A semana avança para o final e o consumidor de etanol hidratado ainda não viu a cor das reduções que estão vindo das usinas e distribuidoras, os elos da cadeia atrás dos postos.
Essa última ponta do negócio de combustíveis está segurando as margens para cobrir os custos do renovável comprado até final de abril, que vinha em escalada firme de alta.
A questão mais impactante para as usinas, segundo analistas do setor, é que quando esse reajuste negativo na bomba chegar – o que deve ocorrer na próxima semana - as empresas já estarão com a pressão por cortes de preços na boca do gargalo.
Pelas palavras de Martinho Ono, CEO da SCA Trading, explica-se: a safra de cana do Centro-Sul voltou a andar, a oferta cresceu na marra, e, ainda por cima, tem a possibilidade de a Petrobras (PETR4) reduzir os preços da gasolina nas refinarias compensando a baixa do barril de petróleo, piorando a competitividade do etanol.
Depois de um abril chuvoso, em pleno primeiro mês do ano-safra 23/24, que retardou a industrialização, o tempo voltou a abrir, e as usinas aceleraram a produção, disse o trader.
Ou seja, pelos lados dos fundamentos, a força que o etanol conseguiu com várias elevações semanais seguidas nas indústrias, sendo a última de 6,78% no período de 20 a 4 de abril, de acordo com o Cepea, já se perdeu desde a semana passada, quando o tombo foi de 4,19% (R$ 2,9621 o litro).
Por outro lado, desde 24 de abril até a última quarta, 3 de maio, o barril do petróleo tipo Brent, negociado na praça de Londres, perdeu US$ 10 – nesta quinta (4), está em leve correção, pouco acima dos US$ 72.
Para dar mais robustez a esse cenário, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mostra que o preço do litro da gasolina praticado pela Petrobras está R$ 0,53 acima do preço praticado, em média, no Hemisfério Norte, pelas contas feitas hoje por Sérgio Araújo, presidente da entidade.
“Se a Petrobras vai reduzir o valor da gasolina [vendida às distribuidoras] não se sabe, mas tudo indica, daí que o mercado pressiona e as usinas passaram a ofertar preços menores do etanol”, avalia Ono, da SCA Trading.
A correção negativa está sendo, desde segunda, acompanhada pelos cortes diários que as distribuidoras de Paulínia, principal hub brasileiro, estão propiciando.
Vale registrar que a petroleira estatal do presidente Jean Paul Prates é alinhadíssima ao governo e deve seguir a política de menor repercussão inflacionária possível vindo dos combustíveis, como inúmeras vezes o presidente Lula se pronunciou.
O retoque final nessa história é que é que a paridade do etanol frente à gasolina nas redes de serviços, que se estabeleceu em 70% como nível mínimo de competitividade, pouco cedeu dos 75,4% vistos até a semana passada em São Paulo, por exemplo, pela tabela da SCA Trading.
Com isso, as vendas já vinham fracas e, com esses fatores contrários mencionados acima, “abriu-se a temporada de preços baixos”, acredita outro broker, Paulo Strini, do Grupo Triex.