuneração muito grande em todos os níveis”, diz.
A demanda por profissionais para empresas do setor costuma vir acompanhada de desafios típicos do interior do País: a atração de talentos para posições longe dos grandes centros. “Há um desafio muito grande de falta de mão de obra e isso inclui o meio pirâmide e até níveis mais baixos”, diz.
Uma das exigências mais difíceis de atender nos altos escalões, segundo Schemberg, é o domínio de outros idiomas, especialmente o inglês. Com mais grupos estrangeiros atuando no agro, o que era um diferencial passou a ser uma competência padrão.
A disponibilidade para mudanças e viagens também ainda restringe o interesse de executivos. Isso é um problema adicional, principalmente porque a maior oferta de vagas tem vindo de empresas baseadas nas regiões Centro Oeste e Norte.
“Em áreas como a comercial, chegamos a ter casos de profissionais sendo disputadospor quatro ou cinco empresas ao mesmo tempo”, conta.
“Falta gente, principalmente de ponta. A carência é muito grande em regiões mais remotas”, diz o head hunter.