Uberaba (MG) - São de cinco a dez máquinas, de 1 milhão de Euros (ou R$ 6,3 milhões) cada, no campo. Todas operam simultaneamente, 24 horas por dia, em um período de colheita de 30 dias por ano.
E precisam finalizar o serviço rapidamente, já que a janela entre a colheita e o processamento final do produto é de apenas 4 horas. Se algo falhar, todo o planejamento, do plantio à embalagem com o produto congelado individualmente, é perdido.
É assim que funciona a colheita das ervilhas verdes, alimento tradicional nos mercados europeu e norte-americano. A Oxbo é a única fabricante dessas máquinas de alta tecnologia.
Esse é só um exemplo de como a companhia holandesa se especializou – e prosperou – atendendo “o nicho do nicho” da mecanização agrícola. Além das ervilhas verdes, tem no seu portfólio máquinas para colher de pistaches, espinafre, mirtilo e azeitonas, só para citar alguns alimentos que, poucos sabem, são colhidos mecanicamente.
Nascida na década de 1950 e presente desde 2004 no País, com fábrica desde 2015, a Oxbo definiu agora o Brasil como o mercado a ser expandido e consolidado.
A empresa está transferindo a unidade fabril de Cruz Alta (RS) para Uberaba (MG), inaugurada nesta quinta-feira, 13 de março. Foram R$ 50 milhões investidos na unidade de 96 mil metros quadrados, construída em apenas quatro meses.
O aporte inclui engenharia de desenvolvimento, vendas e pós-vendas no Brasil. Um novo ciclo de investimento de R$ 100 milhões está previsto para duplicar a fábrica em até cinco anos.
Uma nova série das colheitadeiras de café para variedades arábica e conilon e um despendoador utilizado no processo de produção do milho para sementes são as máquinas já produzidas pela Oxbo no Brasil. A capacidade produtiva é de uma máquina a cada oito horas.
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“O que as grandes fabricantes não querem fazer, a gente faz. O nosso foco sempre foi o nicho desse mercado que vive um caminho sem volta de escassez de mão-de-obra”, afirmou Leonardo Ungaretti, chefe global de tecnologia da Oxbo durante visita do AgFeed à nova planta industrial da companhia no município do Triângulo Mineiro.
Mas se a empresa é especialista em produtos quase exclusivos, qual o motivo de ela se intrometer no mercado de colheitadeiras de café, já consolidado no País e com mais de uma dezena de fabricantes que disputam uma demanda de 400 unidades por ano?
Eric Oliveira, gerente comercial da Oxbo no Brasil, e o próprio Ungaretti, têm a resposta.
A tecnologia embarcada, que inclui a configuração exclusiva para a colheita das plantas de conilon ou arábica, capaz de uma colheita mais eficiente possível sem estressar as plantas, é o principal fator.
As máquinas de R$ 1,5 milhão têm piloto e direção autônomos e sensores capazes de detectar variações de rendimentos e informar ao produtor a necessidade do uso de um corretivo para a melhoria na produtividade no ano seguinte.
O projeto de colheitadeiras de café quase morreu dentro da Oxbo. Em 2004, quando a companhia incorporou a norte-americana Korvan, a produção era exclusiva para as lavouras da cultura do estado do Havaí. O projeto foi tropicalizado, testado de 2014 a 2016 no Brasil e lançado comercialmente aqui.
O estado do Havaí virou destino das exportações de algumas máquinas produzidas no Brasil pela Oxbo, ao lado do México.
A escolha de Uberaba para a nova unidade foi estratégica. Ao contrário da operação no Sul, o município do Triângulo Mineiro está próximo às regiões produtoras de café, sementes de milho e milho verde.
Além da produção das máquinas quase 100% nacionais para a colheita de café e para despendoar milho, a empresa importa e monta no Brasil colheitadeiras de acerola, de espigas de milho para sementes e de milho verde.
São máquinas tão exclusivas quanto as de colher ervilha. Estas, aliás, operam no País em lavouras nos municípios de Cristalina e Orizona, em Goiás.

Colheita futura
Em paralelo à consolidação da transição entre as duas unidades, o desenvolvimento de futuros mercados já começou na Oxbo. Os próximos alvos da companhia são as lavouras de tomate, batata, laranja, forrageiras e de fenos, cuja maior parte da produção também orbita em um raio próximo a Uberaba.
“São cultivos diferentes e teremos os desafios de trazer uma máquina que já produzimos e redesenhá-la no processo de tropicalização”, explicou Leonir Vargas Belarmino, gerente geral da Oxbo no Brasil.
O processo de tropicalização passa pelo modelo de plantio das lavouras, pelas variedades escolhidas e até pelo tipo de solo para sustentar as máquinas.
No caso da laranja, o desafio é o de produzir a primeira colheitadeira em escala comercial para o Brasil, maior pomar comercial do mundo, e onde todos projetos anteriores pararam em protótipos.
Segundo Eric Oliveira, gerente comercial da Oxbo no Brasil, o projeto de desenvolvimento de uma colheitadeira de laranja nasceu na parceria entre a companhia e a espanhola Agromillora.
Uma máquina desenvolvida a partir de uma colheitadeira de azeitonas já colheu pomares em duas safras sem danificar até 99% das laranjas.
No Brasil, o desenvolvimento de uma colheitadeira de laranja começou a ser discutido com as gigantes produtoras de suco e da fruta Cutrale e Citrosuco, com o apoio técnico do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), entidade de pesquisa mantida por indústria e citricultores.
Mas, a viabilidade da nova máquina passa por um redesenho no modelo dos cultivos dos pomares, com a redução pela metade no espaçamento entre as plantas, de dois metros para um metro, e de sete metros para quatro metros entre as linhas de cultivo.
“É um novo modelo de produção, mais intensivo, com árvores menores, mas com a produtividade mantida pela quantidade de plantas. E que só será possível para os novos plantios”, afirmou o gerente comercial.
Mas, na opinião dele, diante da escassez da mão-de-obra intensa para laranja, a mecanização é irreversível também na cultura.
Raio-X
Com sede em Roosendaal, Holanda, a Oxbo nasceu de uma série de fusões e aquisições de outras companhias produtoras de máquinas agrícolas.
Presente em 40 países, a empresa conta com duas fábricas na Europa e cinco nos Estados Unidos. São cerca de 1.300 funcionários e aproximadamente 400 milhões de Euros em receitas anuais.
A operação no Brasil, única fábrica fora do Hemisfério Norte, faturou R$ 200 milhões, com 70 funcionários em cada unidade até o fechamento da fábrica gaúcha. Segundo a empresa, todos os trabalhadores de Cruz Alta foram convidados, mas apenas 20 aceitaram a transferência para Uberaba.
“Aprendemos há muito tempo que temos de ouvir e estar perto do cliente e essa é a razão da mudança. Infelizmente tivemos de deixar alguns dos nossos que não quiseram ou não puderam se mudar para Uberaba”, disse o CEO global da Oxbo, Roel Zeevat.