Todas as terças-feiras, um almoço movimenta a sede da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), numa mansão à beira do Lago Paranoá, em Brasília. Lá, os deputados e senadores ligados ao agronegócio debatem posições sobre questões importantes do setor, quase sempre com um convidado especial.
Neste 2 de maio, o ministro Carlos Fávaro sentou-se à mesa com seus ex-colegas de Congresso. O encontro deveria substituir, de certa forma, sua ausência na Agrishow, pelo menos no que se refere a um ponto: o esperado anúncio de equalização que destravaria recursos do Plano Safra que estão retidos no sistema financeiro.
O prato principal, porém, não foi servido. O titular do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) declarou não ter ainda o montante que o Tesouro Nacional liberaria para a equalização dos juros neste finalzinho de Plano Safra 22/23.
Informações colhidas pelo AgFeed junto a assessores de Fávaro e outros presentes ao encontro dão conta de que o ministro ainda dependia de uma reunião com presidente Lula, marcada para a mesma tarde, na qual seriam definidos os valores a serem anunciados.
Mesmo não tendo havido a divulgação do plano de pagamento da diferença entre as taxas do mercado pelas a ser pagas pelo produtor – a ETJ (equalização da taxa de juros) –, a reunião transcorreu em clima de cordialidade e houve até “aplausos” ao ministro, como relatou seu assessor especial Carlos Ernesto Augustin.
A expectativa inicial, mais otimista, é a de que o volume a ser liberado pelo Tesouro giraria em torno de R$ 1 bilhão, mas informações que circularam entre agentes na Agrishow é de que não chegue a R$ 500 milhões.
Em todos os casos, muito longe do pedido originalmente por alguns setores do agro, como a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Segundo o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Pedro Bastos, a proposta original do setor era de que fossem liberados R$ 5 bilhões para o Moderfrota, operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para aquisição de tratores e colheitadeiras, e de R$ 1 bilhão para o chamado Pronaf Investimento, destinado à agricultura familiar.
Caso o ministro Fávaro consiga que o Tesouro Nacional libere R$ 1 bilhão para a equalização dos juros, ficariam “destravados" até R$ 17 bilhões em para as diferentes linhas de crédito, disse o empresário ao AgFeed, e espera-se que Moderfrota e Pronaf estejam contemplados neste total.
Friamente, sob ponto de vista do cobertor orçamentário do governo Lula, não há fôlego para muito, lembra o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz.
“Piores são as perspectivas para o próximo Plano Safra, tendo em vista que o orçamento para o ano todo está tomado”, pontua.
Para a temporada 23/24, cujo montante deve ser anunciado no mês que vem, as chances de o Mapa e o Ministério da Fazenda atenderem os R$ 403,88 bilhões, 18% a mais sobre o volume do anterior, solicitado pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA), são muito remotas.
*Com informações de Alessandra Mello