O setor de distribuição de insumos agrícolas vai se lembrar com pouca saudade do primeiro semestre de 2023. Com um acúmulo de resultados negativos como há muito não se via, as principais companhias do setor têm se empenhado em enxergar sinais positivos no horizonte, já pensando em recuperação no próximo ano safra.

O AgroGalaxy foi além. Simultaneamente à divulgação do balanço com os números referentes ao segundo trimestre de 2023 – que como já era esperado, trouxe números fracos –, publicou um fato relevante em que expressa, oficialmente, sua expectativa de que o ano termine “muito bom”, conforme palavras do CEO, Welles Pascoal.

No documento protocolado na noite desta segunda-feira, 14 de agosto, na CVM, o AgroGalaxy prevê que a receita chegue, em 31 de dezembro próximo, a algo entre R$ 11 bilhões e R$ 11,3 bilhões. Já para o Ebitda, a expectativa é para o intervalo entre R$ 500 milhões e R$ 550 milhões.

São números inferiores aos de 2022 – em que a receita ficou em R$ 11,6 bilhões e o Ebitda, em R$ 700 milhões. “Mas 2022 foi um ano excepcional”, disse Pascoal ao AgFeed, em entrevista para comentar o balanço.

Eron Martins, CFO da companhia, defende que a comparação, assim, seja feita com os números de 2021 – receita de R$ 6,6 bilhões e Ebitda de R$ 394 milhões. “Isso é que vai mostrar o crescimento normal da empresa”, afirmou Martins.

Para atingir as previsões feitas no fato relevante o segundo semestre terá de ser bastante diferente do primeiro. A receita líquida do período até junho ficou em US$ 4,6 bilhões, quase 10% abaixo do obtido nos mesmos meses em 2022. O número do segundo trimestre (R$ 1,8 bilhão), isoladamente, foi 7% inferior ao do correspondente no ano passado.

Grande parte dessa redução pode ser explicada com a retração de 39%, na comparação ano a ano, da receita com insumos, que totalizou R$ 479 milhões no trimestre.

Já o Ebitda ajustado ficou negativo (em – R$ 13,9 milhões) no semestre e o lucro bruto ajustado atingiu R$ 350 milhões.

A visão mais positiva dos executivos se deve tanto a um cenário que parece estar se normalizando, depois de um período de ajustes severos em toda a cadeia do agro, provocado por aquilo que Pascoal chama de “conjunção perfeita de fatores negativos”.

“Agora estamos com a casa arrumada”, afirmou. Um dos pontos críticos atacados foi o excedente de estoques, que afetou o segmento como um todo. Pascoal afirma que a empresa fechou 2022 com um índice recorde de 30% de inventário de químicos, o que correspondia a R$ 1,6 bilhão em valores.

Desse total, disse, a empresa conseguiu vender R$ 900 milhões. Outros R$ 400 milhões foram devolvidos à indústria, após negociações. “Hoje temos R$ 300 milhões em estoques, o que é super sadio para nós”, disse Martins.

O CFO destacou também o impacto da redução da carteira de pedidos no período. Comparando junho de 2023 com junho de 2022, é 31% inferior. “O agricultor ainda está esperando o preço dos insumos cair mais”, afirmou.

Segundo Pascoal, o produtor está voltando lentamente às revendas, sobretudo para aquisição de sementes e fertilizantes. Em julho, disse, as vendas de semente de soja já foram expressivas. “A expectativa que temos é de um excelente segundo semestre”, afirmou Pascoal.

“Temos hoje o nível de estoque, o tamanho de equipe e a estrutura de caixa que precisamos para avançar nos próximos anos”, reforçou. Isso foi obtido com cortes de pessoal (reduzido em 8,6% no trimestre) e redução no ritmo de abertura de novas lojas.

Das 12 previstas inicialmente para 2023, seis já foram abertas e apenas mais duas serão inauguradas ainda este ano. Depois disso, o AgroGalaxy deve suspender investimentos nessa área. “O objetivo, agora, é capturar mais valor das lojas que já temos, concentrando nossos esforços em reduzir o período de maturação das novas unidades”.

Segundo Martins, também haverá um empenho maior em reduzir os níveis de inadimplência para “a faixa de um dígito”. Ele não quis revelar a atual taxa. Disse que as negociações estão em curso, tendo como base a valorização dos grãos, e que pelo menos 500 clientes já foram negativados.

“O grão está lá, com o produtor. É uma questão de timing para ele vender”, afirmou Martins.

De fato, um dos pontos positivos do balanço divulgado foi o crescimento, de cerca de 19%, no volume de grãos recebidos pela companhia no trimestre. Esse foi o dado destacado, em conversa com o AgFeed, pelo fundador do Aqua Capital, fundo controlador do AgroGalaxy.

“Isso demonstra a confiança do produtor na empresa”, afirmou, também apontando para a recuperação.