De cada 10 carros vendidos no Brasil, três são adquiridos para locação, segundo a Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (ABLA).
Foram 600 mil veículos no ano passado, o que ajudou a preservar o resultado das principais montadoras no País.

Fenômeno semelhante, agora, começa a ser detectado pelas montadoras de máquinas agrícolas.

Com a demanda em alta no campo, marcas como Unidas, Localiza e Vamos têm aumentado suas encomendas aos fabricantes e já representam uma parcela importante no faturamento.

“As empresas de arrendamento e locação enxergaram no agronegócio uma excelente oportunidade de expandir sua atuação para novos mercados”, explica Astor Kilpp, gerente de marketing e vendas da LS Tractors.

Desde o segundo semestre de 2022, a fabricante sul-coreana viu a demanda por tratores a pronta entrega aumentar. Mas, diferente do que acontecia antes, as encomendas não foram feitas por revendas, mas sim por locadoras de veículos como Unidas e Localiza, hoje entre as principais clientes da empresa.

Segundo Klipp, as vendas de tratores para as locadoras ganharam corpo e já respondem por aproximadamente 10% do total das vendas da LS.

“Para os próximos anos, vemos a oportunidade de ampliar esse percentual para 15% do total dos negócios”, calcula Kilpp.

Fatores como o alto custo para renovação da frota e as dificuldades de acesso ao crédito contribuem para a expansão desse mercado.

“Para os produtores, é mais atrativo diluir o custo do arrendamento em parcelas e usar a máquina somente quando precisa do que imobilizar uma grande quantidade de capital para investir em máquinas próprias, que ficam um período do ano ociosas”, pondera Killpp.

Atentas a isso, as empresas de locação passaram a investir no arrendamento de caminhões e máquinas para o campo.

A maior demanda, por enquanto, é por tratores de menor porte, entre 80 e 105 cavalos, que são utilizados em segmentos variados.

A indústria responde com lançamento nessa faixa. Recentemente, a LS lançou uma linha de tratores exatamente nessa faixa e aproveitou a Agrishow para lançar o Forest Plus, voltado para o segmento florestal, um dos que mais utiliza os serviços de locação.

Potencial para crescer

O serviço de arrendamento de máquinas agrícolas não é uma novidade no mercado brasileiro. Setores como o citrícola e sucroenergético se utilizam do sistema há muitos anos.

Algumas empresas como a Vamos, por exemplo, são especializadas na locação de maquinário pesado, não só para o agronegócio, mas também para a construção civil.

Somente no Centro-Oeste, principal região produtora de grãos, a empresa mantém mais de 4 mil ativos (entre máquinas e conjuntos de rodo caçamba ou rodo caminhoneiro, veículos responsáveis por escoar a safra de grãos) locados para empresas do agro.

Em comunicado divulgado em março passado, o CEO da Vamos, Gustavo Couto, afirmou que a área de atuação da empresa, apenas na região, pode subir de 14 milhões para 30 milhões de hectares nos próximos cinco anos com a expansão da soja.

Os contratos com o agronegócio representam 30% da receita líquida da Vamos, que atingiu R$ 4,9 bilhões em 2022, 74% acima do obtido no ano anterior.

A chegada das locadoras de veículos de passeio ao setor confirma o forte potencial de negócios para os próximos anos.

Na Unidas, por exemplo, o serviço de arrendamento atende principalmente os setores florestal, sucroenergético e de grãos.

Recentemente, a companhia anunciou também sua chegada à cafeicultura, com a disponibilidade de uma nova linha de colheitadeiras para o setor.

“Nosso objetivo é contribuir com a ampliação da produtividade e a eficiência das operações dos clientes”, afirma o diretor comercial da Unidas Pesados, Marluz Renato Cariani. “Esse mercado é muito amplo e temos empresas no Brasil com diferentes demandas e necessidades”.

O executivo explica que o serviço pode gerar redução considerável no custo operacional das propriedades. “Com o arrendamento de máquinas, o produtor pode economizar até 30% dos custos operacionais”, calcula.

Além disso, as locadoras trabalham sempre com máquinas novas e modernas, o que contribui com melhor desempenho no campo e a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Atualmente a Unidas conta com mais de 200 lojas em todo o país e uma frota total de 100 mil veículos. Desses, cerca de 12 mil são compostos pelos veículos pesados – máquinas, equipamentos e caminhões.

Para atender os clientes do agro, a empresa criou um serviço de consultoria rural, com profissionais que vão a campo e entendem a necessidade real de cada produtor.

“A partir disso, juntamente com o cliente, é possível definir o melhor modelo de negócio para cada operação”.

Outro ponto destacado pelas locadoras na relação com os produtores é a possibilidade de contratação de serviços opcionais.

O diretor-executivo de pesados da Localiza, Marco Túlio Oliveira, explica que os contratos podem ser personalizados com a inclusão de serviços como a manutenção da frota, rastreamento, controle de documentos e de multas.

Com 670 lojas espalhadas pelo Brasil e em cinco países da América do Sul, o grupo vê no campo o potencial para expandir seus negócios nos próximos anos.

No agro, a principal frente de negócios da Localiza é o arrendamento de caminhões para frotas de companhias agrícolas.

Oliveira acredita que esse segmento ainda tem muito a crescer no Brasil, sobretudo em função de o modal rodoviário ainda ser o principal meio para o transporte de produtos agrícolas no País, além de a idade média da frota de caminhões ser superior à de outros países.

Atualmente, cerca de 3% do total da frota corporativa do país é terceirizada, enquanto nos Estados Unidos e Europa esse percentual chega a até 25%.

“Incentivada pelo aumento da demanda, a oferta de caminhões para locação dobrou em 2022. Acreditamos que esse percentual deve crescer consideravelmente no Brasil nos próximos cinco anos”, pondera.