A crescente preocupação com a correção do solo e o melhor aproveitamento dos fertilizantes na agropecuária tem favorecido os negócios do grupo Caltec, de Curitiba-PR, que tem como principais marcas no agro a Fertimacro e a Agrolitá.
A empresa tem como carro-chefe os chamados óxidos – principalmente de cálcio, magnésio e enxofre – que servem como complemento aos fertilizantes tradicionais conhecidos pela formulação NPK (nitrogênio, fósforo e potássio).
"Oferecemos uma tecnologia que está se consolidando, a ferticorreção, um sistema de manejo e nutrição que ajuda a aproveitar melhor os nutrientes que estavam no solo e também diminuir as perdas naturais, como por exemplo, a lixiviação", explicou o CEO da Caltec, Carlos Eduardo Furquim Bezerra, em entrevista ao AgFeed.
Estas soluções agrícolas foram "a reinvenção" do grupo Caltec que, na prática, começou com o empreendedorismo do avô de Carlos, no final da década de 1940.
Na época, Jeovah Furquim ajudava o carvoeiro da Maria Fumaça que ligava Rio Branco do Sul a Curitiba e iniciou um serviço de transporte na região, com uma carroça, que depois foi trocada por um forno de “cal virgem”. Era o início de uma grande empresa de calcário.
Na década de 1990, já com nome de Caltec, a empresa foi crescendo principalmente ao fornecer um tipo de cal diferente, que era formulado com óxido de magnésio e óxido de cálcio. Uma das principais aplicações era na clarificação do caldo de cana e passou a ser amplamente utilizado pela indústria sucroalcooleira.
A siderurgia também era importante cliente e há cerca de 10 anos o forte da empresa era uma usina de processamento de biomassa, que transformou a Caltec em autossuficiente em energia térmica consumida durante o processo de calcinação da cal dolomítica.
"Porém em 2015 nós perdemos um grande contrato que tínhamos com a Eletrobras, para tratamento de gases na usina termelétrica, precisamos fazer um downsize importante e buscar novas alternativas de mercado”, contou Bezerra.
Foi então que o empresário percebeu o crescente interesse pelo uso dos óxidos na agricultura, criando ainda em 2015 um primeiro produto direcionado ao setor.
"Abrimos os olhos, afinal outros estavam começando a oferecer estes produtos e sabia que nós é que entendíamos de cálcio e magnésio", afirma.
Mais tarde veio a divisão agrícola, chamada de Fertimacro, hoje com produtos direcionados principalmente ao cultivo de soja e pastagens.
"No setor da cana-de-açúcar também crescemos bastante afinal a marca Caltec já era conhecida nas usinas, porque seguimos fornecendo os insumos industriais", diz o CEO.
A empresa ainda conta com uma mineradora e depois atua nos demais processos, de beneficiamento até a produção dos fertilizantes.
Obras de ampliação da fábrica que fica na região metropolitana de Curitiba estão sendo finalizadas este ano, com investimento de R$ 46 milhões. Segundo Bezerra, são movimentados lá cerca de 1,5 milhão de toneladas de produto por ano.
Atualmente, o mercado agro já representa 60% do faturamento da Caltec. A receita foi de R$ 230 milhões no ano passado e deve chegar a R$ 306 milhões em 2023. Além da Fertimacro, o grupo também criou outra divisão agrícola, a Agrolitá, com produto direcionados aos produtores de hortifrúti.
O segredo para seguir crescendo, apesar dos preços mais baixos das commodities este ano, segundo ele, foram os lançamentos. O principal deles foi um granulado que permite uma mistura homogênea com o NPK. Já os produtos tradicionais da empresa, mais vendidos, são os refinados ou "fertilizantes em pó”, para a aplicação no solo.
Próximos passos
Apesar de acreditar que o uso de produtos da mineração tradicional jamais vai se esgotar, Carlos Bezerra diz estar “antenado” nas principais tendências sustentáveis do setor de insumos.
Em biológicos admite que costura parcerias, mas ainda não lançou nenhum produto. Mas a empresa deve inaugurar em 2024 um novo Centro de Inovação em Ciência e Tecnologia (CIT), em uma área de 3700 metros quadrados, também em Curitiba. Para isso, vai investir R$ 15 milhões.
"Lá as pesquisas devem focar em adubos verdes e a partir daí pensamos em acessar recursos de incentivo para isso, via Plano Nacional de Fertilizantes”, revela.
Para seguir expandindo, o CEO diz que a Caltec tem usado “produtos de prateleira” nos bancos, como financiamento. Acredita, porém, que em breve possa acessar outras ferramentas como os CRAs – Certificados de Recebíveis do Agronegócio – já que vende seus produtores diretamente a produtores e cooperativas.
Outra aposta é o mercado de biogás. A Caltec já trabalha com as usinas no tratamento da vinhaça e vê oportunidades futuras “na geração de nitrogênio no campo, já que é impossível o Brasil seguir importando tanto se temos esta ampla oferta”, disse o executivo.
No longo prazo, Carlos Furquim Bezerra acredita no avanço das pesquisas sobre a “biomineração”. Segundo ele, são bactérias que consegue agir em uma rocha onde, por exemplo, o fósforo está indisponível, permitindo que o nutriente seja extraído e absorvido pelas plantas.
Hoje o processo tradicional utiliza ácido, que leva ao cloreto de potássio. “Mas isso sabemos que está sendo estudado apenas, não conheço projetos já operando”.