Durante décadas, quem passasse em frente de estande da gigante global de irrigação Valmont em feiras agropecuárias do Brasil se deparava com pivôs enormes, principal produto para agricultores que procuram garantir "chuva a qualquer momento do ano” nas fronteiras agrícolas do País.
Os tempos de ESG, no entanto, trouxeram novos ventos também para esta indústria. Na Expointer, principal feira agropecuária do segundo semestre no Brasil, que terminou neste domingo (3 de setembro), isso ficou muito visível.
No espaço da Valmont, que é proprietária da marca Valley, o maior quinhão estava dedicado a um painel solar – acompanhado de equipamentos de irrigação. Era parte da demonstração de um produto que a empresa chama de "Insights", sistema de inteligência artificial e câmeras de monitoramento acopladas ao pivô, que são capazes de identificar plantas daninhas e oferecer recomendações agronômicas.
"O pivô ainda é o negócio da companhia e vai continuar sendo, mas irrigar ou não irrigar não é o que nos diferencia em relação aos concorrentes. Nossa proposta é agregar valor ao produtor rural, permitindo que com o mínimo recurso ele obtenha o máximo de produtividade", afirmou Felipe Vieira, vice-presidente para a América Latina da Valmont, ao AgFeed.
Um dos pilares nesta estratégia de diversificação foi oferecer soluções para um fator limitante ao avanço da irrigação, que é a necessidade de energia elétrica para que os equipamentos funcionem.
Há três anos a Valmont virou sócia majoritária da Solbras, empresa brasileira de energia fotovoltaica. Desta forma, ampliou o portfolio e também agregou mais uma tecnologia sustentável aos sistemas de irrigação que comercializa.
"Nós montamos sistemas on grid e off grid híbrido, através da energia solar, com foco na necessidade das propriedades rurais, afinal as redes elétricas no Brasil muitas vezes não estão disponíveis na qualidade e na quantidade necessárias”, explica Vieira.
O executivo ressalta que, além da energia solar, as tecnologias de aplicação de água em taxa variável instaladas no pivô também fazem parte deste diferencial da empresa do mercado e do reposicionamento que vem adotando nos últimos anos.
O "Insights" pode inclusive ser usado para fazer o tratamento de pragas e doenças. A solução foi desenvolvida depois que a Valmont comprou globalmente uma agtech israelense chamada Prospera e integrou a tecnologia ao seu portfolio.
"Queremos ser uma indústria para ajudar a gerenciar os recursos, por isso temos mecanismos para fazer a gestão da aplicação da água, indicar que dia é melhor colocar, qual capacidade de retenção deste solo e, por meio de sensores e estações meteorológicas, saber cuidar disso tudo, para obter o melhor resultado", reforçou ele.
Na opinião de Vieira, quem ainda vê os pivôs de irrigação como "gastadores” de água é porque não conhece em detalhes as tecnologias cada vez mais avançadas.
"A irrigação é ESG de nascença. Água você empresta, não consome, a não ser que vire salinizada”, diz.
Plano de expansão
No início de novembro a Valmont inaugura as novas instalações de sua fábrica em Uberaba, Minas Gerais. O investimento foi de US$ 15 milhões, segundo Vieira, e a previsão é dobrar a capacidade de produção (que o executivo prefere não revelar).
"Em todo o primeiro semestre deste ano operamos com 100% da capacidade da fábrica e só conseguimos atender a demanda porque houve um reforço com importações. Por isso essa expansão é importante", afirma o vice-presidente.
A previsão da Valmont é fechar 2023 com crescimento de 30% nas vendas em relação ao ano anterior.
"Estamos batendo um novo recorde, que já havia sido alcançado no ano passado, mas neste segundo semestre observamos uma desaceleração do mercado", pondera o executivo.
Felipe Vieira diz que os preços mais baixos das commodities e a expectativa de que as taxas de juros serão menores em 2024 estão refletindo em cautela por parte dos produtores, que preferem aguardar mais antes de fazer novos investimentos.
Ele admite que, por enquanto, espera apenas repetir o faturamento que teve este ano em 2024, cenário que poderá ser revisto ao longo do primeiro semestre. A empresa não divulga quanto fatura no Brasil.
"Mas posso te dizer que, dos 273 mil hectares adicionais de área irrigada instalados em 2022 no, País praticamente a metade foram projetos comercializados pela Valmont", estima.
O Brasil tem hoje cerca de 2,5 milhões de hectares irrigados com pivôs. A estimativa é de que o potencial é chegar a 12 milhões de hectares, "só não sabemos exatamente quando isso vai ocorrer", diz o executivo da Valmont.
De qualquer forma, acredita que nos próximos 10 anos é possível triplicar esta área irrigada.
"Mesmo as regiões que têm boa quantidade de chuva, com as mudanças climáticas, passam a ter chuvas mal distribuídas. Há também o desafio de aumentar a produtividade para compensar o aumento no custo dos insumos e a irrigação pode trazer este equilíbrio, quando se coloca na ponta do lápis, permitindo produzir soja, milho e feijão em uma mesma área, por exemplo”, lembra.
Ele afirma que o impacto financeiro gerado pelos sistemas de irrigação é maior em culturas como alho, cebola e café, por exemplo. Mas destaca que, em volume de negócios, a soja e o milho seguem sendo os maiores clientes da empresa, com crescimento mais expressivo no oeste da Bahia, Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais.
A presença na Expointer, feira que costuma atrair mais produtores da região Sul, segundo Vieira, “é pela importância do evento e também pela maior necessidade de investimento por parte dos agricultores gaúchos".
O Rio Grande do Sul enfrentou três safras seguidas de quebra na produção devido aos problemas climáticos causados pelo fenômeno La Niña.