Na agricultura, cada safra tem sua história. A Caramuru Alimentos, uma das maiores processadoras grãos e produtoras de óleos vegetais do Brasil, a da atual safrinha será contada em flores.

Para driblar os prejuízos enfrentados nos últimos anos com o cultivo de milho nesse período, a empresa decidiu deixar o senso comum e ampliar sua aposta no girassol.

Além de argumentos econômicos, motivações agronômicas motivaram o movimento. A capacidade de adaptação da planta aos mais variados climas foi um aspecto determinante na decisão da companhia.

“As lavouras de milho plantadas no fechamento da janela têm dado prejuízo na maioria dos anos, ou então não estão dando lucro”, explicou Túlio Ribeiro, coordenador do negócio de girassol da Caramuru, ao AgFeed.

Diante do problema, sentido nas lavouras próprias ou em relatos de produtores que fornecem grãos para processamento na Caramuru, o cultivo do girassol foi a alternativa escolhida, pela possibilidade de trabalhar com uma cultura que possui um maior custo-benefício, além de precisar de menos água para o cultivo.

De 2020 para cá, a área plantada da cultura pela empresa avançou em 149%, chegando aos 46,3 mil hectares neste ano. No total, são 32 mil hectares em Goiás, 10 mil em Minas Gerais e quase 3 mil no Mato Grosso.

Segundo Ribeiro, a demanda hídrica do girassol é 50% menor que a do milho. Desses mais de 46 mil hectares plantados de girassol, a expectativa é de que no mínimo 80% devem apresentar uma boa produção.

O diretor argumenta que a escassez de chuva vista em maio deste ano, por exemplo, não afetou tanto o girassol quanto o milho. “Nós estamos mostrando para o agricultor que ele não precisa plantar milho fora da época ideal”, afirma o diretor.

Para os próximos anos, avaliando a capacidade de campo para crescer, a Caramuru espera ultrapassar os 70 mil hectares de plantio de girassol.

Em 2022, a Caramuru produziu cerca de 37 mil toneladas de girassol. A fábrica tem capacidade de extração e preparação de 500 toneladas por dia de girassol e de 600 toneladas por dia de refino.

Dentre a produção total da Caramuru, o negócio ainda é pequeno comparado às mais de duas milhões de toneladas de soja e as 700 mil toneladas de milho produzidas ao longo do ano passado.

Produção e receitas em alta

Decisões acertadas têm contribuído para a melhora dos resultados financeiros da empresa. A Caramuru Alimentos encerrou o ano de 2022 com uma receita líquida de R$ 8,6 bilhões, um recorde para a companhia e aumento de 13% em relação a 2021. O lucro líquido ficou estável na comparação anual, numa faixa de R$ 350 milhões.

Júlio César da Costa, CEO da Caramuru, afirmou ao AgFeed que este foi o quarto ano de crescimento consecutivo nos resultados, com “conquistas operacionais e financeiras”.

Na prática, a empresa conseguiu aumentar o volume de produtos originados (soja, milho e girassol) em 5,6%, o que aumentou a receita. Preços médios maiores em dólares também contribuíram para o avanço do indicador. Além disso, as despesas operacionais recuaram 7,5% de 2021 para 2022.

Segundo Costa, o portfólio de produtos – tanto destinados ao consumidor final (B2C) quanto ao consumidor intermediário e de indústrias (B2B) – permitiu um crescimento potencial, seja no mercado externo, seja no interno.

O negócio do óleo de girassol está inserido dentro do universo B2C, onde a Caramuru tem como principais clientes o Grupo Mateus e o Carrefour.

Mesmo com resultados expressivos, a empresa descarta, por enquanto, a abertura de capital na bolsa de valores brasileira.

Esse movimento foi cogitado pela empresa anos atrás, mas a instabilidade no mercado de capitais por conta da pandemia de Covid-19 fez a Caramuru traçar outra rota.

No ano passado, a empresa emitiu um CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) no valor de R$ 600 milhões. O título vencerá em fevereiro de 2025.

Unidade de armazenagem da Caramuru em Sorriso (MT)

De acordo com a companhia, o CRA foi caracterizado como green bonds, ou seja, baseado em benefícios ambientais e climáticos gerados pela compra de soja para produção de biodiesel, bem como uma produção agrícola sustentável, processamento primário e armazenagem e contratação de serviços logísticos com baixa emissão de gases de efeito estufa.

“Os recursos líquidos obtidos pela Caramuru serão destinados especificamente às atividades de produção, comercialização, beneficiamento e industrialização de soja em grãos, milho em grãos, girassol em grãos e óleos vegetais, no âmbito das atividades do agronegócio”, disse a empresa em comunicado oficial.

Mercado e demanda

Segundo um estudo da Mordor Intelligence, a produção mundial do girassol gira em torno de 20 milhões de toneladas anuais, com uma perspectiva de crescer cerca de 5% ao ano até 2028. No Brasil, existe um consumo médio de 100 mil toneladas do óleo por ano.

Somado a isso, de acordo com um estudo publicado na OCL (Oilseeds & Fats Crops and Lipids), o óleo de semente de girassol é o quarto óleo vegetal mais popular consumido em todo o mundo.

No ano passado, contudo, esse mercado mundial do óleo enfrentou um problema. Isso ocorreu pois a Rússia e a Ucrânia, países que vivem um conflito bélico desde o início do ano passado, são os maiores produtores da cultura.

Por mais que a demanda, principalmente vinda da Europa, tenha aumentado, a busca pelo produto por aqui também cresceu. Tanto é que nesse cenário, a Caramuru vendeu 100% de sua produção internamente.

“Possivelmente a Argentina, que é o terceiro maior produtor global, tenha atendido a demanda externa”, afirma Ribeiro.