Uma das atrações da Agrishow 2023 foi uma versão azul do “Touro de Wall Street”. Fixado na praça central da feira, onde até o ano passado estavam apenas os grandes bancos privados do país, ele dava um sinal: o mercado de capitais e o universo “Faria Lima" aterrissaram para valer no interior do Brasil.
O touro - criação do artista plástico Jotape e emprestado pela Jfl, localizada no bairro de Pinheiros, em São Paulo - foi instalado ali por uma das maiores corretoras do país, a Genial Investimentos, que pela primeira vez montou um estande na feira de Ribeirão Preto.
O movimento era intenso não apenas pela réplica, mas também pelo tradicional brinquedo de martelo de força e pela curiosidade que a empresa despertava.
"O agro é o segmento que mais se desenvolve no Brasil, o nosso 'Vale do Silício' é essa turma envolvida no agro, tem sido maravilhoso estar aqui”, disse ao AgFeed o CEO da Genial, Rodolfo Riechert, que também estava pisando pela primeira vez na terra vermelha da Agrishow.
Um dos objetivos da Genial Investimentos ao marcar presença na feira foi captar novos clientes para o mercado de derivativos agrícolas.
A corretora já é a segunda no ranking em operações de contratos de milho na B3 e aparece em quarto lugar no mercado futuro do boi gordo da bolsa brasileira.
"Pretendemos chegar a primeira posição no prazo de dois anos, porque definimos o agro como um tema estratégico para a Genial, assim como já fizemos no passado com a área de tecnologia", afirmou Riechert.
Com R$ 170 bilhões sob gestão, o CEO da Genial diz que a participação do agro ainda é pequena em relação aos demais setores, mas vê um grande potencial de crescimento.
Ele compara a área de tecnologia, que conhecem bem, com o agronegócio: "No universo tech há empresa de R$ 1 milhão que acha que vale R$1 bilhão e já quer fazer IPO na Nasdaq. No agro é diferente: são pessoas que faturam bilhões, mas muito simples e abertos a conversa", afirma o executivo.
Riechert mostra entusiasmo nesta comunicação mais próxima com o produtor rural. “Claro que os grandes bancos seguem financiando especialmente a compra de máquinas, mas percebemos uma preocupação crescente deste público de se sofisticar e acessar o mercado de capitais e também fazer o controle de risco", acrescenta.
Outra estreante "Faria Lima” na Agrishow foi a empresa de investimentos Galapagos Capital, que pela primeira vez teve um estande próprio para receber os atuais e potenciais clientes.
O sócio da empresa Ricardo Ticoulat diz que o agronegócio é fundamental para a economia brasileira, sendo responsável por mais de 25% do PIB do país, por isso aumentaram o foco no segmento, especialmente nos últimos dois anos.
"Estive na Agrishow pessoalmente no ano passado e percebi que era fundamental estar aqui, por isso desta vez montamos o estande”, afirma.
“À medida que a gente cresce vai criando novas necessidades, chegamos no ponto em que era possível atender a demanda que este negócio tem".
Ticoulat diz que atualmente 40% das operações da Galapagos já estão relacionadas de alguma forma aos clientes de agronegócio.
Desde a criação da empresa, há 4 anos, o executivo afirma que já havia operações ligadas ao setor, entre elas a concessão de financiamento pelo "prazo safra”, quando o produtor rural toma os recursos para plantar e paga o empréstimo após a colheita.
Entre os expositores da Agrishow, além dos grandes bancos tradicionais já atuam no financiamento do agronegócio, como Itaú, Bradesco Santander e Banco do Brasil, cresce também o interesse de outros players do mercado financeiro, inclusive bancos cooperativos.
O BTG Pactual, considerado o maior banco de investimentos do país, montou estande na Agrishow pelo segundo ano consecutivo.
A instituição considera a feira de Ribeirão Preto como o "maior evento dedicado ao agro do país, portanto participa para ampliar a presença no setor".
O agronegócio já representa 20% da carteira de crédito corporativo e vem crescendo ano a ano, informou o BTG. Além da Agrishow, o banco planeja participar também da Expointer, no Rio Grande do Sul, que ocorre no segundo semestre do ano.
Assim como o BTG, a Genial Investimentos também planeja participar de pelo menos mais sete eventos e feiras agropecuárias até o fim do ano.
CRAs e Fiagros
Os principais responsáveis pelo maior interesse das empresas financeiras na Agrishow são os títulos do agronegócio e os novos mecanismos do setor atrelados ao mercado de capitais, com demanda cada vez maior, já que o financiamento subsidiado pelo Tesouro Nacional é insuficiente e os juros dos grandes bancos são considerados muito altos.
A Galapagos Capital diz ter emitido o primeiro Fiagro – Fundo de Investimento das Cadeias Produtivas do Agronegócio – do mercado, uma das grandes apostas do setor para de um lado suprir a demanda de financiamentos por parte dos produtores rurais e, de outro, oferecer novas opções aos investidores.
O CEO da Genial Investimentos, Rodolfo Riechert, no entanto, acredita que o ambiente não está tão favorável ao Fiagro neste momento em função das taxas de juros elevadas e de um temor no mercado de que novas políticas possam ser adotadas pelo governo para taxar o agronegócio. A Genial já fez um Fiagro há seis meses, mas não planeja novos lançamentos por enquanto.
A maior aposta é no crescimento das emissões de CRAs – Certificados de Recebíveis do Agronegócio. A Galapagos, por exemplo, afirma ter alcançado mais de R$ 1 bilhão em CRAs e espera seguir avançando.
"Nós fizemos um CRA de R$110 milhões para um produtor rural de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, por 10 anos, e 2200 clientes da base entraram na operação”, diz Ticoulat.
“É algo muito pulverizado, R$ 50 mil por pessoa, desta forma vai enchendo o copo do investidor, com diversificação de risco e rentabilidade maior".