A história de Chaim Zaher vale um filme. Nascido no Líbano, veio ainda jovem para o Brasil. Trabalhou como garçom, porteiro e vendedor de matrículas em um cursinho na cidade de Araçatuba, no interior de São Paulo, até abrir seu primeiro negócio na área de educação: o Conequipe, curso pré-vestibular em parceria com o Equipe Vestibulares.
De lá pra cá, foram-se quase 60 anos e muitos bilhões de reais. Hoje dono do Grupo SEB, um dos maiores do setor educacional do País, e sócio da Estácio, os olhos de Zaher estão em um terreno vizinho à área onde se realiza a Agrishow, maior evento brasileiro de máquinas e tecnologia agrícola.
Ali ele começou a semear, com investimentos iniciais de R$ 500 milhões, o que está sendo chamado de “Cidade do Agro”, um complexo de 400 mil metros quadrados com shopping, hotéis e restaurantes. “Um local que tenha tudo que o agricultor precisa”, resume ao AgFeed.
O projeto é resultado do encontro entre o bilionário e dois nomes consagrados do agronegócio: Marcos Fava Neves, conhecido como Dr. Agro, engenheiro agrônomo e professor da USP, e Roberto Fava Scare, seu sócio na consultoria Markestrat.
O primeiro passo dessa empreitada passa justamente pela educação. Zaher e os sócios já anunciaram a criação da Harven Agribusiness School, uma escola de negócios voltada exclusivamente para o agro.
A universidade, que já tem aprovação do MEC e deve começar a funcionar no ano que vem, ofertará inicialmente os cursos de Direito, Administração e Engenharia de Produção, todos com conteúdo focado no agronegócio, área que, segundo ele, possui uma defasagem em termos educacionais.
“A Harven chega para superar uma lacuna, investindo na formação de profissionais voltados exclusivamente para o agro”, destaca Zaher. “No futuro, pretendemos inaugurar uma escola de ensino básico também voltada para o agronegócio. A faculdade é o pontapé inicial de um plano inovador”.
Zaher, cujo patrimônio é avaliado em R$ 3,5 bilhões, tem faro para bons negócios. Depois da abertura do primeiro cursinho, fez uma série de aquisições no segmento de educação (como a do grupo COC, de Ribeirão Preto), até formar o que hoje é o SEB, que tem mais de 300 mil alunos matriculados em 260 escolas, com 15 marcas diferentes, do ensino básico ao superior.
Possui uma participação de pouco mais de 10% na Yduqs, dona da Estácio, onde sua filha, Thamila Zaher, atua como vice-presidente do conselho de administração.
O empresário costuma se cercar de parceiros em suas empreitadas. Em termos financeiros, por exemplo, ele já busca investidores para participarem no aporte de R$ 500 milhões previsto para o projeto agro.
“Teremos investidores estrangeiros. É um projeto grande que cabe a entrada de novos parceiros e eu já estou em contato com investidores do fundo soberano árabe”, afirma.
A expertise de Zaher na educação foi fundamental para dar o primeiro passo e a escolha por Ribeirão Preto como sede do projeto foi natural. Uma das capitais do agronegócio brasileiro, é onde estão as sedes do Grupo SEB e também da da parceria Markestrat.
Futuros líderes
“Nossa ideia é formar os empresários de amanhã, até porque somos uma escola criada por empresários, com uma ideologia voltada para o mercado”, afirma Marcos Fava Neves, especialista no estudo de cadeias produtivas do agronegócio.
Ele e o sócio Roberto conversaram com o AgFeed na semana passada diretamente da Nova Zelândia, onde foram os únicos representantes brasileiros a participar do congresso do IFAMA (International Food and Agribusiness Management Association).
No futuro, com 15 horas a frente do fuso-horário brasileiro, eles comentaram que a Harven Agribusiness School terá como foco formar “os futuros líderes do agronegócio”.
Escolas superiores voltadas para o agro já existem. O exemplo mais notório é a Esalq, escola de ciências agrárias da USP em Piracicaba. Lá, mesmo os cursos de economia e administração, por exemplo, são focados na atuação do agronegócio.
Na Harven, segundo os sócios, a diferença de que o conteúdo será mais focado no mercado de trabalho e na criação de novos negócios, num esquema “de empresários atuais para os futuros empresários do agro”. A Harven oferecerá programas de mentorias com grandes empreendedores e professores consagrados do segmento.
“Seremos uma instituição de ensino superior que tem uma proposta de desenvolvimento corporativo. Além disso, temos um entendimento dos objetivos das empresas, o que nos permite um desenvolvimento e acesso a uma entrega especializada”, comentou Roberto Fava Scare, CEO da Harven.
Nessa união, a Markestrat, empresa de consultoria, inteligência de mercado e educação corporativa para o mercado agro, entra com a expertise do setor enquanto o Grupo SEB entra com a parte de tecnologia na educação. “Essa sinergia com as capacidades do grupo atraiu a atenção do Chaim”, comenta Scare.
Marcos Fava Neves explica que, no dia a dia das aulas, a ideia da Harven é criar programas de estágios e desenvolver aulas dentro das empresas. “Se o aluno vai ter uma aula sobre o mercado de laranja, vamos dar essa aula lá dentro da empresa que atua no segmento”, afirma.
A faculdade começará com três cursos de graduação, mas a ideia é também oferecer pós-graduação e MBAs no futuro. “Queremos que nossos alunos sejam disputados a tapa pelo mercado de trabalho já no meio dos cursos. Por isso, vamos construir essa rede de fazendas e empresas para parcerias. O primeiro dia [de aula] na Harven já é o primeiro dia de trabalho”, comentaram os executivos.
Chaim Zaher afirma que é possível que existam intercâmbios e trocas entre a Harven e alunos de outras unidades do Grupo SEB.
“No futuro, os estudantes de ensino médio, por exemplo, poderão conhecer a Harven, participar de projetos na faculdade e assistir às aulas de seus interesses. Queremos que essa troca contribua para suas escolhas futuras”, acrescenta Zaher.