A marca Stine, que é líder em genética de soja nos Estados Unidos, viu no crescimento rápido da produção de grãos no Brasil uma oportunidade para fazer o atual faturamento da América Latina, de US$ 100 milhões, chegar a US$ 300 milhões no prazo de dois anos.
Em entrevista ao AgFeed, o presidente da Stine da América Latina, o argentino Ignacio Rosasco, disse que a meta deve ser atingida principalmente pelo avanço do milho segunda safra, já que nesta cultura a empresa vem comercializando sementes no mercado brasileiro desde 2018. Em soja, a entrada da marca é mais recente, mas com perspectivas ousadas.
"Acreditamos que por pelo menos três anos a maior parte da nossa receita virá do milho, não apenas pelo crescimento da cultura, mas também porque estamos no mercado brasileiro há quatro anos, com diversas variedades de sementes disponíveis”, relatou Rosasco.
Ao mesmo tempo, os planos da Stine contam com o crescimento no mercado de sementes de soja, segmento mais recente da empresa por aqui, mas que já está trazendo bons frutos.
"Como a Stine tem o maior banco de germoplasma de soja do mundo, foi um processo muito rápido para fazer a adaptação”, destacou Ricardo Reis, líder de marketing da empresa, que também participou da conversa com o AgFeed. “Começamos na soja no Brasil em 2018 e este ano já estamos lançando as primeiras três variedades”.
Reis afirma que as esses lançamentos já estão entre as cinco variedades com melhor desempenho na safra atual, o que praticamente coincide com a meta da empresa desde que chegou ao Brasil que era estar no grupo das cinco maiores no mercado local.
Na soja, a Stine é proprietária não apenas do germoplasma mas também de variedades que usam as biotecnologias Enlist E3 e Conkesta E3, desenvolvidas em parceria com a Corteva Agriscience.
Rosasco destaca que a tecnologia Enlist já está sendo adotada por mais de 50% dos produtores nos Estados Unidos. No Uruguai está em 20%, na Argentina, 10% e no Brasil ainda fica em 5%, o que indicaria um grande potencial de crescimento.
A primeira revendedora de sementes Stine no Brasil foi a Summit distribuição, ligada ao fundo norte-americano que foi o responsável pela instalação da FS Bionergia, uma das maiores produtoras de etanol de milho do País.
Na época, o Summit Agricultural Group se associou à Fiagril para criar a FS. Mas os executivos garantem que a Summit, até hoje, não tem participação acionária na Stine. “Essa parceria ocorre porque, no momento da decisão de investir na FS, os gestores da Summit Ag ficaram muito próximos do fundador Harry Stine, que acabou sendo um dos principais investidores, ajudando a viabilizar os investimentos nas plantas de etanol da região”, explicam.
Este também seria o motivo para que a Stine escolhesse Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, para sua primeira sede no Brasil, contando com a maior demanda por sementes de milho gerada pelos investimentos no etanol.
Atualmente, a empresa já estabeleceu outras parcerias com distribuidores e vem ampliando também a rede de sementeiras, multiplicadores e produtores, que fazem parte de um programa de benefícios chamado de “Clube Stine”.
A área de atuação já abrange Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Pará e a região do Matopiba. A meta é lançar também variedades para a região Sul do Brasil até 2026.
"A Stine avalia mais de 1 milhão de variedades por ano globalmente, o que justifica este foco que temos em genética, ressalta Rosasco. “Claro que 90% acabam descartadas e somente cerca de 3% realmente chegam ao mercado comercialmente".
O executivo não revela qual o faturamento global da empresa, nem o valor do investimento que vem sendo feito no Brasil, alegando que a Stine é uma empresa "familiar, de capital fechado”.
Para o líder de marketing, a parceria com as sementeiras foi fácil porque a maioria já conhecia a marca, por meio de visitas que costumam fazer aos Estados Unidos.
Market share x preços mais baixos
A Stine admite que também está enfrentando o problema relatado por outros fornecedores de insumos, que é o atraso nas compras por parte dos produtores rurais. Recentemente a Boa Safra Sementes disse ao AgFeed que já registra uma postergação de 20% no ritmo dos pedidos para a temporada 2023/2024.
A decisão de adiar a compra da semente está relacionada com o momento de preços mais baixos para o milho e para a soja, na comparação com os últimos dois anos.
"Mesmo assim, seguimos confiantes de que o mercado vai retomar. Este momento pode ser até positivo para a empresa, é um momento em que o produtor busca alternativas que ofereçam um melhor custo beneficio. Acho que poderá ficar mais aberto para avaliar e testar novas marcas, como a Stine, que está chegando agora no Brasil", afirmou Ricardo Reis.
Para o presidente da Stine, a recente queda nos preços das commodities não interfere no crescente aumento da produção, porque os produtores estão capitalizados. “No caso do milho, os valores atuais ainda representam o dobro ou triplo do que se praticava há cinco anos", lembra o executivo.
Neste cenário, a empresa mantém a meta de alcançar 20% de market share na soja e 15% no milho no prazo de meia década.
Embora não revele exatamente qual é o faturamento do Brasil, Ignacio Rosasco disse que cerca de 60% do faturamento atual de US$ 100 milhões na América Latina vem da Argentina e que o restante se refere ao Brasil.
Ele admite que, quando chegar ao objetivo de US$ 300 milhões, dentro de dois anos, a maior fatia estará com o Brasil, onde estão as maiores oportunidades de crescimento.