No topo da lista, a Vert Securitizadora, com R$ 516 milhões. Na última linha, a Kurica Ambiental, com irrisório R$ 0,01. Entre elas, mais de 2,5 mil nomes de empresas de uma infinidade de segmentos e portes, além de pessoas físicas, inclusive funcionários da empresa. Total da conta: R$ 4.156.084.411,11.

Esse é, de forma bem sintética, o teor da relação de credores entregue pelo grupo de distribuição de insumos AgroGalaxy à 19ª. Vara Cível e Ambiental de Goiânia (GO), dentro do pedido de recuperação judicial ajuizado na quarta-feira, 18 de setembro, tendo como partes 13 diferentes empresas que fazem parte do grupo.

Além da AgroGalaxy Participações, listada na B3, constam nomes de companhias que foram adquiridas ao longo dos últimos anos, como Rural Brasil, Grão de Ouro, Agro Ferrari, Agrocat, e Campeã Agronegócios S.A., razão social da empresa de sementes do grupo.

Um olhar mais profundo no documento – protocolado pelos escritórios de advogados Galdino e GMPR, que representam o AgroGalaxy, e registrado com o número 21 dentro do processo número 5887803-78.2024.8.09.0051 – ajuda a dar uma ideia do impacto brutal que o movimento da companhia deve causar ao setor.

A lista de credores pode ser apenas o fio de uma meada de dificuldades em cadeia, já que a relação mostra uma série de empresas que já vinham, de alguma forma, enfrentando as dificuldades provocadas por um mercado em retração e que contavam com os valores a receber do AgroGalaxy para honrar seus compromissos.

Um raio X na lista encontra a grande maioria das grandes empresas de insumos e fertilizantes, os principais bancos e nomes de peso no mercado de capitais. Doze delas têm mais de R$ 100 milhões a receber.

A Vert, que encabeça a lista, é um exemplo claro disso. A empresa é a principal emissora dos CRAs utilizados pelo AgroGalaxy para captar recursos o financiamento de sua operação. Foram mais de R$ 800 milhões emitidos nos últimos dois anos desde 2022.

As outras duas grandes securitizadoras do mercado, Ecoagro e Opea, também estão entre os primeiros nomes da lista, com R$ 15,3 milhões e R$ 148,8 milhões em créditos a receber, respectivamente.

Ainda no mercado de capitais, fundos e agfintechs que atuavam junto à empresa, com injeções de recursos no caixa ou na captação para a posterior oferta de crédito aos produtores na aquisição dos insumos, estão entre os maiores valores de dívidas.

A maior exposição é do Agrofundo Brasil, gerido pela Aqua Capital, controladora da AgroGalaxy, que tem R$ 152 milhões listados.

Depois dela vêm a Agrolend, com R$ 61 milhões, seguida do FIDC Agro Citi-Bayer, com R$ 58,8 milhões. Já a fintech Terra Magna, que estruturou o chamado “Fiagro do AgroGalaxy”, com patrimônio de R$ 1 bilhão e que corre o risco de ser liquidado pelos cotistas, tem crédito de R$ 28 milhões.

O segundo principal credor, segundo o documento, encabeça a lista dos bancos com valores a receber. Trata-se do Banco do Brasil, com quem o AgroGalaxy tem um passivo de R$ 391 milhões. Santander (R$ 273 milhões), Citibank (R$ 106 milhões) Banco Industrial do Brasil (R$ 71,8 milhões) e Itaú BBA (R$ 70,8 milhões) completam o top 5 das instituições financeiras credoras.

A grande maioria das empresas nas primeiras das 35 páginas da relação é formada por fabricantes de insumos – fertilizantes, sementes, defensivos químicos e biológicos. Com cerca de 30 mil clientes cadastrados, o AgroGalaxy era um canal considerado valioso de distribuição por muitos, de gigantes globais a grupos nacionais especializados.

As maiores dívidas da companhia são com os fabricantes de fertilizantes, que movimentavam maiores volumes de produtos – embora, nos últimos meses, os executivos do AgroGalaxy diziam estar reduzindo as vendas de adubos, que oferecem menores margens aos varejistas.

Somente com a Fertilizantes Tocantins (Eurochem), o passivo registrado no documento é de R$ 371 milhões – a dívida original é em dólar, com seu valor (US$ 68 milhões) convertido pelo câmbio de R$ 5,40). Também controlada pela grupo europeu, a Heringer aparece na relação com um crédito de R$ 19 milhões.

Nesse segmento, a lista segue com Mosaic (R$ 119 milhões), Cibra (R$ 43 milhões), e Fertipar (R$ 42 milhões).

Entre as indústrias químicas, há oito grandes grupos entre os 25 maiores credores. A americana FMC é o que acumula o maior volume de pagamentos pendentes do AgroGalaxy, somando R$ 163,6 milhões, seguida pela Albaugh, com R$ 139 milhões.

A chinesa Rainbow, que tem buscado expandir negócios no País, é credora de R$ 116 milhões. Depois dela vêm a indiana UPL (R$ 77 milhões), a israelense - hoje controlada por chineses - Adama (R$ 66 milhoes), a japonesa Sumitomo (R$ 55,9 milhões) e a alemã Basf (R$ 40 milhões).

Outra gigante alemã, a Bayer foi uma das primeiras a deixar de comercializar seus produtos pela rede do AgroGalaxy. As duas empresas anunciaram o fim de sua parceria comercial em março passado. Ainda assim, a empresa ainda tem a receber R$ 12,8 milhões, através da sua controlada Monsanto S.A..

No universo dos insumos biológicos, uma das teses que desperta maior interesse do Aqua Capital, a proximidade corporativa fez da Biotrop a empresa mais atingida pela RJ do AgroGalaxy. A companhia fundada por Antonio Carlos Zem era controlada pelo Aqua até setembro do ano passado, quando foi arrematada pelo grupo belga Biobest por R$ 2,8 bilhões.

Zem continou no comando da empresa e manteve o relacionamento comercial com a rede de revendas da gestora, um de seus principais canais de distribuição. Essa relação só foi rompida na última quarta-feira, pouco antes de ser protocolado o pedido de RJ. Então, a dívida do AgroGalaxy com a indústria de bioinsumos já havia atingido R$ 115 milhões.

Depois da venda da Biotrop, a principal aposta do Aqua no segmento é a Solubio. Especializada na comercialização de soluções de produção on farm, a empresa é menos dependente do varejo para distribuir seus produtos. Ainda assim, aparece na lista de credores, com um valor de R$ 7,5 milhões a receber.

Acima dela, nesse segmento, estão a israelense ICL (R$ 39 milhões) e a paranaense Superbac (R$ 28 milhões), outra empresa que enfrenta dificuldades financeiras e pode fazer com que o efeito AgroGalaxy se alastre, indiretamente, para outros círculos.