ESTEIO (RS) - No final dos anos 1990 um criador de bovinos da raça Simental chamou a atenção ao instalar um computador “486” junto de seus animais, em pleno pavilhão da Expointer.
Era o empresário Eduardo Borges de Assis, que na época aproveitava para mostrar vídeos de outros animais que haviam ficado na fazenda e que ajudariam a “comprovar” a qualidade genética de seus exemplares.
Depois deste “ato disruptivo”, que chamava a atenção na época, Eduardo Borges de Assis seguiu inquieto e sempre atento a tecnologias. Hoje vice-presidente da Febrac – Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça, uma das entidades que promove a Expointer –, o produtor foi um dos idealizadores do espaço criado em 2022, chamado de RS Innovation Agro, fisicamente instalado na casa da Febrac, dentro do parque de exposições de Esteio.
Quem passava pelo local este ano mais uma vez era atraído pela presença do “cusco tech”, apelido dado a um cachorro robô que ficou famoso no espaço desde o ano passado.
Trata-se de um dispositivo produzido pela empresa Futuremedia, do Rio de Janeiro, mais focado no apoio a deficientes visuais e ainda sem utilização prática no agro – a presença dele é mais “um chamariz” para que o visitante conheça o espaço dedicado a tecnologias.
Na edição 2023 do RS Innovation Agro estão presentes 80 startups que apresentam soluções para agricultura e pecuária. Há uma divisão por grupos e um revezamento – cada agtech pode ficar 2 dias, sendo que a feira tem 9 dias de duração - este ano começou em 26 de agosto e vai até 3 de setembro.
“Antigamente, na Expointer, alta tecnologia só se via na área de máquinas agrícolas. Eu comecei a estudar blockchain, inteligência artificial e outras tendências e achei que precisávamos trazer mais deste mundo tecnológico, inovador, para perto de todos os produtores rurais, inclusive os pecuaristas”, explicou Assis.
A iniciativa parece ter dado certo. Nos dias em que o AgFeed passou pelo local, estava sempre lotado. Pessoas que circulavam para ouvir os “pitches”, assistir palestras sobre diferentes temas, ou por mera curiosidade.
Eduardo Assis disse que no ano passado 41 mil pessoas visitaram o espaço, número que foi atingido este ano na metade da feira.
“Em 2022, as startups que passaram por aqui conseguiram R$ 3,5 milhões em investimentos, alguns acertados dentro da própria feira e outros em contatos iniciados aqui”, destacou.
Este ano os organizadores esperam repetir este volume financeiro e dizem já estar recebendo convites para levar o evento a outras exposições agropecuárias pelo País.
“Possivelmente ano que vem possamos aumentar o espaço aqui na Expointer também, construindo um segundo andar na casa da Febrac, para trazer mais participantes que, por falta de espaço, demonstram interesse, mas acabam ficando de fora”, explica.
O RS Innovation atualmente é feito em parceria com duas secretarias do Governo do Rio Grande do Sul (Indústria e Comércio, e Turismo), além do Sebrae, que é o responsável por fazer a seleção das agtechs que vão a Esteio.
Na lista das agtechs participantes há quem esteja ainda em fase de MVP, até aquelas que já começam a ganhar escala, conquistando clientes.
No cardápio deste ano havia muitas soluções ligadas ao universo ESG, com foco, por exemplo, na redução do uso de defensivos agrícolas, desenvolvimento de fertilizantes mais eficientes ou melhorias em processos de gestão.
A Brazil Beef Quality, de Piracicaba-SP, foi ao RS Innovation pela segunda vez. A empresa desenvolveu um aplicativo capaz de “ler” se determinado corte de carne é macio, tem bom marmoreio e está dentro dos padrões de qualidade reconhecidos internacionalmente.
Com clientes no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, o diretor Marcelo Coutinho disse ao AgFeed que “está muito perto de fechar o primeiro contrato comercial com uma empresa do Rio Grande do Sul. Segundo ele, a presença na feira está sendo importante nesta se expansão.
Cautela nos negócios x recorde de público
Os organizadores da Expointer pretendem divulgar o volume de negócios da 46ª edição no domingo, último dia do evento. Mas o AgFeed conversou com algumas lideranças e o sentimento é de que, apesar dos preços mais baixos em grãos e na pecuária, deve ser possível pelo menos igualar o volume de negócios do ano passado, que foi de R$ 7,1 bilhões.
“Nas máquinas, esperamos repetir os R$ 6,6 bilhões faturados em 2022 porque percebemos, por exemplo, uma demanda maior por parte dos produtores de arroz, em meio a preços mais altos, em função dos problemas com os países que se destacam na produção do cereal”, afirmou o presidente do Sindicado da Indústria de Máquinas Agrícolas (Simers), Claudio Bier.
Ainda assim, o dirigente destaca que o acesso a financiamentos é um fator que preocupa. “Pedimos ao ministro Carlos Fávaro, que nos visitou aqui na feira, para que seja antecipada a liberação de recursos do Moderfrota, prevista somente para novembro”, revelou.
A líder de marketing da marca Semeato, Luana Santos, confirma este cenário. Segundo ela, na feira este ano talvez não seja possível crescer, devido às dificuldades de acesso ao crédito. “Mas no primeiro semestre conseguimos crescer 30% em relação ao ano passado, principalmente pela venda de implementos para pequenos produtores e também na comercialização de uma máquina voltada ao plantio do arroz”, disse.
Enquanto isso, a Expointer vem crescendo na quantidade público. Até quarta-feira passaram pelo Parque de Exposições Assis Brasil mais de 404 mil visitantes, acima dos 343 mil do mesmo período de 2022. Como os finais de semana costumam registrar grande movimentação, é possível que o último recorde, registrado no ano passado, seja batido, segundo os organizadores.