O mercado de alimentos de proteínas vegetais alternativas, conhecido como plant based, anda indigesto para investidores. Depois de se mostrarem apetitosas para o mercado no começo da década, as startups que transformaram os hambúrgueres a base de plantas em moda nos Estados Unidos e em muitos outros países não conseguiram entregar os resultados prometidos.
E os consumidores, aparentemente, provaram mas não se tornaram adeptos tão fieis desse novo cardápio. Marcas como Beyond Meat e Impossible Foods, líderes do movimento e em captação, enfrentam críticas e prejuízos, que colocaram em dúvida o retorno dos investimentos recebidos até aqui.
O burburinho lá fora não mudou, no entanto, os planos de uma gigante brasileira das proteínas – sejam de origem animal ou vegetal. Nesta sexta-feira, 12 de maio, a BRF anunciou uma reorganização em seu negócio na área de plant bases, ampliando parcerias e trazendo novas opções ao seu portfólio.
A parceria ampliada envolve a PlantPlus Foods, joint venture da Marfrig (controladora da BRF) com a gigante americana da área de grãos e nutrientes ADM. A marca PlantPlus passa a abarcar todos os produtos análogos à carne – ou seja, que imitam a textura e gosto de proteínas animais.
Já a linha Veg&Tal da Sadia, marca da BRF, será estampada em alimentos com o sabor de vegetais, como hambúrgueres de brócolis e couve-flor empanada, por exemplo.
Marcel Sacco, vice-presidente de Marketing e Novos Negócios da BRF, afirmou que a reorganização deve agradar o consumidor já que o portfólio oferecido será o “mais completo do mercado”.
Sacco e o CEO da PlantPlus, John Pinto, não se assustam com o cenário plant based americano. Em um artigo publicado no começo deste ano, a Bloomberg afirmou que o mercado de plant-based “deveria salvar o mundo, mas virou só uma moda passageira”.
Fundamentou a reportagem com fatos. A Impossible Foods, da Califórnia, já realizou três demissões em massa do ano passado para cá e afastou de vez as chances de abrir capital por enquanto.
Já a Beyond Meat, que possui capital aberto na Nasdaq, acumula uma baixa de mais de 90% nas suas ações desde a máxima. Somado a isso, a companhia registrou um prejuízo líquido de US$ 366 milhões em 2022, ano que também realizou demissões em massa.
Por aqui, no entanto, eles alegam com o horizonte é diferente, mesmo com a perspectiva de que a adoção, pelos consumidores, de produtos plant based não aconteça em um ritmo tão grande como se imaginava antes.
Eles se baseiam em números de estudos realizados pela ADM, mostrando que até 2030 o faturamento global desse segmento chegue a US$ 30 bilhões. No Brasil, a expectativa é de um crescimento de 7% por ano até lá.
Dados do Good Food Institute (GFI), especializado em estudos sobre o mercado plant based, projetam que a participação das proteínas alternativas no mercado global de carne atinjam cerca de 10% em 2030. Em 2020, por exemplo, esse segmento era responsável por 1% do total.
No Brasil, o mercado de substitutos vegetais para carne e frutos do mar alcançou em 2021, segundo o GFI, US$ 107 milhões em vendas no varejo, um avanço de 30% na comparação com 2020. A projeção é que até 2026 este volume ultrapasse os US$ 425,3 milhões.
Para atingir metas de crescimento correspondentes a essa expectativa, BRF e PlantPlus Foods apostam em duas frentes. Primeiro, na venda desse tipo de produto para um público que está buscando mais variedade na própria alimentação, diminuindo as proteínas animais da dieta e incluindo mais fontes vegetais.
“A ampliação do portfólio deve continuar a atrair esse consumidor”, afirma Pinto.
Além disso, contam com a capacidade que BRF e Marfrig possuem de penetração no mercado brasileiro, fazendo chegar essas novas linhas plant-based às prateleiras e geladeiras por todo país.
“O food service constrói hábitos conforme os produtos entram no cardápio, o que ajuda o consumidor a aprender e educar. O crescimento de 7% não é o sonho que imaginávamos, mas é robusto”, afirma Marcel Sacco, da BRF.