Pedro Iguelka é estudante do sexto semestre de Administração na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Tem apenas 21 anos, mas já criou duas startups. A primeira não vingou. Na segunda, no entanto, já pode ostentar uma conquista de fazer inveja a muito empreendedor mais experiente.

Com a proposta de conectar pequenos produtores aos varejistas e distribuidores do mercado, ele acaba de receber R$ 2 milhões em uma rodada de investimentos na fase pré-seed na Flor e Fruto, empresa que criou, há apenas dois anos, em parceria com Juliana Romeiro e Michel Lancman.

Mais impressionante que o valor captado é o currículo dos seus investidores. O jovem empreendedor conseguiu chamar a atenção até do fundo de venture capital americano Newlin, que entre seus feitos está o de ter sido um dos primeiros a apostar na Tesla, do bilionário Elon Musk.

Além da Newlin, participaram da rodada a Darwin Capital, a Angatú Ventures e os investidores-anjo Ricardo Vasques (ex-VP da Danone), Giampaolo Buso (CEO da Paripassu), Sergio Bronstein (fundador da BZCP), Julio de Angeli (CEO da medCel), André Szapiro (SRM Ventures) e Juliana Bechara (fundadora Bioma Food Hub).

Mas o que a Flor e Fruto, uma empresa ainda nascente e de atuação regional, tem de tão especial para conseguir fazer gente tão experiente assinar cheques? Trata-se de um “marketplace b2b”, como explicou o CEO Pedro Iguelka ao AgFeed.

Na prática, a empresa atua como um intermediário entre os mais de 120 produtores parceiros atuais que estão localizados no município de Jundiaí e no sul de Minas Gerais, e grandes redes varejistas, distribuidoras e boutiques premium em São Paulo.

“Fornecemos o que é essencial para o produtor estar dentro da economia real. Nós auxiliamos na emissão de nota fiscal, na embalagem e no transporte. Provemos para o produtor o necessário com preços acima dos atravessadores locais”, explica o CEO.

A empresa dribla atravessadores que estão nas cadeias de frutas, legumes e verduras (FLV), e a partir dos dados coletados por essa plataforma, tanto do produtor quanto do varejista, é feita uma análise, desde o cultivo até a entrega do produto no mercado.

“Essa possibilidade de eliminar os intermediários melhora as margens de lucro do produtor”, comenta. Com o aporte, a empresa pretende aumentar o time, que atualmente possui 12 pessoas, e expandir os negócios.

Uma das investidoras, Juliana Bechara explicou ao AgFeed que o diferencial que viu na Flor e Fruto foi o olhar que a startup tem para o pequeno produtor, bem como a capacidade de escalar o negócio para outras regiões e outros produtos.

“É difícil achar empreendedor em São Paulo que esteja olhando para o pequeno agricultor, para o solo, continuação de produção em uma escala localizada para ajudar esse cara a ser beneficiado”, afirmou Juliana, da Bioma Food Hub.

Esse aumento de escala, na visão da investidora, só é possível ser feito se o trabalho é conduzido no campo, junto com o produtor. Ela ainda disse que a tese de investimento fez sentido por estar dentro desse sistema de pequenas propriedades, que ainda é deficitário e precisa de uma certa proteção.

“Existe um hype de foodtechs que, às vezes, acabam falando de novos produtos, inovação, mas não falam da produção propriamente dita e de regiões adjacentes à capital”, finaliza.

Foco no valor agregado e no aumento de receitas

Dentro do negócio, a Flor e Fruto tem focado em auxiliar e captar produtores que cultivam produtos de maior valor agregado.

O primeiro foco da empresa foi a physalis, uma fruta pequena de cor laranja, envolta em uma casca fina das folhas transparentes e comumente usada em doces para festas como casamentos e aniversários.

Segundo Iguelka, esse primeiro produto serviu para a equipe entender como escalar cadeias, tanto é que depois da physalis, a empresa passou a lidar com morangos e mirtilos.

A meta da empresa é triplicar o portfólio até o final de 2023, com o foco exatamente em frutas de valor agregado maior, como o mercado de berries e legumes em geral.

Em termos financeiros, Pedro Iguelka afirmou, sem entrar em números, que o faturamento total de 2022 foi batido em um mês durante o primeiro trimestre deste ano. Já para esse segundo trimestre, a empresa deve bater a arrecadação feita no ano passado em apenas uma semana.

“Comecei a empreender aos 17 anos, e montei meu primeiro negócio dentro da liga de empreendedorismo da FGV”, conta Iguelka. Seu primeiro negócio, de 2019, foi um marketplace que conectava médicos e pacientes. Mas não propserou.

No ano seguinte, o jovem foi morar em uma vila agrícola em Israel, onde foi voluntário no campo de produção de tâmaras no meio do deserto.

“Aos poucos fui vendo que, no modelo de negócio deles, era possível promover uma inclusão de mercado e um acesso para os pequenos. Todos vendiam tão bem quanto os grandes, tudo de uma forma digital”, lembra.

Iguelka entendeu que a proposta poderia ser bem-sucedida também por aqui. “isso é essencial pois temos produtores espalhados. Criamos a Flor e Fruto para ser esse articulador de cadeia que fosse único, justo e transparente".

Basta ver se conseguirá ser tudo isso e ainda atender a expectativa dos tubarões que investiram na sua ideia.