As imagens de terras e instalações alagadas em propriedades rurais ucranianas, divulgadas esta semana, são mais um retrato de um drama que se estende há quase um ano e meio. São resultado da destruição da represa de Nova Kakhovka, no rio Dnipro, cujos autores ainda são desconhecidos, e provocaram a inundação de milhares de hectares produtivos.
Ainda assim, parecem pouco diante do que esses produtores vêm enfrentando desde que a guerra na Ucrânia começou, no início do ano passado. Desde então, muitos se mostraram preocupados com os rumos da cadeia global de suprimentos, avaliando possíveis problemas de abastecimento em diversas culturas e dificuldades envolvendo oferta e demanda ao redor do mundo.
Uma iniciativa, porém, tem destinado o olhar para dentro dos campos, numa empreitada para ajudar os produtores locais ucranianos. O coletivo Farmerhood então foi criado por gigantes globais do agro para arrecadar fundos e apoiar produtores rurais naquele país.
Players globais e grandes grupos locias como Syngenta, Feodal, Kernel, Dar Foundation, Alight e Land O’Lakes fazem parte dessa cadeia de solidariedade, num esforço que tem reunido apoios também no Brasil.
Recentemente, a filial brasileira da empresa canadense de análise geoespacial EarthDaily Analytics, a EarthDaily Agro, anunciou que entrou no projeto, e ajudará os produtores ucranianos com análises feitas por especialistas de safra brasileiros.
Com isso, os profissionais irão auxiliar agricultores ucranianos a monitorar a saúde das lavouras, usar recursos com eficiência e detectar sinais precoces de alerta de problemas ambientais.
Dentre as culturas atendidas, estão plantações de girassol, trigo, cevada e, em menor escala, legumes e frutas.
Na visão de Dave Gebhardt, gerente geral da EarthDaily Agro, a invasão russa impediu os agricultores de alimentar não só o mercado externo, mas a si mesmos e suas próprias famílias.
“Diante de desafios tão profundos, cada unidade de produção de um único agricultor assume importância elevada. O Farmerhood é nossa maneira de usar o poder da boa vontade e da união para apoiar os produtores em seus momentos de necessidade”, afirma.
No projeto, são atendidos cerca de 300 agricultores ucranianos com até 500 hectares. Esses produtores estão localizados em regiões diretamente afetadas pela guerra. Para o futuro, os organizadores já trabalham com a possibilidade do número de produtores ultrapassar 1 mil.
De acordo com Pedro Ronzani, líder de Negócios da EarthDaily Agro na América Latina, os recursos arrecadados por meio do Farmerhood fornecem apoio aos agricultores ucranianos em áreas como a de insumos, serviços de agricultura de precisão, combustíveis e reparos para máquinas.
“Os recursos do governo da Ucrânia e dos grupos humanitários são escassos. Como tínhamos clientes na Ucrânia, pudemos chegar diretamente à comunidade agrícola”, afirmou Ronzani.
Dados da diretoria de agricultura da União Europeia (DG-Agri) mostram que entre 2016 e 2020 a Ucrânia foi o segundo maior fornecedor de cereais do continente europeu, ficando atrás apenas do Brasil.
Além disso, o mercado de químicos e fertilizantes passa, obrigatoriamente, pela Ucrânia. Tanto é que o produto que o Brasil mais compra dos ucranianos, segundo dados da ComexStat, são justamente os químicos.
A cadeia de exportação da Ucrânia, vale ressaltar, está ativa desde o final de julho do ano passado, em um acordo envolvendo a Rússia. Desde então, três portos ucranianos no Mar Negro foram tiveram seus acessos liberados.
Segundo o governo local, as exportações de grãos ucranianos na safra 2022/23 totalizaram 40,7 milhões de toneladas até o final de abril.