A diversificação de receitas da brasileira Copersucar, líder global em comercialização de açúcar e etanol, ajudou a equilibrar os resultados da empresa na safra 2022/2023, com destaque para o gás natural.
O resultado da Eco-Energy, operação da Copersucar nos Estados Unidos, com que atua com etanol de milho e gás natural, foi o melhor da história da empresa.
O faturamento total da Copersucar chegou a quase R$ 70 bilhões na safra 2022/2023, e terminou com um lucro líquido de R$ 679 milhões, 13% abaixo do período anterior, principalmente devido às instabilidades do mercado de etanol no Brasil.
Por outro lado, o mercado do açúcar seguiu aquecido e os negócios da Eco-Energy contribuíram para o melhor resultado, já que trouxeram US$ 7,6 bilhões em faturamento, o que representa, no câmbio atual, mais de R$ 35 bilhões. A subsidiária alcançou US$ 80 milhões de lucro, com um retorno sobre o capital investido em dólar de 35%.
“Neste último período, tivemos uma demanda bastante aquecida por gás natural. A guerra elevou os preços, e tivemos um resultado excepcional, o que não deve se repetir na safra 2023/2024”, afirma Tomás Manzano, presidente da Copersucar.
Ele apresentou os números da companhia para um grupo de jornalistas. Sobre a produção de cana de açúcar, o executivo espera que as cooperativas do sistema Copersucar batam a marca de 100 milhões de toneladas na região Centro-Sul para a próxima safra, mesmo sem projetar expansão de área.
Manzano acredita que o clima mais favorável vai beneficiar a produtividade. Na safra 2022/2023, a produção nas cooperativas do sistema Copersucar produziram 89 milhões de toneladas. O volume leva em conta a adição de três novas usinas durante a safra.
O presidente da Copersucar acredita que as usinas vão optar mais pelo açúcar, que deve continuar com preços favoráveis no mercado internacional. “Acredito que o mercado brasileiro pode chegar a 600 milhões de toneladas de cana produzida na próxima safra, e atingir quase a capacidade plena no açúcar, de 38 milhões de toneladas”, diz Manzano.
Mesmo com esta alta na produção, ele acredita que vai se repetir o cenário de déficit global que foi registrado na safra 2022/2023, ou seja, a demanda vai superar a produção, diminuindo os estoques.
A Copersucar comercializou 11 milhões de toneladas de açúcar na última safra, sendo 2 milhões no Brasil e 9 milhões no exterior.
Sobre os preços, Manzano lembra que o açúcar saiu de uma cotação próxima de US$ 0,15 por libra-peso para algo próximo de US$ 0,25. “Nós tivemos o quinto ano consecutivo de déficit, e chegamos à menor relação entre estoque e consumo dos últimos 13 anos”, diz o presidente da Copersucar.
O executivo projeta uma dinâmica parecida na próxima safra. “Este déficit deve aumentar. Não vejo um aumento na capacidade de produção no Brasil para o curto prazo. Temos incentivo à produção de etanol na Índia, e na Tailândia, há a concorrência do trigo, que está mais rentável neste momento”, diz o executivo.
No etanol, a Eco-Energy movimentou 7 bilhões de litros nos Estados Unidos, e no Brasil, foram 8 bilhões de litros. Manzano espera estabilidade nesta produção para a próxima safra.
“Na última safra, tivemos o maior consumo da história, com o fim das restrições sociais após a pandemia. Devemos ver um ganho de participação do etanol no mercado brasileiro com o fim das isenções tributárias da gasolina”, projeta Manzano.
Ele destaca a relevância cada vez maior do etanol de milho no Brasil, com a produção de 6 bilhões de litros na última safra. “Não acredito que haverá uma concorrência com o etanol de cana. O milho terá um papel mais de complementar a produção”, diz o presidente da Copersucar.
O executivo destaca que um volume muito forte de chuvas entre agosto e outubro, com a chegada do El Niño, e a estrutura logística podem atrapalhar as projeções de recorde na produção e na comercialização do setor sucroalcooleiro.
“Por enquanto, não vimos grandes problemas, até porque houve atraso na produção em algumas regiões. Mas com a expectativa de recorde em grãos e se houver um aumento nas chuvas, podemos ver algum gargalo”.
No aspecto financeiro, o presidente relatou um momento positivo para a Copersucar. A empresa conseguiu diminuir em R$ 600 milhões sua dívida na última safra, para R$ 4,9 bilhões.
“Nós temos R$ 346 milhões a mais de estoque e caixa em relação à dívida, e 70% dos débitos são de longo prazo. Continuamos com uma gestão bem conservadora, mantendo R$ 2 bilhões em caixa”, conta Manzano.