O empreendedorismo é cada vez mais falado e praticado no Brasil, principalmente com os avanços tecnológicos das últimas décadas, que permitem começar uma atividade empresarial apenas com um notebook ou até com um celular.

Mas como era empreender no agronegócio em plena década de 1970? E no meio do Cerrado, que começava a atrair pessoas depois da fundação da nova capital brasileira, Brasília, cerca de uma década antes?

O livro “Uma Visão sobre Goiás”, escrito pela jornalista Valdete Cecato com coordenação de Maurício Eugênio, foi idealizado pela empresária Ana Flávia Machado. A obra trata de um exemplo bastante relevante sobre como era essa realidade, contando principalmente a história do pai de Ana Flávia, Agripino Bastos Santos, que naquele período montou a Agroquima, hoje uma das maiores distribuidoras de produtos agropecuários do país.

“Naquele tempo, a fundação de Brasília abriu diversas oportunidades para quem chegava na região. Meu pai trabalhou por um tempo em uma empresa de reflorestamento, que contava com incentivos fiscais”, conta Machado.

Posteriormente, Santos conheceu aquele que se tornaria seu sócio, o zootecnista Eloy Barsi, que já tinha uma pequena loja de produtos agropecuários em Goiânia. “Ele comprou uma parte, e colocou dinheiro para expandir os negócios”, conta ela, hoje CEO da AFS Incorporação & Conceito.

Ana Flávia Machado também é sócia da Agroquima, mas não participa do dia a dia da empresa, se dedicando à sua empresa do ramo imobiliário.

O livro foi lançado nesta quarta-feira, dia 24 de março, no Promenade, projeto da AFS que inclui duas torres residenciais de luxo em um bairro nobre de Goiânia, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 400 milhões.

A obra de Ana Flávia tem 20 páginas que contam a história de Agripino Santos, com a sua relevância para o desenvolvimento econômico do estado de Goiás. As outras 180 páginas são dedicadas a imagens do estado, produzidas pelo premiado fotógrafo João Farkas, ressaltando principalmente o bioma do Cerrado juntamente com as paisagens agrícolas.

A empresária conta que não é exagero dizer que seu pai foi fundamental para tornar Goiás um estado de grande relevância econômica para o Brasil hoje. Goiânia se tornou, inclusive, a terceira capital do país em termos de lançamentos imobiliários nos últimos anos, atrás somente de São Paulo e Rio de Janeiro.

“O solo do Cerrado era praticamente desértico, era muito difícil conseguir desenvolver pasto ou outras culturas. Ele começou a encabeçar pesquisas, juntamente com seu sócio e com a Embrapa, para melhorar o perfil do solo no estado”, conta Machado.

Um dos grandes problemas do solo goiano até o último quarto do século XX era a elevada acidez. Uma comparação feita no livro era com o solo do estado do Paraná, que também era ácido pela alta presença de alumínio. Mas em Goiás, a acidez na terra era tão alta, que nem o alumínio constava na composição.

A solução encontrada foi o uso de calcário, para suprir a ausência de cálcio e magnésio. O gesso também foi utilizado para melhorar a qualidade do solo em Goiás. Com o tempo, as pesquisas ajudaram a implementar outras soluções que tornaram o estado um dos maiores produtores de soja do país.

A empresária Ana Flávia Machado, filha de Agripino e idealizadora do livro

Sonho empreendedor

Qualquer pequeno empresário sonha em se tornar, no mínimo, relevante dentro do seu setor de atuação. Ao completar 55 anos em 2024, é possível dizer que a lojinha criada por Agripino Bastos Santos se transformou em uma grande empresa de alcance nacional.

A Agroquima tem atualmente 25 lojas e rompeu as fronteiras goianas, com unidades em Mato Grosso, Minas Gerais, Maranhão, Tocantins e Pará.

A companhia afirma que se tornou a maior cliente da gigante multinacional Corteva na América Latina.

Além de atuar em distribuição, a Agroquima tem dois produtos de marca própria. O Sal Fosquima, para nutrição animal, e a Sementes Agroquima, para pastagens. Ana Flávia cita o Sal Fosquima como uma das grandes criações de Agripino. “Foi algo revolucionário na época”.

Agripino Bastos Santos faleceu há cinco anos, e até por isso, Ana Flávia decidiu fazer essa homenagem ao pai. “Acho importante também mostrar a história de Goiás, um estado que foi desenvolvido pelo agronegócio. Claro, poderia ter outros caminhos. Mas foi esse setor, muito ajudado pelo meu pai, que faz o estado ser o que é hoje”, diz a empresária.

Confinamento em Goiás, na lente de João Farkas