No ano de 2024 da Katira, um percentual cabalístico ditou a operação tanto para o bem quanto para o mal: 23%.
A companhia paulista que atua na produção e comercialização de limões tahiti teve, ao mesmo tempo, uma queda de 23% na colheita dos frutos e uma alta de 23% nas vendas, ambos em relação a 2023.
Como isso foi possível? Além da alta dos preços, houve um reforço na estratégia de compra de terceiros.
Segundo explicou Júlio César Del Grossi, diretor comercial da Katira e representante da terceira geração da família fundadora, 2024 foi marcado por extremos climáticos.
Da última vez que Grossi havia conversado com o AgFeed, em abril do ano passado, a empresa ainda não sabia o ano desafiador que viria pela frente, mas, a partir do segundo trimestre, a área produtiva de 850 hectares da empresa, localizada em Taquaritinga (SP), foi alvo de ondas de calor, impactando negativamente a produção.
A produção própria de limões tahiti, carro-chefe do negócio, ficou em 440 mil caixas de 27,2 quilos (23% menor) no ano passado, segundo Grossi.
“No ano passado, a nossa região teve uma seca severa, enquanto a região Sul do País teve uma chuva severa, o que tem se invertido neste começo de 2025. A seca impacta a produção, pois esse tempo diminui a quantidade de frutos por árvore”, explicou.
Para compensar e chegar a um patamar de 1 milhão de caixas comercializadas, a empresa acelerou a compra de produtores terceiros. O faturamento da empresa fechou 2023 em R$ 64 milhões e, com o avanço na comercialização, ficou próximo aos R$ 80 milhões em 2024.
A Katira não foi a única a ser impactada pelo clima e a dificuldade produtiva também foi vista no mercado. Segundo dados do Cepea, a caixa da lima ácida tahiti colhida em Araraquara (SP) estava cotada a R$ 18,64 no começo de 2024. No final do ano, o preço era de R$ 34,43, alta de 84%.
Como o cultivo é perene, com cerca de 10 períodos de colheita por ano, o preço no mercado é bastante volátil e, na média, ficou em R$ 39,76. Ao final de 2024, a caixa chegou a custar mais de R$ 100, segundo o Cepea.
Ainda é cedo para prever a produção de 2025, mas os primeiros meses do ano trazem indícios positivos.
De acordo com Júlio César Del Grossi, as lavouras têm encarado chuvas mais volumosas do que na mesma época do ano passado, impactando positivamente os frutos colhidos e as próximas colheitas.
“Por enquanto a chuva ajuda, mas já prevemos ondas de calor nos próximos meses. Até agora, o início do ano tem sido mais positivo, em relação ao clima, do que no ano passado”.
“2025 começou melhor, tanto nas receitas quanto na produtividade. A gente espera que o clima não impacte tanto, e por consequência, o consumidor sentirá esse menor impacto do clima”, acrescentou.
No campo, Grossi explica que a Katira tem feito algumas mudanças no manejo para combater a seca. Uma delas é a roçagem ecológica do mato, que funciona num esquema parecido com o da palhada no cultivo de grãos.
A empresa colhe esse “mato” e joga na chamada “saia” do limão, próximo ao pé do fruto, o que deixa o solo protegido e menos suscetível ao clima quente. “É um microclima favorável e ocorre uma menor perda de água”, diz.
Outra mudança está no período de pulverização, que nessas épocas quentes, é feito ou no começo do dia ou no começo da noite, quando o sol está mais brando. A Katira ainda faz irrigação e fertirrigação nas plantas, o que minimiza os impactos da falta de chuva.
A empresa ainda está em vias de começar a construção de uma nova packhouse, que deverá aumentar a capacidade de processar cerca de 300 toneladas de limão por dia. Hoje, são pouco mais de 100 toneladas com a unidade atual.
A Katira vai investir R$ 25 milhões na nova unidade e projeta que, com o avanço no processamento, poderá atuar também com exportação de limões.
“Ainda estamos na fase de orçamento do galpão e maquinário e esperamos começar a construção este ano, para terminar no começo do ano que vem”, diz.
Aqui no Brasil, a empresa vende para diversos estados, com destaque para o estado de São Paulo.
Por empresa, a companhia vende para grandes redes de varejo e atacarejo como Max Atacadista, do Grupo Muffato, Atacadão, Assaí e Sonda Supemercados, por meio de distribuidores de frutas que atendem esses mercados.
O destaque fica com o GPA, dono dos supermercados Pão de Açúcar e Carrefour. No segundo, a empresa é responsável pela produção dos limões de marca própria das lojas.