A startup Ages Bioactive está em campo. Com uma nova rodada de captação na rua, seus findadores têm conversado com investidores e pretendem arrecadar algo entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões.

Nas reuniões, eles apresentam uma tese que já convenceu gestores experientes, como Renato Ramalho, da KPTL, um dos pioneiros e mais ativos no ecossistema agtech no Brasil. No ano passado, ele entregou à empresa um cheque de R$ 8 milhões – o primeiro do fundo Floresta e Clima, criado em 2022 e que já conta com R$ 200 milhões sob gestão, conforme revelou Ramalho.

A Ages foge um pouco do perfil das agtechs, posicionando-se mais como uma healthtech. Seu foco é produzir produtos que previnem e retardam o processo de envelhecimento, e não com remédios para um tipo de doença. O foco, portanto, é paliativo, e não curativo.

Os insumos para sua produção, porém, vêm do campo, seja de lavouras, seja de sistemas agroflorestais. Dentre os cerca de 10 extratos que a empresa trabalha atualmente, estão produtos originados de plantas como o açaí, o urucum, a camu-camu, o buriti, e o tucumã.

“Conforme o agro foi crescendo, os processos de industrialização de alimentos desenvolveram subprodutos”, explica o CEO da Ages, Caio Agmont, ao AgFeed. “Esses subprodutos começaram a ser estudados com um olhar metabólico, para ter uma funcionalidade, o que fez surgir o mercado de nutracêuticos”.

Os sócios da Ages transportaram esse conceito para plantas “alternativas” e nativas da região amazônica. O objetivo deles é aproveitar a biodiversidade local e utilizar extratos de plantas locais para criação de suplementos naturais.

Segundo Agmont, a empresa segue a premissa da OMS, que declarou que a década de 2021 até 2030 será a década do envelhecimento saudável.

Na visão do executivo, os países europeus tomaram a dianteira desse mercado de nutracêuticos, enquanto o Brasil, que possui uma das maiores biodiversidades do mundo, ficou para trás.

Esse foi um dos questionamentos que Caio e os outros fundadores Fabio Steinecke (CRO) e Alejandro Espinola (COO), tiveram ao criar a empresa lá em 2020.

“Quando montamos a operação da Ages, unimos a ciência das chamadas moléculas de alta funcionalidade com demandas de problemas de saúde e longevidade. Nesse momento, criamos o projeto para criar produtos globais”, afirma.

Na parte científica, a equipe fundadora contou com o ex-reitor da Universidade Federal do Amapá e autoridade no tema, José Carlos Tavares.

Além disso, quando começaram a se aproximar das primeiras moléculas que poderiam virar produtos, perceberam que o clima brasileiro seria um bom aliado na qualidade dos suplementos.

“Percebemos uma capacidade metabólica maior em comparação com as moléculas lá de fora, e por uma razão simples. Uma planta amazônica, pela localização geográfica, recebe mais radiação solar que países temperados, e essa radiação alta fez a planta desenvolver novos mecanismos de resistência e propagação”, explica o CEO.

O primeiro produto, chamado Chronic, é um extrato que atua no sistema musculoesqueléticos. Na prática, segundo a empresa, previne problemas como osteoporose, artrite, artrose e fragilidade óssea.

Para criar o Chronic, a empresa utilizou um complexo oleoso extraído das sementes da Bixa orellana L, nome científico do urucum, fruto comum da região amazônica conhecido pela cor vermelha e pelo seu uso como corante.

O processo de extrair essas moléculas e criar os produtos que serão encapsulados é minucioso. Agmont explica que, para cada uma tonelada de sementes, só 30 quilos (ou 3% do total) viram óleo. Desse óleo, que é processado e limpo, sobram 15 kg, que por sua vez, geram 10% do que a Ages realmente vai utilizar.

Por isso, um dos desafios da empresa tem sido arregimentar parceiros estratégicos para construir uma cadeia de abastecimento.

Os extratos produzidos seguem para uma fábrica da empresa, onde passam por um processo de refino semelhante ao que é feito pelas petrolíferas, que transformam o petróleo cru em produtos derivados.

Uma vez colhido e transformado em cápsulas, o suplemento é vendido apenas para hospitais, nutricionistas e médicos, para que eles revendam a pacientes, se for o caso. “Criamos os produtos primeiro para os ‘decisores’ de saúde. Nós só fazemos o trabalho científico”.

No mês de julho, a empresa vendeu cerca de 500kg em ativos, algo que, nas contas do CEO, equivale a cerca de 35 mil prescrições médicas.

No futuro, a meta é expandir essas prescrições, ou como disse o CEO, “vidas impactadas” em 350 mil por mês, além de internacionalizar a operação.

Esse primeiro recurso serviu para expandir a equipe de cientistas e acelerar o desenvolvimento de produtos.

Com o aporte, a empresa lançou, depois do Chronic, o Ormona, focado na saúde hormonal feminina. Esse produto utiliza extratos também de urucum e de outras ervas.